Uma jornada de esperança - Revista Esquinas

Uma jornada de esperança

Por Yasmin Altaras : setembro 4, 2018

Feira reúne refugiados para uma tarde de rodas de conversa e artesanato

Na última quinta-feira (30), a FEA Social, organização estudantil da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), realizou a segunda edição da Feira dos Refugiados. O evento, que aconteceu na área de vivência da faculdade, proporcionou o contato com a cultura de diversos países. Ali estavam refugiados, vítimas de uma crise humanitária, política e econômica em suas terras natais.

A edição deste ano foi inspirada na campanha “Talentos Invisíveis”, lançada em 2017 nas redes sociais do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). O projeto tenta tornar essas pessoas visíveis, para não serem consideradas simplesmente como refugiadas e nada mais, ressaltando suas vivências passadas, antes de chagarem ao País. Esses indivíduos enfrentam o dilema do “destino incerto”, a conhecida crise migratória mundial. Só no Brasil, nos últimos sete anos, houve 126.102 solicitações de reconhecimento de status de refugiado de acordo com o relatório feito pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). No ano passado, atingiu o número recorde de registros.

O evento, além da extrema diversidade de produtos e comidas, apresentou estandes de artesanato feito pelos próprios refugiados, cujo lucro gerado foi inteiramente destinado aos próprios “pequenos” artesãos. Dentre os produtos vendidos, destacam-se as tatuagens de henna, lenços, máscaras e bonecos africanos, perfumes e tecidos. Anas Obeid, refugiado sírio que teve de abandonar a capital Damasco por conta da guerra civil armada que estourou em 2011, compareceu ao evento.

Houve também a venda de comidas típicas de quatro países. Iguarias da culinária síria, venezuelana, moçambicana e ugandesa lotaram a feira de clientes ávidos para descobrir os sabores e aromas estrangeiros que invadiam o ambiente. Outro destaque do evento foram as rodas de conversa com algumas ONGs, como a Estou Refugiado, a África do Coração e o Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC), e com os próprios refugiados sobre a inserção destes no mercado de trabalho brasileiro.

Os principais grupos de refugiados na feira vinham de Moçambique, Síria, Venezuela e Uganda
Yasmin Altaras

A Associação Internacional dos Estudantes de Ciências Econômicas e Comerciais (AIESEC), maior organização estudantil do mundo, também compareceu à Feira dos Refugiados. O grupo trabalha com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas, como a educação de qualidade, o fim da pobreza e o empoderamento feminino, por exemplo. Ela proporciona intercâmbios voluntários pelo programa conhecido como Cidadão Global. “Eu fui para a Colômbia, dei aula para crianças de 3 a 12 anos sobre meio ambiente, reciclagem e sustentabilidade’’, conta Mayara Pinto, representante da AIESEC na USP. Há, ainda, o programa de Talentos Globais, que visa ao enriquecimento profissional dos jovens em outros países.

A feira, repleta de cores e cheiros, atraiu grande público, dando ênfase na questão da visibilidade do refugiado, não apenas como parte integrante da economia nacional, mas sim como um indivíduo que possui seus próprios anseios e capaz de superar os obstáculos que a própria humanidade cria. Em meio a uma tarde de troca de experiências e histórias, prevaleceu a aceitação da diferença cultural.