A Nova Culinária migrante de São Paulo - Revista Esquinas

A Nova Culinária migrante de São Paulo

Por Felipe Ursini Luna, Gustavo Maganha Andria, Lucas Carramillo Cesare, Lucas Henrique Miluzzi Alquesar, Raphael Araujo Barboza e Rafael Ribeiro Silva : fevereiro 25, 2019

Foto: Jason Leung on Unsplash

Recém chegados à capital paulista impactam a gastronomia do local com seus costumes e tradições

Da América Latina ao oriente do planeta, é possível encontrar na cidade de São Paulo pessoas das mais diferentes nacionalidades. Com diferentes histórias, realidades e culturas, a culinária é um modo para aqueles que chegam ao Brasil e procuram sentirem-se em casa. Confira abaixo alguns points culinários dos novos migrantes da capital paulista.

Um conselho experiente…

No Brasil desde 1994, o renomado chef francês, Érick Jacquin conta que o grande desafio de abrir um empreendimento no Brasil, independente do ramo, é o dinheiro.  “É importante saber que para abrir um negócio no Brasil você precisa ter muito dinheiro, ou pelo menos ter sócios que tenham dinheiro para dar esse suporte. Aqui no Brasil, infelizmente, não é a sabedoria que vai dizer se você é capaz de ter o próprio restaurante”.

Referência em gastronomia francesa, Jacquin revela também que o segredo em abrir um estabelecimento é a dedicação e a prática com amor. A burocracia é grande e desestimulante para a maioria. Lidar com as contas e gerenciar o ambiente são algumas das principais tarefas a serem cumpridas em um restaurante.  Para isso, recomenda aos novos migrantes que persistam em seus objetivos.

Jiang Pu foi a terceira colocada da segunda temporada do reality culinário Masterchef 
Felipe Luna

O Chi de Jiang Pu

Nascida em Guilin, no sul da China, Jiang Pu, de 29 anos, chegou ao Brasil com apenas doze anos. Como os pais trabalhavam, ela teve de aprender a cozinhar. Comecei a inventar, pegava as sobras, fazia um tempero diferente”, lembra. Pu se formou em estatística na Universidade de São Paulo (USP), o que ela define como uma “depressão”. Seu prazer em cozinhar a levou a participar da segunda edição do reality show Masterchef, onde alcançou o 3º lugar e demonstrou grande carisma.

Após o fim do programa, seus planos eram de trabalhar com algum chef reconhecido, para poder ampliar seus conhecimentos. Mas pelo estilo de sua culinária, focada especialmente em comida chinesa, as coisas não correram como planejado.  “Infelizmente em São Paulo não tem chef chinês conhecido, então não recebi convites para trabalhar”, comenta. Dessa forma, depois nascimento de sua filha, decidiu abrir seu próprio restaurante.

Nasce então, em maio de 2017, o Chi. Foi nomeado a partir do verbo “comer” em mandarim. É um pequeno bistrô que se apresenta como uma nova alternativa para conhecer a culinária chinesa no Brasil. Pu contrapõe a maioria dos restaurantes chineses da capital, que de acordo com ela, optam por ambientes mais tradicionais, concentrados no bairro da Liberdade, e que fecham muito cedo.  “Queria um lugar para jovens, que a gente pudesse conversar, comer e beber, tipo uma casa noturna para passarmos um pouco o tempo”, afirma. O cardápio passa por pratos mais populares e conhecidos do público, como os gyozas, até pratos mais tradicionais da cultura chinesa.  “O Chi é diferente daqueles deliverys que compramos no telefone”, completa a chef e proprietária.

Depois da fama do reality show Masterchef, a chinesa de 29 anos abriu seu próprio restaurante na capital paulista
Felipe Luna

Horários: O Chi só fecha as portas completamente aos domingos. É aberto para almoço das 11h30 às 14h30 todos os dias, e com exceção das segundas, abre também para jantar das 18h00 às 23h.

Endereço: Rua Cônego Eugênio Leite, 448

Santiago Roig, é o dono do restaurante Underdog
Lucas Cesare

O chef “vira-lata”

Comunicativo, carismático e bem-humorado. Esse é o argentino Santiago Roig, dono do restaurante Underdog, que em português pode ser traduzido como cachorro vira-lata. O estabelecimento ficou conhecido por seu ambiente diferenciado e seus cortes de carne de alta qualidade.

Foi dento de sua própria casa que o interesse de Roig pela cozinha foi despertado. Seu pai era adepto aos cortes de carne clássicos argentinos. “Isso me interessava bastante, gostava de ficar do lado, observando meu pai enquanto ele fazia”, relembra o chef.

