“Bacurau” é exemplo de cinema de resistência e de valorização cultural - Revista Esquinas

“Bacurau” é exemplo de cinema de resistência e de valorização cultural

Por Caroline Santini : agosto 27, 2019

Com fortes críticas sociais, Bacurau domina o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2020 e se transforma em um manifesto no cenário audiovisual do Brasil e do mundo

Aclamado pela crítica internacional e nacional, Bacurau é vencedor do Prêmio do Júri na 72ª edição do Festival de Cannes e é um dos selecionados para mostra principal do New York Film Festival. O filme escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho, o terceiro longa de sua carreira, e Juliano Dornelles que faz sua estreia como diretor de longa-metragem, traz simbologias genuinamente brasileiras, apresentando um enredo envolto em muita união e resistência.

A história se passa em futuro distópico, no sertão de Pernambuco, em um povoado chamado Bacurau que dá o nome do filme. A cidadezinha fictícia quase esquecida no nordeste do Brasil sofre diversos boicotes, chegando até a ser retirada dos mapas oficiais. Já sem sinal de celular, abastecimento de água e com escassez de mantimentos e remédios, a situação se agrava quando forasteiros norte-americanos chegam até o local. O mistério dá início quando, após a chegada dos gringos, assassinatos começam a ocorrer e os moradores do local unem forças para sobreviver, montando uma força tarefa em equipe.

Apesar de Kleber Mendonça afirmar na coletiva de imprensa feita em São Paulo no dia 20 de agosto que não teve a intenção de passar nenhuma mensagem social, Bacurau é uma dura crítica ao Brasil que se vende aos estrangeirismos. O filme traz metáforas e situações que ressaltam a importância de prezar e defender a cultura brasileira.

O longa mostra personagens diversos, mas não tem a intenção de aprofundar a psicologia dessas pessoas. Interessa construir uma comunidade plural – composta por uma médica idosa e lésbica, uma travesti, um professor, uns feirantes, um proprietário de um carro de som que serve de informante da cidade e um bandido carismático – que se une para lutar pelos seus.

O elenco formado por Sônia Braga, Thomas Aquino, Barbara Colen, Silvero Pereira, Karine Teles e outros grandes nomes, é a confirmação de que Bacurau é uma obra completa. Braga faz o papel da médica Domingas. A personagem interpretada com excelência reafirma que a parceria entre Braga e Kleber Mendonça Filho gera ótimos frutos, a exemplo da sintonia entre diretor e atriz no filme Aquarius (2016). O papel de vilão principal é realizado pelo alemão Udo Kier, famoso por interpretar diversos vilões em filmes de Hollywood. Seu personagem, mentor e líder dos forasteiros assassinos, é de poucas palavras, mas que prende a atenção do público que tem curiosidade de desvendá-lo.

Bacurau é diferente do que estamos acostumados a conferir no cinema nacional e apresenta características ficcionais ainda pouco exploradas por aqui. O longa mistura gêneros como o faroeste norte-americano, a ficção científica e, até mesmo, há quem o compare com os filmes de Quentin Tarantino, pois não economiza nas cenas de morte e violência.

Vencedor nos festivais de cinema de Munique, na Alemanha, e em Lima, no Peru, Bacurau com certeza chegará aos cinemas nesta quinta (29) para deixar sua marca.