O pintor com uma câmera - Revista Esquinas

O pintor com uma câmera

Por Rafaela Artero : agosto 23, 2018

Mostra no Instituto Moreira Salles Paulista traz retrospectiva de um dos maiores nomes da fotografia do século XX

A exposição “Irving Penn: Centenário” chegou à São Paulo na noite desta terça-feira (21/08) após passar pelo Grand Palais, em Paris e pelo C/O Berlin. A mostra traz mais de 230 fotografias e cerca de 20 periódicos escolhidos por Maria Morris Hambourg, curadora independente e Jeff L. Rosenheim, curador do departamento de fotografia do The Metropolitan Museum of Art de Nova York. Em conversa com o público na abertura da exposição, Hambourg destacou a importância da experimentação e da pintura no trabalho do fotógrafo.

Irving Penn queria ser pintor. Ainda sem ter terminado seus estudos foi aprendiz de Alexey Brodovitch e trabalhou no departamento de arte da revista Harper’s Bazaar enquanto pintava. Porém, “quanto mais pintava, mais infeliz ficava”, diz Hambourg. Então, durante as noites que passava no estúdio de Brodovitch, Penn começou a fazer experimentos com a fotografia e ali encontrou sua arte. Viajou um ano pelo México e Estados Unidos fotografando e pintando até que Alexander Liberman lhe ofereceu uma vaga de design no departamento de arte da revista Vogue. Sua primeira capa para a revista ainda foi uma pintura, uma natureza-morta com luvas e uma bolsa. Seu trabalho na fotografia bebeu na fonte da pintura e da história da arte, segundo os curadores da exposição. Inspirações como Toulouse-Lautrec podem ser vistas em sua famosa capa da Vogue de abril de 1950, que pode ser vista na Galeria 3 do IMS.

A exposição ainda traz uma experiência para o público da experimentação feita por Penn em uma simulação do cenário composto por dois tapumes em um pequeno espaço, usados na série de retratos de intelectuais encomendados pela Vogue em 1947. É possível ver o resultado nos retratos de Truman Capote, Alfred Hitchcock e Igor Stravinsky. Outros retratos de figuras célebres feitos durante os seus 70 anos de carreira podem ser vistos, como as atrizes Audrey Hepburn e Marlene Dietrich, o diretor Ingmar Bergman e o surrealista Salvador Dalí.

Seu relacionamento com moda é visto em imagens de campanhas que fotografou para Issey Miyake e Christian Lacroix, além de Vogues antigas com seus editoriais. Penn também retratou importantes nomes da moda, como os estilistas Yves Saint Laurent, Elsa Schiaparelli e Gianni Versace. Mas seu trabalho na moda vai muito além do mundo da alta-costura. Está presente na exposição retratos etnográficos feitos para a Vogue entre 1967 e 1971 em Papua-Nova Guiné, Marrocos e Benin. Ao final, na Galeria 2 do IMS há ensaios sobre a nudez e experimentações com o corpo feminino e a série de fotografias entitulada “Cigarros” de 1972. Ironicamente, o objeto de sua grande série era odiado pelo seu autor. Penn perdeu entes queridos por causa do cigarro e chegou a participar da Sociedade Americana Contra o Câncer. Sobre a série, Maria Morris Hambourg comenta que, para Penn, fotografar os cigarros era falar sobre a morte.