Evento no IMS Paulista traz filmes contrários aos padrões hollywoodianos das décadas de 1970 e 1980
Estreou nesta terça-feira (19), no Instituto Moreira Salles, a mostra L.A. Rebellion, com curadoria de Luís Fernando Moura, pesquisador e programador de cinema, e de Victor Guimarães, crítico e professor. O evento traz uma seleção de 14 filmes (entre curta, média e longa-metragens) realizados por um grupo de estudantes da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) no final da década de 1970 e começo da de 1980. À época, a UCLA implementava programas de inclusão étnica na universidade para diversificar seu quadro de alunos. Como resultado, ingressaram estudantes afro-americanos, com ascendência asiática, nativa-americana e latina. O termo que nomeia a mostra – cunhado posteriormente pela crítica – é contestado por alguns dos cineastas integrantes por representar apenas os estudantes negros do grupo, deixando de lado os participantes das outras etnias.
Bush Mama, o mais famoso entre os 14, abre a mostra; o único longa-metragem do diretor Haile Gerima, apresentado em 16 milímetros, cópia rara cedida pelo arquivo da própria UCLA. Mama é um desafio ao formato convencional hollywoodiano, sem compromisso com uma formulação cumulativa de tempo-espaço da história. Gerima mistura crônica, devaneios, sonhos, cartas, memórias e projeções enquanto conta as histórias que acontecem ao redor de Dorothy (Barbara O. Jones), no bairro do Watts – carregado de certo simbolismo devido às revoltas de 1965.
A personagem interpretada pela fenomenal e injustiçada Jones é uma mulher negra, mãe de uma menina, grávida de outro filho e esposa de um ex-combatente do Vietnã que vai preso. Em determinado momento da história, uma amiga da filha Lou Ann pendura em sua casa um pôster com a imagem de uma combatente africana segurando um rifle em uma mão e um bebê no colo. É uma metáfora, uma imagem mental do que Dorothy nem tinha total consciência que teria que ser. Aliás, esse é um dos pontos principais de Bush Mama, a contradição, ou melhor, a afirmação seguida rapidamente de uma negação; a desesperança em briga com a “solidariedade e cálculo”, o indivíduo versus o coletivo. (Gerima está longe de homogeneizar a comunidade afro-americana, ele mantém singularidades bem nítidas). Esse jogo de cenas é regado em jazz, fortalecendo a inquietude de um filme que poderia virar mil, o que remonta ao trabalho genial de edição de Mama.
Após acompanharmos a obsessão de Gerima em filmar Jones e seu olhar, sua personagem consegue algo em retorno, um direito de resposta, e uma peruca abandonada.
Todos os dias da mostra L.A. Rebellion contam com sessões comentadas posteriormente por críticos. No sábado (23), último dia do evento, ocorre um debate maior. Lembrando que muitos dos filmes estão em película de 16 milímetros – tipo de filmagem que se tornou quase inexistente após a popularização do vídeo digital, mas ainda com captação de imagens de boa qualidade – e essa pode ser uma oportunidade única de vê-los. Para a programação completa, acesse o site do Instituto Moreira Salles.
Serviço
IMS Paulista
19 a 23 de fevereiro
Avenida Paulista, 2424
(11) 2842 9120
Ingressos: R$ 8,00 (inteira) e R$ 4,00 (meia), podem ser comprados no IMS no dia do filme ou para a semana inteira no site Ingresso.com