De ativistas a engraxates: os ambulantes excêntricos da Avenida Paulista - Revista Esquinas

De ativistas a engraxates: os ambulantes excêntricos da Avenida Paulista

Por Camilla Guerreiro, Catarina Nestlehner, Gabriel Borgonovi, João Pedro Haiter, Letícia Iervolino, Ananda Miranda, Fernanda Andrade, Gabriel Caldini, Isabelli Aquino, Lorena Oliveira e Luiza Lopes : março 30, 2022

Para além das mercadorias convencionais, conheça as histórias e rostos dos ambulantes peculiares da calçada mais movimentada de São Paulo

Boa parte dos quase três quilômetros de extensão da Avenida Paulista atualmente é palco para o comércio de rua. Do artesanato às camisetas políticas, de discos antigos a arranjos de flores, de yakissoba a ingressos de teatro, parece haver espaço para tudo o que quiser vender e para todos os ambulantes.

O shopping improvisado a céu aberto no maior centro urbano do Brasil é tocado, em geral, por pessoas simples, atraídos pelo intenso fluxo de pessoas da via.

Uma profissão quase extinta

“Sempre trabalhei aqui“, diz orgulhoso Wagner Santos do Nascimento, sapateiro que, junto com outros ambulantes, ocupa há 10 anos a calçada mais movimentada da metrópole paulistana. Enquanto engraxava o calçado de um cliente, o homem de 34 anos compartilhou a experiência de atuar em plena Avenida Paulista por meio de uma profissão considerada para ele já extinta: “É o melhor lugar para trabalhar porque o público valoriza mais”, afirma.

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Placa de anúncio de serviços e ao fundo Wagner trabalhando .
Letícia Iervolino

A boca no trombone

O apelido Batista do Megafone não é por acaso: o vendedor de camisetas na esquina da estação Trianon-Masp não poupa palavras para descrever o governo Bolsonaro: “É um demônio”, “São uns canalhas, golpistas”, “A gente não almoça arma, a gente não janta arma”, foram algumas das máximas durante a breve entrevista.

O empreiteiro de 55 anos era pintor antes de chegar à avenida mais famosa de São Paulo, há mais ou menos um mês. A coleção de broches e camisetas tem uma característica obrigatória: precisa ser de esquerda. Frases exaltando a resistência, retratos de Marielle e, principalmente, de Lula.

Entre 2018 e 2019, Batista passou 580 dias na vigília durante a prisão do ex-presidente. Junto com outras pessoas, ele afirma ter “defendido a democracia”. Foi também onde começou a vender com um propósito: “Eu não vendo para enriquecer, eu vendo para continuar a luta”.

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Juntos na arte

Em frente ao shopping Cidade São Paulo está a barraca de artesanatos da Jessica Felix e de seu marido Matheus Alves. São ecléticas as pequenas peças feitas de pedras como ametista e quartzo ou de variados tipos de madeira pelos ambulantes. “Esse dragão aqui foi meu pai que fez, é de tronco de árvore. O mago do Harry Potter tem um pouco de bambu. É também um abajur”, explica.

Como camelôs, o casal costumava circular pela cidade até se estabelecer na Paulista, há 3 meses. As obras são feitas pelo próprio casal. Jessica conta que para ela foi um pouco mais difícil — seu companheiro aprendeu bem mais rápido. “Artesanato para mim é arte, cultura, para mim é maravilhoso”.

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Editado por Nathalia Jesus e Anna Casiraghi

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