Essa é a premissa para o surgimento do Underdog, que contou inicialmente com investimentos do próprio Roig e de vários outros sócios, como João Gordo e a banda Ratos de Porão. O objetivo é ser um local que misture a culinária argentina com o bom humor do brasileiro, fazendo o cliente sentir-se em casa. O restaurante é um meio-termo entre uma churrascaria famosa e um churrasquinho de rua, fazendo jus ao significado de vira-lata, uma mistura. “Percebi que havia uma carência desse churrasco, entre o ‘da rua’ e o das melhores churrascarias. Faltava isso, sem o garçom, de branquinho, mas também sem ser aquele churrasquinho grego de rua”, explica o chef argentino.

Porém, com toda certeza o destaque do Underdog vem por meio da decoração, em especial suas placas. Essas já renderam polêmicas com o restaurante, como a revolta de clientes com uma placa de mandava “prender as crianças e deixar os cachorros soltos”. Apesar de tudo, o argentino procura levar tudo com bom-humor, comemorando que após as polêmicas, a popularidade do local aumentou e eles ganharam mais seguidores.

Horários: O Underdog fecha por completo apenas as segundas. É aberto para almoço das 12h às 16h e para o jantar das 18h30 às 22h30 todos os dias, com exceção de sábado, que abre as 9h e fecha às 22h30 e do domingo, que só é aberto para o almoço, das 12hs às 16h.
Endereço: Rua João Moura, 541

Hasan Zarif, dono do Al Janiah, é filho de refugiados palestinos e nascido no Brasil
Felipe Luna

A “Comunidade” Al Janiah

Muito mais do que um estabelecimento comandado por refugiados palestinos, o Al Janiah é um restaurante que mostra a união entre diferentes culturas, que se reúnem para saborear a comida árabe em um espaço de compartilhamentos, trocas e interações.

A parte do bar, escura e com luzes coloridas, mascarava um pouco a influência imigrante do local. Essa percepção é deixada de lado ao se perceber toda a caracterização não intencional. Os garçons de turbantes, os nomes na lista de espera e nas comandas escritos em árabe e as tantas línguas ouvidas juntam-se, formando um idioma quase único. Tudo isso deve-se ao fato de os funcionários serem realmente refugiados, que encontraram ali um espaço onde tem liberdade para vivenciar suas culturas.

Abrigando bolivianos, muçulmanos, argelinos e cubanos, o ambiente possui uma abundância de combinações, de sabores, de idiomas e de perspectivas.

Além disso, o Al Janiah igualmente serve como um lugar de eventos políticos, artísticos e literários. São servidos pratos típicos da culinária árabe, como falafel, tabule, esfiha e shawarma. A comida fica como uma espécie de “diálogo de paz” entre as diversas culturas que formam o Al Janiah.

Horários: Terças a quintas, das 18h às 00h30. Sextas e sábados das 18h30 às 02h00. Fica fechado as segundas e domingos.
Endereço: Rua Rui Barbosa, 269

O restaurante é uma referência na cidade de São Paulo, especializado em gastronomia africana
Felipe Luna

O recanto africano Biyou’z

A simpática e carismática camaronesa Melanito Biyouha, destaca-se juntamente a seu restaurante por trazer um pouquinho de cada parte da África para o Brasil. Ela considera o Biyou’z “um veículo da cultura africana na área da gastronomia”.

Foi durante uma viagem à São Paulo, após algum tempo já no Brasil, que a ideia do restaurante surgiu. A camaronesa notou a forte presença de afrodescendentes na cidade, mas também a falta de um restaurante que os representasse. Após a abertura, o processo de crescimento do Biyou’z foi gradativo e a interação com os clientes e as trocas culturais sempre foram as chaves para o sucesso. O restaurante serve pratos considerados clássicos da cultura africana, como o Kitoor, o Bicoye e o Malang. “Aqui não tem cliente que não faça pergunta, e respondemos todas se for preciso! ”, conta Biyouha.

Um momento inesquecível e muito importante para a proprietária foi o convite que recebeu da embaixada de Camarões no Brasil, para que a mesma cozinhasse para os jogadores da seleção camaronesa durante a Copa do Mundo de 2014. Ela descreve que foi uma experiência “louca e difícil”, pois da noite para o dia teve de encontrar uma equipe e preparar o cardápio. Apesar de tudo, criou um carinho especial pelos jogadores. “Gostaram da comida, fizemos uma boa amizade”, relembra.

Biyouha afirma que o destaque recebido pelo estabelecimento é muito positivo, pois dessa forma cria um impacto sobre a população. “A nossa contribuição é exatamente de divulgar a cultura africana, porque acabamos descobrindo que o brasileiro não tem bastante informação sobre a África, e muitas das conhecidas são bem pejorativas! Então a ideia é mostrar tudo isso, que tem sim uma beleza no continente africano”, afirma.

Horários: O Biyou’z funciona todos os dias, das 12h às 22h.
Endereço: Alameda Barão de Limeira, 19