Riviera Bar: 73 anos da imponente esquina paulistana - Revista Esquinas

Riviera Bar: 73 anos da imponente esquina paulistana

Por Beatriz Alcantara, Julia Gabrielle Bomfim, Nicolas Souza Jacomelli : maio 10, 2022

Foto por: Julia Gabrielle Bomfim

Localizado numa das esquinas mais famosas da cidade, Riviera Bar celebra 73 anos em 2022; relembre história, clientes ilustres e o processo de revitalização

Que mais esperar do cruzamento de duas das mais famosas avenidas de São Paulo? No encontro da Consolação com a Paulista, localiza-se o Riviera Bar e Restaurante, tradicional ponto de encontro boêmio da capital paulista que completa 73 anos em 2022.  

Por se tratar do primeiro edifício da principal avenida da cidade, o prédio hoje está em processo de tombamento, segundo o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp). O local foi projetado em 1941 pelo escritório arquitetônico MMM Roberto, dos irmãos Marcelo Roberto e Milton Roberto. 

Bar de lembranças

De clientes icônicos a uma resistência voraz à ditadura militar, o Riviera traz uma experiência clássica e, ao mesmo tempo, modernista a seus clientes de longa data. “De dia tinham pessoas de todos os tipos, pessoas mais velhas, pessoas que trabalhavam ao redor e iam comer ali”, afirma Dina Amêndola, jornalista que trabalhava na redação do Estadão e foi cliente do restaurante entre 1970 e 1978.  

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Parte da decoração conta a história do bar.
Julia Gabrielle Bomfim

Por sua vez, Toninho Mendes, diretor de arte, tem lembranças excêntricas no Riviera, vividas durante o período em que era cliente assíduo do estabelecimento, nos anos 70 e 80. “Eu tomava um chope pela boca e derramava o outro na cabeça. Já fiz isso mais de uma vez, e tem testemunhas. Era o tipo de coisa que acontecia no Riviera”, conta. 

Discussão e resistência

O bar também servia como ponto de encontro para grandes nomes da música brasileira. Em seu auge, Elis Regina, Chico Buarque e Vinicius de Moraes foram alguns nomes que frequentaram o restaurante durante a ditadura militar. Além dos ilustres, o local ficou conhecido por receber todo o tipo de gente: artistas, intelectuais, militares, boêmios etc. Esses setores se reuniam e discutiam as políticas implementadas na época, usando o Riviera como um local seguro para se manifestar. 

Para alguns frequentadores, entre anônimos e famosos, o local foi palco de momentos únicos. Chico Buarque, por exemplo, comemorou a vitória no Festival da Canção, com a música ‘’A banda’’, nas dependências do bar. Já Arnaldo Angeli Filho se inspirou em uma cliente do Riviera para criar, em 1984, a personagem fictícia de histórias em quadrinhos “Rê Bordosa”. “Eu me senti tão bem dentro deste bar que, quando coloquei o pé lá, falei pra alguém: ‘Esse é o meu bar’. E foi mesmo. Foi o bar da minha vida”, afirma Angeli. 

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Nova administração

Porém, nem só de histórias felizes o Riviera é marcado. Em 2006, após enfrentar grandes problemas financeiros, o local fechou as suas portas e permaneceu dessa forma até 2013, quando Alex Atala, um dos maiores nomes da gastronomia brasileira, e Facundo Guerra, empresário, decidiram trazer o bar de volta à vida boêmia paulistana.  

Ao assumirem o estabelecimento, os novos donos optaram por dobrar o tamanho do espaço, passando a ter 500m² e 7 metros de pé direito. Além da mudança de espaço, houve alteração no cardápio. Sob a gerência desses dois nomes amplamente conhecidos no ramo da gastronomia, o bar teve um recomeço em sua história e trouxe o público novamente à esquina da Consolação com a Paulista.

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O pé direito alto é destaque da decoração.
Julia Gabrielle Bomfim

Em dezembro de 2019, o comando do local é repassado ao grupo Fábrica de Bares. “O Riviera era uma efervescência política e cultural. Todo o pessoal pensante se reunia aqui como uma forma de resistência à ditadura. O Riviera pulsava essa resistência”, conta Gisele Gutiérez, diretora de operações. Ela afirma que era uma cliente assídua do bar mesmo antes de pensar em trabalhar na área e administrar o estabelecimento. “Sou uma frequentadora do bar dos anos 80, então eu o vivi como ele era naquela época”, relembra. 

Tradição e modernidade

O Fábrica de Bares gerencia diversos locais históricos na capital paulista, com destaque para o Bar Brahma e Orfeu. “Nós trazemos essas unidades que são icônicas para São Paulo e que tem uma grande importância para a história boêmia paulistana. Revisitamos e reestruturamos sem perder a essência e a história, mas com um olhar de fazer essa manutenção, cuidado e administração do negócio”, afirma Gisele Gutiérez.  

No entanto, o início desse trabalho de restauração foi mais difícil do que o esperado por conta da pandemia de covid-19. “Nós fomos por vários caminhos, mas nenhum trazia de volta essa narrativa e importância do Riviera para São Paulo. Até que, depois de uma pesquisa imensa que fizemos, nós tivemos a ideia de trazer o aspecto do modernismo. O Modernismo significa ruptura”, pondera Gutiérez.

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Parte de dentro do restaurante.
Julia Gabrielle Bomfim

Uma das mudanças implementadas após a reabertura do bar foi o horário de funcionamento, que passou a ficar aberto 24 horas por dia. “A gente acompanha os tempos, pois essa é a essência do Riviera. Se localizar no tempo, no espaço e ir andando junto e se modificando junto. O Riviera não envelhece, ele vai se modernizando e os públicos vão mudando”, adiciona Gisele. 

“A gente diz que aqui no Riviera atendemos a todos os públicos, a todos os pensamentos, a todas as culturas, a todos os gêneros”, destaca a diretora sobre a importância da diversidade presente na história do Riviera, mostrando que essa essência está presente até hoje. “Nós temos na equipe travestis, refugiados angolanos, homens e mulheres trans’’, completa.

Editado por Juliano Galisi

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