O festival de cinema ocorreu de 22 de outubro a 4 de novembro de forma totalmente online
Obrigada a se reinventar em 2020, a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ocorreu de forma predominantemente virtual pela primeira vez em 44 anos. Ao todo, foram 198 filmes vindos de 71 países diferentes.
O evento ocorreu do dia 22/10 a 4/11, e os temas que dominam a pauta do mundo atual, como o meio-ambiente e a pandemia de COVID-19, se misturaram com produções mais históricas, pessoais e intimistas.
Neste ano, o cineasta homenageado é o brasileiro Fernando Coni Campos. O diretor baiano tem três filmes em exibição, com destaque para Viagem ao fim do Mundo, de 1968, protagonizado por Fábio Ferrari Porchat de Assis, pai do comediante de mesmo nome.
Destaques da Mostra
Dialogando como assunto mais comentando do momento, o documentário Coronation, do cineasta chinês Ai Weiwei, aborda a brutal contenção do vírus em Wuhan, primeiro epicentro da doença no mundo.
Já do outro lado do planeta, o Brasil está representado por 30 filmes. Dentre eles, destacam-se Todos os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra, que aborda o racismo estrutural brasileiro em uma ambientação do século XIX; e Cidade pássaro, coprodução entre Brasil e França que recebeu aplausos no Festival de Berlim e conta a história de um cantor nigeriano que vem a São Paulo em busca de seu irmão.
A presença feminina também é marcante na Mostra, com 44 filmes dirigidos por mulheres. Entre eles estão Miss Marx, longa italiano dirigido por Susana Nicchiarelli; e Shirley, da diretora estadunidense Josephine Decker, estrelado por Elizabeth Moss. Todos os longas foram premiados internacionalmente. Nomes brasileiros também aparecem na lista, como Lucia Murat (Ana. Sem Título) e Moara Passoni (documentário Êxtase).
Outros filmes que chamam atenção são o mexicano Nova Ordem, vencedor do Grande Prêmio de Júri no Festival de Veneza, e o iraniano Não há mal algum, que foi filmado em segredo e questiona a pena de morte no país.
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Importância do festival
Como aponta a historiadora e professora Vanessa Bortulucce, consumir filmes dos mais variados países e gêneros, como permite o festival, é uma forma de se pensar uma cultura diferente da nossa. “Sempre é uma catarse, a reflexão acerca da história.”
Contudo, ela também acha que a democratização do cinema precisa ser ampliada. “Muitas pessoas nunca entraram numa sala de cinema, por exemplo. É uma ilusão acreditar que as facilidades promovidas pelo streaming, por sessões online e outros recursos atinjam todos os indivíduos de forma igual. É necessário energia elétrica, conexão de internet, recursos materiais e tempo livre para experimentar o cinema”, comenta.
Vanessa ainda reitera o valor que uma Mostra tão grande tem: “Acho uma experiência importante entrar em contato com produções de todo o mundo, conhecer novos diretores, ampliar o repertório fílmico e poder conhecer narrativas que nem sempre chegam aos circuitos mais comerciais.”, finaliza.