Exposição inspirada na obra do escritor Guimarães Rosa conta com imagens que ilustram a travessia existencial e a transcendentalidade no sertão do autor
Assim como nas obras de João Guimarães Rosa (1908- 1967), o que guia o trabalho da fotógrafa inglesa Maureen Bisilliat é o limite entre ficção e realidade. Suas obras estão à mostra na exposição Nos Gerais de Guimarães, em cartaz no Senac Lapa Scipião de segunda a sábado até dia 21 de maio.
Para muitos, o trabalho do escritor mineiro é encantador, embora possa causar certo espanto em um primeiro momento. Com Bisilliat não foi diferente, ao entrar em contato com Grande Sertão: Veredas na década de 1960, a artista sentiu-se obrigada a viajar para a região de Minas Gerais que inspirou a criação da obra.
As fotografias, agrupadas na galeria, expõem cenas típicas do sertão mineiro de Guimarães. Elas conversam com o cenário do livro, descrito pelo autor como seco, belo, místico e repleto do chamado jaguncêio. Ao todo são 62 fotos expostas, sendo 12 delas inéditas coloridas em aquarela e 40 imagens do foto-filme transmitido na galeria, A João Guimarães Rosa, dirigido por Marcello Tassara e fotografado pela própria autora em 1967.
Durante a abertura da exposição, em 21 de março, Bisilliat conversou com os visitantes que foram prestigiar seu trabalho. De acordo com ela, as fotos na parede da galeria são, na verdade, frames do filme adaptados ao método lambe-lambe. Para a fotógrafa, esse estilo dialoga com o ambiente escolhido para realizar a exposição. “Caminhando por esta escola a gente via, quase que em cada canto, gráficos street art maravilhosos, então nós fomos realmente contagiados pelos estudantes daqui. E a gente tem que agradecer, não podemos estar sempre fazendo a mesma coisa, sabe?”, conta a artista.
A mostra, apesar de trazer fotografias que transmitem sozinhas a intensidade dos sertanejos, conta com o apoio fundamental de trechos retirados de Grande Sertão: Veredas. Ao lado de cada imagem com enquadramento surpreendente e estilo claro-escuro, há um trecho específico da obra-prima de Guimarães Rosa disposto de maneira semelhante à estrutura poética, embora a história seja escrita em prosa. Tal escolha de disposição faz jus ao caráter enigmático e místico refletido tanto na linguagem roseana quanto no olhar fotográfico de Maureen.
Dentre as capturas deslumbrantes do cotidiano sertanejo, destaca-se a fotografia de Manuelzão – vaqueiro que inspirou o personagem homônimo da história Manuelzão e Miguilim, presente no livro Corpo de Baile (1956). Bisilliat conta que o conheceu em sua visita a Cordisburgo, cidade em que nasceu Guimarães Rosa, enquanto buscava por registros da vida do autor. Além do retrato de Manuelzão, a galeria abrange outros rostos e histórias do sertão dos Gerais, dialogando com a prosa poética de Veredas. Vale a pena sentir de perto a travessia existencial proposta pelo trabalho de Maureen, colocando-se em algum lugar entre a literatura, a poesia, a fotografia e a imagem.
Nos Gerais de Guimarães
De 21/03 a 21/05
De segunda a sexta, das 8 às 21 horas; sábados, das 8h30 às 14 horas
Senac Lapa Scipião
Rua Scipião, 67, Lapa(11) 3475-2200