Fundadores de um dos maiores estúdios de animação do País contam como criar histórias que dialoguem com a imaginação e a realidade das crianças
Apesar de ser a nona arte por combinar cor, palavra e imagem, as histórias em quadrinhos são uma espécie de escola para a sétima, o cinema – e especialmente quando se fala de desenhos animados. Para Dario e Elizabeth Bentancour, fundadores do estúdio de animação Super Toons, o trabalho nos gibis foi o ponto de partida de uma relação duradoura. Não só porque se conheceram quando trabalhavam nos estúdios de Mauricio de Sousa, nos anos 1980, e hoje são marido e mulher, mas também porque, em contato tão intenso com a maior marca infantil do País, aprenderam como trabalhar um produto que dialogue com as crianças.
Ambos trabalharam mais de 20 anos com a Turma da Mônica, em diversas áreas, como desenho, arte-final, animação e roteiros. Há dez anos, abriram o Supertoons e, desde então, produziram desenhos infantis de diferentes abordagens. A proximidade com Mauricio de Sousa rendeu alguns curtas com a Turma e, em parceria com o SBT, fizeram a série Carrossel em animação.
Mas o grande êxito do estúdio veio em 2017, com o lançamento de O diário de Mika, uma série animada sobre uma garotinha de 4 anos que tem animais de pelúcia vivos. Em seu tablet, a garota inventa e protagoniza aventuras que refletem os desafios do cotidiano, e os bichinhos aparecem como representações de diferentes aspectos da personalidade da garota.
Elizabeth desenvolveu a ideia em um rascunho, que ficou na gaveta por anos. Quando foi recuperado para ser produzido, algumas ideias tiveram que ser atualizadas. Ouça abaixo um pouco mais dos bastidores da produção.
A série foi exibida nos canais de televisão Disney Channel e Disney Junior e atingiu mais de 130 países. O desenho também é distribuído no Youtube e possui atualmente 125 milhões de visualizações acumuladas. Chegou, ainda, a ser um dos quatro indicados ao Emmy Kids Awards 2017, na categoria “Crianças pré-escola”.
Por encomenda do pastor neopentecostal e apresentador do programa Show da Fé, R. R. Soares, também produziram Midinho, o Pequeno Missionário e Turminha da Graça. Dario contou que foi um desafio, afinal, o casal não é evangélico. “Não somos. Mas, para fazer, basta estudar”, conta Elizabeth, uma senhora bem-humorada e expansiva, com jeito de mãe e voz expressiva de dubladora.
“O segredo é o roteiro. Mesmo que o desenho seja maravilhoso, o que realmente prende é uma boa história”, complementa a mulher. Elizabeth relembrou que, em um dos desenhos cristãos, foi pedida a narração do episódio bíblico de Daniel na cova dos leões. Para ela, porém, da maneira como é contado, no contexto histórico original, não tinha algo atrativo para as crianças.
A ideia foi extrair a essência dos ensinamentos do conto e retrabalhá-los com personagens e em um cenário moderno com quem as crianças poderiam se reconhecer. Assim, além de tornar a história mais atrativa, também a transforma em algo mais universal e fácil para crianças aprenderem nos dias de hoje.
Dario conta que, apesar das produções da Super Toons serem todas infantis, com um público-alvo tecnicamente mais restrito, nas redes sociais surgem elogios das mais diferentes faixas etárias — desde pré-adolescentes a pais, professores e, inclusive, de um garoto canadense autista de 17 anos. “Gente é gente em qualquer lugar do mundo, e ficamos felizes de poder conversar com todos”, conclui Elizabeth.