São Paulo foi mais uma vez palco do maior evento de jogos independentes da América Latina, o BIG Festival
Contando com mais de 75 milhões de pessoas ligadas aos games, o Brasil apresentou faturamento de US$ 1,5 bilhão em 2018, segundo dados da Newzoo, com uma projeção de crescimento de 13,5% ao ano, acima da média mundial. Aliado a expansão do setor estão os eventos, que trazem a indústria mais próxima dos jogadores e auxiliam o espaço conquistado pelos games.
O BIG Festival acontece desde 2012, com o objetivo de fortalecer o cenário no Brasil, ao mesmo tempo que prestigia jogos independentes de todas as partes do mundo, disponibiliza gratuitamente ao público palestras, exposição de games e a tradicional cerimônia de premiação, envolvendo produções nacionais e internacionais. Confira a lista completa dos vencedores aqui.
A edição de 2019 aconteceu no Club Homs, na Avenida Paulista, entre os dias 26 e 30 de junho, com o apoio da Apex Brasil e da Abra Games. O evento de jogos independentes, o maior da América Latina, contou com 54 games na premiação e mais de 35 mil visitantes, segundos dados do próprio festival. A organização do local foi dividida entre a área destinada ao público, como estandes de desenvolvedores, e a área de negócios.
Os destaques
Dentre os games que estavam disponíveis no BIG Festival para demonstração, Sky Racket se destacou por misturar o gênero block breaker com shoot ‘em up. O jogador controla um personagem que é capaz de refletir ataques dos inimigos e desviar rapidamente. Este concorreu a melhor jogo brasileiro e melhor gameplay, porém acabou não levando o prêmio, que ficou com o game Adore. Este possui uma jogabilidade que lembra Diablo, vide a perspectiva da câmera panorâmica e o Head up display que o personagem principal apresenta, possuindo a habilidade de capturar inimigos no cenário para lutar por ele. O jogo já havia sido demonstrado no festival do ano passado.
Outro game também disponível para teste era Gris, que levou na categoria de melhor jogo. Foi desenvolvido pelo Nomada Studio e distribuído pela Devolver Digital. Discute temáticas como a depressão de uma forma sutil por meio das cores e da personagem que o jogador controla ao longo da jornada. Além de ser reconhecido como o melhor jogo do festival, Gris também ganhou o prêmio de melhor arte.
O Big Festival também reuniu jogos com um approach mais educativo. Fake News, Isto não é um jogo, é um experimento que coloca o jogador na pele de uma pessoa que tem a oportunidade de compartilhar notícias reais ou falsas. O jogo funciona como uma espécie de Tinder, basta arrastar o dedo para compartilhar a notícia ou não. Caso o jogador opte por compartilhar notícias falsas estas impactarão diretamente na conclusão da história, que pode ter finais catastróficos.
Por trás dos jogos
No espaço destinado aos negócios, membros das empresas independentes reuniram-se com representantes de companhias para o fechar parcerias. Foram disponibilizadas também sessões de conversa sobre o mercado e atendimentos voltados à economia de games. Metade do espaço total do BIG Festival foi destinado a essa área, estreitando a maior parte do público a apenas uma parte do Club Homs, o que limitou a capacidade dos locais de palestras e do número de estandes.
Em conversa com desenvolvedores independentes, todos ressaltaram a importância de existir um evento voltado a games desse tipo. Liferson Molinari, ilustrador e animador da Electric Monkeys, ressaltou o clima bacana que o evento proporciona ao público e aos profissionais, promovendo uma interação única. Também conta que o principal fator para a produção de um jogo independente é o planejamento. “A primeira coisa é planejar ao máximo o que você quer fazer e aonde quer chegar, para assim ter noção de como distribuir seu tempo e não ficar empurrando o projeto com a barriga”, diz Molinari. A Electric Monkeys atualmente desenvolve Gravity Heroes, um jogo de ação com combates de até quatro jogadores em arenas, sendo a gravidade um fator determinante para o andamento dos confrontos.
Renan Rodrigues, diretor da Supernova, tem o jogo Fertiliel financiado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine). “Nós estamos criando um gênero, misturando elementos já existentes. O nosso jogo tem uma certa inspiração nos simuladores de namoro japoneses, mas aqui o jogador é o cupido”, explica Rodrigues sobre o game. Com previsão de lançamento para 2020, possui elementos de RPG e o jogador poderá customizar os personagens colocando imagens de pessoas famosas e fictícias.
Entre 2016 e 2017, ocorreu um edital feito pela Ancine para o investimento de 10 milhões de reais em jogos independentes. Rodrigues e seus sócios participaram deste edital e ganharam na terceira categoria o investimento de 250 mil reais. “Estamos investindo esse dinheiro nos gráficos, animações e em pagar equipe para desenvolver esse jogo da melhor maneira possível. Uma vez lançado o jogo, a Ancine tem uma porcentagem das vendas do jogo. Até a gente pagar esse dinheiro, 80% da receita fica para a Ancine, quando pago, cai para 40%”, de acordo com o desenvolvedor.
Área em expansão
O BIG Festival, evento que reúne diversos jogos independentes nacionais e internacionais ganhou mais uma marcante edição este ano. Com vários jogos de sucesso e também muitas revelações, é incontestável a importância do evento para o cenário de games no Brasil. Apesar de acontecer desde 2012, ainda é um festival em expansão, passando por vezes despercebido pelo público jogador, se comparado com feiras como a Brasil Game Show. O ponto forte é a possibilidade de testar diferentes tipos de jogos e interagir diretamente com desenvolvedores que se esforçam para entregar um produto final de boa qualidade.
Contudo, com a troca de endereço para o Club Homs a organização ficou bagunçada este ano. A expectativa de receber cada vez mais público exige que, em próximas edições, o BIG Festival faça valer o nome e seja uma referência para não só o cenário de games independentes latinos, mas também mundial.