A consagrada banda britânica lançou a chamada “última música”, despertando diferentes emoções no público
Não é segredo para ninguém a dimensão cultural que Os Beatles deixaram no século XX, influenciando todos que decidiram fazer música desde então, seja direta ou indiretamente. Até hoje muitos pesquisadores musicais tentam entender como os quatro garotos de Liverpool, na Inglaterra, tiveram tanta relevância em tão pouco tempo de carreira. A banda não durou mais de dez anos, e, em tão pouco tempo, lançaram treze álbuns que moldaram a música moderna.
Desde o encerramento da banda, no final de 1969, os quatro membros continuaram lançando e produzindo suas artes com orientações cada vez mais particulares. John Lennon teve sua popularidade alavancada nos Estados Unidos após a separação do grupo, visto que, junto com sua mulher Yoko Ono, se mudaram de Londres para Nova York com intenções de ingressar na militância estadunidense, em prol de pautas pacifistas e anti guerra. A lendária canção ‘Imagine’, lançada em 1971 por Lennon, acabou se tornando um hino contracultural, abordando as pautas políticas tão defendidas pelo autor. A canção ganhou outra magnitude quando, tragicamente, John Lennon foi assassinado em 1980.
Após a morte de John, as possibilidades de retorno da banda se tornaram mais impossíveis do que já eram. Porém, durante a década de noventa, os outros três membros, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison, decidiram revisitar canções compostas por Lennon após o fim da banda e lançar na coletânea ‘Anthology’ (1995), que reuniu covers, demos e versões alternativas das músicas, contando com duas faixas inéditas, ‘Real Love’ e ‘Free As a Bird’.
Durante o processo de compilação do álbum, uma faixa gravada por John nos anos 70 foi excluída por falta de tecnologias que possibilitassem uma remasterização mais limpa da canção, além da reprovação de George, que alegava não gostar da canção.
Em 2021, após 20 anos da morte de George, vítima de câncer, a série documental ‘Get Back’ foi lançada com produção e direção do Peter Jackson e sua equipe, responsáveis por produções clássicas de audiovisual como ‘O senhor dos Anéis’ (2001-2003). Essa série reunia imagens de 1969, da gravação do álbum ‘Let It Be’, lançado só em 1970 após o fim da banda. Pela primeira vez os fãs puderam assistir imagens dos seus ídolos produzindo e compondo canções clássicas com imagem e sonoridade mais clara. A série documental foi lançada pela Disney e alcançou um sucesso gigante, que motivou Paul McCartney a usar a inteligência artificial desenvolvida por Peter Jackson para revisitar aquela canção que ficou de lado em 1995.
A canção perdida enfim teve seu lançamento em novembro de 2023, com o nome “Now and Then”. Considerada a “última canção dos Beatles”, já tem uma repercussão gigantesca que tomou a internet na semana de lançamento, e foi lançada junto com um videoclipe que reúne os quatro membros da banda por meio da inteligência artificial.
Para uma análise da canção lançada, ESQUINAS contatou os membros do canal Alta Fidelidade, no Youtube, Luiz Felipe Carneiro e Fábio Vianna (Biofá), que comentaram suas impressões sobre “Now and Then”.
Canal Alta Fidelidade, no Youtube, com Luiz Felipe Carneiro e Fábio Vianna (Biofá).
Foto: Alta Fidelidade/YouTube
Luiz relata ter gostado muito da música e vê o lançamento como um privilégio, por estar vivo em uma época que os Beatles estão lançando algo. Por outro lado, ele se sente mal de não perceber a qualidade em nenhuma outra canção lançada nos últimos vinte anos. “É muito bom viver em um tempo em que temos uma música nova dos Beatles para escutar, e ao mesmo tempo é triste constatar que nenhuma banda nos últimos vinte anos fez uma música desse nível”.
Diferentemente de Luiz, seu parceiro de canal Biofá diz não ter sentido o peso das canções clássicas da banda britânica no novo lançamento. Ele ainda afirma que a maioria das pessoas que conhecem os Beatles superficialmente não estão se importando com a qualidade da música, uma vez que estas consomem a canção como um produto do momento.
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Para Luiz, por mais que a música tenha tocado seu coração, ele não acredita que possa ser considerada um clássico, e aqueles que consideram isso, sofrem da necessidade de presenciar momentos históricos, copiando chavões e clichês anualmente sempre que são lançadas obras de artistas clássicos.
Fábio Vianna, que também é músico, diz aceitar novas tecnologias como meio de produção musical, porém considera o uso de vozes geradas a partir das inteligências artificiais algo oportunista, tirando a identidade artística e estética das obras originais.
Por fim, para ambos os membros do Alta Fidelidade, a música sofre por uma falta das características musicais dos Beatles, o que é compreensível visto que a música foi inteiramente lapidada sem a interferência artística de George Harrison e John Lennon. “Sim, o fato dessa música ter sido produzida apenas pelo Paul e pelo Ringo faz com que, na minha opinião, não possa ser considerada obra dos Beatles. Se a música fosse realmente boa e tivesse o George tocando, talvez eu consideraria de outra forma”, diz Biofá.
Por cima de todas as polêmicas e discussões envolvendo a canção, ela foi muito bem recebida pelo público admirador da banda e a internet já conta com diversos textos e vídeos discutindo a respeito. A canção já está disponível em todas as plataformas digitais, e o videoclipe pode ser assistido no YouTube ou na plataforma de streaming da Disney.
Editado por Daniela Nabhan
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