O jornalista e pai morreu em 1975 e recebe homenagem que destaca sua face cineasta
Vladimir Herzog, mártir da ditadura de 1964 e cânone do jornalismo brasileiro, ganha homenagem na mais recente edição da série Ocupação do Instituto Itaú Cultural, onde sua vida, obra e legado foram celebrados. Na noite da última quarta-feira (14), mais de 900 pessoas compareceram à abertura do evento. Admiradores de todas as idades e amigos pessoais de Vlado e da família Herzog foram comtemplar a mostra intimista, reflexiva e – inevitavelmente – melancólica.
“Vlado era multimídias em uma época em que o multimídia não existia”, brinca Claudiney Ferreira, o coordenador de Literatura e Audiovisual do Itaú Cultural. Durante seus 38 anos de vida, o jornalista foi repórter, editor de texto, chefe de redação, fotógrafo, ator, dramaturgo e professor. Além de se empenhar na fotografia, uma de suas paixões, teve destaque com atuações no jornal O Estado de S. Paulo, na TV Cultura e como professor na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Sua contribuição para o cinema, apesar de discreta, recebeu posição de destaque em Ocupação Vladimir Herzog com o filme Marimbás (1963), o único exemplar assinado por Vlado.
Além de exemplares autênticos de suas produções, a exposição traz um lado mais íntimo e pouco explorado dessa personalidade, não somente um Vladimir Herzog jornalista ou ativista, mas um Vlado pai, marido, filho e amigo. A mostra tem fotografias tiradas pelo próprio Herzog, recortes de seus textos originais em jornais, trechos de suas produções para a televisão e cinema e documentos do arquivo pessoal da família e de tantas outras fontes, como o Museu Nacional e do próprio Instituto Vladmir Herzog (IVH). “Ivo Herzog, filho de Vladimir, está muito feliz com a exposição. Essa é a primeira mostra dedicada exclusivamente aos trabalhos e a vida do pai dele”, revela Ferreira.
O caso Herzog ficou conhecido internacionalmente como uma das grandes crueldades do regime militar brasileiro e um dos catalizadores da redemocratização. Vítima de tortura nos porões do DOI/CODI, o órgão de repressão da época, e cuja morte permaneceu obscura por anos, Vladimir Herzog não era apenas um jornalista crítico e um editor rigoroso. Teve uma carreira multifacetada e ambiciosa. A notícia de sua morte, em outubro de 1975, comoveu a população paulistana que lotou a Praça da Sé em uma manifestação popular contra os abusos da ditadura.
Também presente no lançamento, o ex-senador Eduardo Suplicy (PT) comenta a situação do Brasil, que sofreu penalidades no Fórum Internacional dos Direitos Humanos. “Rememorar o caso Herzog é uma necessidade política, porque depois de mais de 40 anos após a tragédia muita coisa permanece obscura e injustiçada”, refere-se o político sobre o descaso frente às investigações e a negligência na sentença dos culpados. “O caso é complexo e precisa de muito estudo. Mas, mais do que isso, toda a vida de Herzog merece que nos debrucemos.”