BrooklinFest 2025: 200 anos da imigração alemã em São Paulo - Revista Esquinas

BrooklinFest 2025: 200 anos da imigração alemã em São Paulo

Por Blume Durães : novembro 25, 2025

Com mais de 260 barracas, a gastronomia se confirmou como o ponto de convergência de diferentes povos. Foto: Blume Durães

Festa reúne mais de 130 mil pessoas, celebra o bicentenário da imigração alemã e destaca a diversidade cultural que marca o Brooklin

A 29ª edição da BrooklinFest ocorreu no último final de semana, reafirmando seu papel como um dos maiores eventos culturais e gastronômicos de São Paulo. Realizada entre as ruas Joaquim Nabuco, Princesa Isabel, Barão do Triunfo e Bernardino de Campos, a festa reuniu mais de 130 mil pessoas nos dias 15 e 16 de novembro em uma celebração vibrante, que neste ano ganhou um significado especial ao homenagear o Bicentenário da Imigração de Povos de Língua Alemã no Brasil (1824–2024) e os 150 anos do escritor alemão Thomas Mann.

Raízes e Memória da Imigração Alemã

O evento de 2025 destacou o marco de 1824, ano que simboliza a chegada dos primeiros imigrantes de língua alemã ao Brasil, uma jornada que, ao longo de dois séculos, influenciou o desenvolvimento de diversas regiões. No Brooklin, essa herança se manifesta na longevidade de estabelecimentos como o bar Zur Alten Mühle e na identidade visual do bairro. A revitalização urbana entre 2001 e 2004 reforçou essa presença: o calçamento com as cores da bandeira alemã e as floreiras em formato de barril de chope transformaram o quadrilátero da festa em um monumento vivo à imigração. A festa, que nasceu na década de 1990 a partir de uma iniciativa do Clube Lojista Brooklin (atual AEMB) para fortalecer o comércio, hoje integra o calendário oficial da cidade e do estado como uma vitrine de arte e cultura.

Arte e Homenagem a Thomas Mann

A curadoria da BrooklinFest 2025 reforçou o conceito de que “a arte é uma ponte… o encontro entre culturas que transformam o que somos”, segundo o curador Luiz Delfino. A programação, com impressionantes 120 atrações distribuídas em quatro palcos — Palco Orquestra, Palco Multicultural, Biergarten Berna e o Espaço Playmobil — foi um espetáculo de diversidade.

A tradição alemã brilhou com as apresentações dos grupos Edelweiss e Alpenrose, que trouxeram danças folclóricas e a sonoridade típica austro-alemã, como a gaita de foles. No entanto, o palco se abriu amplamente para a pluralidade: jazz, MPB, música instrumental, corais e a presença dos coloridos Bonecos de Olinda. Além disso, a edição dedicou atenção especial aos 150 anos de Thomas Mann. O aclamado escritor de A Montanha Mágica foi tema de exposições e performances, buscando conectar a profundidade da literatura clássica alemã com o público brasileiro.

Gastronomia e Diversidade Cultural

Com mais de 260 barracas, a gastronomia se confirmou como o ponto de convergência de diferentes povos. O público que buscava os sabores da Baviera encontrou clássicos alemães: o famoso joelho de porco servido com bisteca defumada, os salsichões variados e o típico bolinho de carne conhecido como Bouletten. Nas opções doces, o strudel tradicional ou servido com sorvete foi um dos destaques.

Mas, em sintonia com o espírito paulistano, o cardápio foi global. “O que eu amo é a variedade: você come joelho de porco e, na próxima esquina, acarajé”, relatou Fernanda, moradora da Zona Sul, destacando a pluralidade do festival. A culinária portuguesa, pratos espanhóis como a paella, opções orientais (chinesas e japonesas) e a forte presença da gastronomia brasileira (tapioca, acarajé e doces regionais) reforçaram o caráter multicultural do evento.

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Histórias da Comunidade do Brooklin

A essência comunitária da festa foi ilustrada pelos relatos de quem vive no Brooklin e participa do evento há anos. Moradora do Brooklin desde o nascimento, Maria Célia tem uma loja de pijamas no bairro e, em 2014, participou da feira como expositora ao lado da filha. “Não se vende muito na feira, mas ela traz visibilidade para a loja. E, para ser sincera, eu gosto mesmo é de ir passear”, conta Maria.

Sua filha expressou com carinho a memória da experiência: “Eu era pequena e sempre gostei de aventuras. No ano em que participamos como expositoras, distribuí folhetos vestindo pijamas da loja, comi espetinho de morango com chocolate e fui no pula-pula!”.

Outro destaque foi a escritora Joselene Negra Black, autora de Costurando Retalhos, que representou a força da literatura preta contemporânea. Sua participação em saraus e ações literárias simbolizou a proposta de fazer da palavra uma ponte entre diferentes culturas, dando visibilidade à arte periférica.

Infraestrutura e Organização

A organização do evento também foi elogiada pelo público. A BrooklinFest 2025 manteve áreas dedicadas exclusivamente às crianças — o Espaço Criança-Brincar — com contação de histórias e atividades lúdicas. A segurança e a organização do fluxo de pessoas nas ruas Joaquim Nabuco, Princesa Isabel, Barão do Triunfo e Bernardino de Campos garantiram um ambiente seguro e agradável, essencial para a circulação dos mais de 130 mil visitantes.

Um Encontro de Culturas em Expansão

A BrooklinFest 2025 encerrou sua 29ª edição como um marco na história da Zona Sul de São Paulo. Ao celebrar os 200 anos da Imigração de Povos de Língua Alemã e os 150 anos de Thomas Mann, a festa demonstrou que o legado cultural germânico não é apenas uma lembrança, mas um ponto de partida para o diálogo. Entre o aroma do currywurst e do acarajé, a sonoridade das orquestras e a poesia periférica, o festival reafirmou sua vocação: ser um espaço onde o passado se encontra com a força transformadora da cultura contemporânea. No coração do Brooklin, a festa não é apenas uma tradição; é a prova viva de que a identidade paulistana é construída pela soma de todas as suas histórias. E, a julgar pela multidão de mais de 130 mil pessoas, esse encontro de culturas só tende a crescer nas próximas edições.

Editado por Enzo Cipriano

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