Como editoras independentes contornam a crise na quarentena?  - Revista Esquinas

Como editoras independentes contornam a crise na quarentena? 

Por Laura Navarro : julho 5, 2020

Mocho Edições, SP, e Edições Macondo, MG, relatam o impacto da pandemia e as saídas que têm buscado diante disso. 

Assim como todo setor da economia em algum nível, o mercado editorial foi fragilizado pela pandemia e suas consequências. No entanto, diferentes editoras, em especial as independentes, têm realizado outros caminhos para contornar essa crise. Para se aprofundar nessa questão, ESQUINAS ouviu a Mocho Edições, de São Paulo, representada por Deborah Leanza e TW Jonas, e a Edições Macondo, de Juiz de Fora, representada por Otávio Campos. Ambas são editoras independentes que publicam literatura brasileira contemporânea.  

VENDAS

A questão que mais fica evidente é a financeira. A Macondo diz: “Nós, assim como a maioria das pequenas editoras, apostamos nas vendas online desde o início da nossa história”, alegando que, em termos de lucro, ir até as livrarias não é tão interessante. Para contornar a situação, a editora passou a cobrar o frete das compras no site para impedir prejuízos.  

Já a Mocho tem uma postura diferente. Segundo eles, “temos nosso site e acabamos realizando vendas por esse canal. Para aumentar as vendas, achamos que oferecer frete grátis funcionaria, apesar de implicar certa perda no retorno para a editora. Optamos por estimular um aumento na quantidade de vendas e, assim, compensar essa perda.”  

LANÇAMENTOS

Antes da pandemia, lançamentos de livros movimentavam e impulsionavam as editoras. A Mocho avalia, atualmente, a possibilidade de lançamentos online, como no caso da obra Pervertidos, da carioca Sabine Mendes Moura. 

Para a Macondo, isso fica fora de questão, mesmo tendo publicado três obras desde o início da crise do novo coronavírus. “Fazemos algumas campanhas online, como lives com os autores, mas não é a mesma coisa já que não há o público que compraria o livro ali nesse momento. Estamos deixando os eventos de lançamento, então, suspensos, e apostando nas campanhas das vendas online, são as saídas que encontramos para sobreviver a essa crise”, diz Otávio. 

ORIGINAIS

A respeito das chamadas para a publicação de originais, que também é importante para manter uma editora, a Mocho alega ter havido uma diminuição em decorrência da diminuição da atividade nas redes sociais. 

Macondo diz não abrir chamadas para originais já há algum tempo. Portanto, é difícil receber tantos livros quanto outras editoras, “mas ainda chegam com alguma frequência e-mails de autores querendo publicar o seu trabalho, às vezes, em grande quantidade, às vezes, pouca coisa. Não tenho sentido nenhuma diferença nesse quadro”, explica. 

EIXO RJ-SP

“Estar fora do eixo Rio-SP é um pouco complicado nesse sentido, porque, querendo ou não, ainda há um monopólio cultural, ao menos de visibilidade, nesses centros. Acho importante, por conta disso, criar um público, conquistar leitores.” diz Otávio Campos, da Macondo Edições. “É preciso conhecer a cena que está ao nosso redor, como o que acontece em BH, por exemplo, e aqui, em Juiz de Fora. Acho que ainda não alcançamos Minas Gerais como um todo, o que é uma coisa que eu lamento. No entanto, a gente ainda faz parte do eixo Sudeste, que é privilegiado se pensarmos em outras regiões do país. Além disso, creio que há algum diálogo com o que acontece no Rio de Janeiro, muito próximo geograficamente de Juiz de Fora, o que nos permite certas trocas constantes. E também em São Paulo, distante a algumas horas daqui, onde viemos criando alguns canais de interlocução nos últimos tempos.”  

AUTORES E FAMA DA EDITORA

A Mocho Edições tornou-se conhecida pela publicação da dramaturga e poeta Layla Loli, com seu livro de poemas “A História do Gozo e Outros Canibalismos”. Já a Macondo é famosa por publicar grandes nomes da poesia contemporânea, como Natasha Félix e Camila Assad.

A História do Gozo e Outros Canibalismos, Layla Loli
Mocho Edições

“Acredito que os autores são a parte mais importante da editora”, diz a Edições Macondo. “Ter em nosso catálogo nomes relevantes da poesia brasileira e portuguesa é muito gratificante para as vendas e também para a credibilidade da editora”. Porém, alega que seu trabalho editorial não se limita a publicar apenas poetas já conhecidos, o que é positivo. “Prezamos, sobretudo, pelo texto que vamos publicar e pelo respeito aos nossos leitores, que conhecem e confiam no nosso trabalho. É por conta disso, talvez, que não recebemos originais para análise. A maioria dos autores que estão na editora chegaram a partir de um convite nosso, que tivemos contato com sua produção e julgamos relevantes para o nosso pensamento editorial. Esse processo, é importante deixar claro, não é a criação de uma verdade, de que o que publicamos é o ‘bom’, ou o de ‘maior qualidade’ da poesia contemporânea. Pensamos em temas, recursos, projetos e estéticas afins do que tentamos construir como linha editorial da Macondo. Podemos até achar um livro muito bom, um poeta incrível, mas, talvez, seu projeto não se encaixe na proposta que oferecemos pela editora, o que inviabiliza a publicação”, conclui.