Com cardápio inusitado e receitas inventivas, a 1445 Burger quer empanar o mundo; conheça uma hamburgueria diferentona do Itaim Bibi
Em um passeio rápido pelo bairro do Itaim Bibi, não é difícil encontrar algum antigo sobrado que tenha se transformado em restaurante. A região se tornou foco desses comerciantes devido a quantidade de empresas estabelecidas nas proximidades, tornando o intervalo do almoço na hora mais lucrativa da semana. Portanto, como sobreviver em uma quarentena, com seus clientes mais fiéis longe? “Aproveitar o acaso”, explica Gilberto Pereira da Silva, 42, ou simplesmente ‘Giba’, um dos sócios da 1445 Burger, uma das mais promissoras hamburguerias da região.
Com o lema de “vamos empanar o mundo”, o estabelecimento próximo ao Parque Do Povo, na Rua Tabapuã, quase fechou antes mesmo da criação de identidade e foco da casa. Recém aberta, em setembro de 2019, a 1445 passou pela prova de fogo com o coronavírus, que chegou ao solo brasileiro em março de 2020, fazendo com que Giba perdesse os clientes das empresas do entorno — “70% do nosso faturamento era do Itaú, que tinha três unidades aqui atrás”.
A única opção na época era competir com gigantes no delivery. “Imagina, você olha no delivery o nome 1445 Burger e outros nomes que são referência, você não vai arriscar. Então as pessoas pediam os mais famosos mesmo”, conta Giba.
Desse modo, para sobreviver era necessário se destacar. A ideia de empanar surgiu da esposa de Giba, Caroline, 43, grávida na época de seu segundo filho, após a participação em um evento mal sucedido no qual sobrou 17 quilos de requeijão cremoso.
Eles buscaram por toda a internet e não encontraram ninguém que já empanava o produto. Por isso, resolveram testar. O ingrediente não somente ‘deu liga’, como também a qualidade se manteve no delivery. O primeiro hambúrguer com a identidade do local foi pensado e montado a partir do requeijão empanado. ”O prato foi criado em julho. Sem ele, acredito que sobreviveríamos até dezembro”.
Os empanados
Durante a pandemia, Gilberto descobriu uma legião de fãs de empanados. Os “catupilovers’’, assim chamados os fãs de requeijão cremoso, fizeram o dono da 1445 Burger investir no marketing das mídias sociais e ter uma virada na trajetória do restaurante. Uma das principais técnicas para atrair o público é feita pelo Instagram, expertise de Caroline.
“A gente percebeu que os blogueiros eram a nova televisão. Você vê o jornal e pega o celular. Percebemos que eles conseguiam gerar desejo nas pessoas. Então, investimos naqueles que fazem review”, explicou.
Além dos blogueiros, o dono da hamburgueria também encontrou uma maneira de chamar a atenção do público com empanados bizarros. De café até ketchup, os vídeos com os alimentos mais inusitados sendo empanados chamam a atenção do público. “Assim reforça a identidade da casa. Tem coisas que comercialmente não é legal de botar para vender, mas só de você ficar empanando de brincadeira, chama atenção”, destaca ele.
História e segredos da milanesa
A etimologia da moda “à milanesa” não mente: o termo e a tradição de empanar a proteína do prato remetem à cidade de Milão, na Itália. A origem da prática é difusa e repleta de factóides que, ao longo dos séculos, se confundiram com o factual. Diz-se, em uma das versões, que um habilidoso padeiro de Milão foi convocado para resolver o problema da perda de textura, sabor e consistência das carnes ao serem expostas ao azeite fervendo.
Toni, a quem também se atribui o invento do panetone, então, passou a envolver as carnes em uma película de pão velho, seco e moído. Dessa forma, a carne preservava seus aromas e consistências, pois a casca de pão impedia a perda de água do alimento.
Séculos depois, o empanamento do Giba também tem os seus segredos. O grande truque está no tempo de fritura específico para cada produto. “A gente tem que saber com quanto tempo a gente tira cada um. Então não é a técnica, são os macetes que a gente foi criando”, revela Giba.
Lanches da 1445 Burger
Os lanches da 1445 Burger são referência às ruas próximas ao estabelecimento, como a Rua Comendador Miguel Calfat, que dá o nome ao carro chefe da casa. O “Comendador” (R$45,90) é composto por um hambúrguer grelhado na churrasqueira, com queijo cheddar, rúcula, tomate no pão preto e o curioso requeijão empanado. Apesar de tantos ingredientes, o elemento principal do lanche é a crocância máxima da “casquinha” que segura a cremosidade do requeijão.
O lanche Horácio (R$32,50) também é destaque. Feito no pão brioche com frango empanado, queijo cheddar, alface, cebola e bacon artesanal. É uma boa opção para quem prefere uma refeição mais leve do que o Comendador, em que o requeijão empanado acaba sendo o principal gosto do prato.
Outro lanche que se destaca é o Leopoldo (R$39,90), opção vegetariana da casa, com um mix de cogumelos, que torna a hamburgueria diversa e para todos os gostos. “A gente tentou se diferenciar no começo por causa [do empanamento] da Onion Rings. Ela é bem crocante. A gente brincava com os motoboys, que tinham muitas entregas naquela época, que podia até chegar frio, mas vai chegar crocante”, brincou Giba.
E de fato são. Tanto os empanamentos nos lanches quanto as entradas. Em nenhum momento fraquejam ou dão sinal que vão desmanchar, até mesmo mergulhados em sorvete. O milkshake de Nutella (R$33) e de paçoca (R$27,50) parecem peculiares à primeira vista — como todo o conceito do restaurante — mas retribuem, e muito, no sabor. Eles são feitos com creme americano e contam com um pedaço do ingrediente empanado no topo.
Apesar de fazer parte do prato do dia a dia de muitos brasileiros, a milanesa não é exatamente saudável. A nutricionista Giovanna Alexandre Fabiano relembra que pequenas porções não fazem mal a ninguém, mas o método de preparo do empanamento apresenta problemas por si só. “Isso é chamado de fritura de imersão. O óleo perde propriedades nutritivas e o alimento acaba absorvendo gordura demais. O consumo exagerado pode levar a diversas complicações de saúde”, detalha a nutricionista.