Anavitória, de Tocantins para Lisboa - Revista Esquinas

Anavitória, de Tocantins para Lisboa

Por Isabela Barreiros e Karolyne Oliveira : julho 2, 2018

A trajetória do duo Anavitória que cativa o coração e os ouvidos dos brasileiros e do mundo

A dupla formada por Ana Caetano e Vitória Falcão, que deu origem à fusão Anavitória, inaugurou um novo estilo musical denominado por elas mesmas como “pop rural”. Ambas estudaram no mesmo colégio em Araguaína, no interior do Tocantins, mas não eram mais do que apenas conhecidas quando o destino deu uma virada repentina. Ao se conversarem pela primeira vez, perceberam que o amor pela música era comum às duas e começaram a cantar juntas. Gravaram vídeos para o Youtube, primeiramente de covers, mas depois vieram as músicas autorais. Com uma típica calmaria de domingo, as músicas acústicas com letras doces conquistaram rapidamente o público e mostram a formação de uma nova MPB que se arrisca e surpreende.

Pequenas

Caetano e Falcão seguiam carreira nas tradicionais áreas de Direito e Medicina, passando alguns anos na faculdade. Mas, com a descoberta da paixão mútua pela música, a história do duo começa a florescer. O sucesso foi algo inesperado: a princípio, não planejavam viver da música – o sonho era apenas algo interno e distante. Os vídeos de covers postados em um canal no Youtube levaram a um número de visualizações que só crescia, demonstrando o grande potencial das meninas de Araguaína.

Um violão, o encontro de vozes e, mais tarde, composições próprias foram os elementos que geraram “Anavitória” e que chamaram a atenção de Felipe Simas, empresário que as atende até hoje. Foram apadrinhadas por ele e por Tiago Iorc, outro cantor brasileiro queridinho do público jovem. Em 2015, viajaram para São Paulo com o intuito de gravar o primeiro EP, um “miniálbum” para divulgar o trabalho de músicos em ascensão, que foi denominado com o nome do duo.

Com letras de música que se assemelham a poesias, Ana Caetano é a principal compositora, enquanto Vitória Falcão faz a melodia por si só. Juntas, cantam um ritmo folk misturado com pop de raízes e referências múltiplas, originando o tal do “pop rural” característico da dupla. Elas unem a música popular da terra natal, o pop atual e um folk mais “abrasileirado”. As duas se equilibram: liso e cacheado, curto e longo, branco e preto. Tudo isso formando uma música calma, acústica e romântica.

“Singular”, uma das canções mais conhecidas e amadas pelo público, conta a rotina de um casal, suas perfeições e constantes imperfeições, com um toque de delicadeza na letra simples e cheia de rimas afetuosas de Caetano. “Trevo” é a sorte do amor, tão raro e especial que parece “pedaço de sonho”, perfeita para ouvir em um “domingo à toa”. Por fim, “Cor de Marte” possui todas as sensações que envolvem o “sentir” em sua forma mais plena, objetiva e subjetivamente. São canções do álbum “Anavitória”, lançado em 2016, e que falam sobre o amor, assim como todas as outras melodias da dupla.

Participações plurais

Anavitória não tem medo de fazer parcerias musicais com cantores de diversos estilos: no começo da carreira, juntara-se ao “padrinho” Tiago Iorc e criaram “Trevo” e surpreenderam ao lado do rapper Projota com a música “Linda”. Constantemente são confundidas por pessoas que acham que são uma dupla sertaneja – o apresentador da Rede Globo Faustão cometeu o erro em um de seus programas – mas em “Fica”, realizado em parceria com Matheus & Kauan, mostraram que não têm problema algum com o estilo musical. No Carnaval de 2018, nasceu “Clareiamô” com participação do rei do axé Saulo Fernandes. E, para entrar no clima da Copa do Mundo da Rússia, dias antes da abertura oficial, lançaram “Agora é Hexa” com colaboração do grupo de pagode Atitude 67. A lista é grande e tendem só a aumentar. A pluralidade natural do duo faz com que essas colaborações rendam boa música e público satisfeito.

As meninas arriscam – e acertam. Os projetos feitos pela dupla são bem pensados, originais e encantam os fãs. Em 2017, por exemplo, lançaram o EP “Anavitória Canta para Pessoas Pequenas, Pessoas Grandes e Não Pessoas Também”, em comemoração ao Dia das Crianças. O disco tem quatro músicas pensadas tanto para o público infantil quanto para o adulto e mistura os dois “mundos”. Três delas são clássicos da música brasileira (“Pirlimpimpim”, “Sideral” e “O Leãozinho”), mas a última é uma canção autoral: “Mistério” é melodiosa e a letra tem um quê de pergunta de criança.

Em seguida, em fevereiro de 2018, retornam com “Anavitória Canta para Foliões de Bloco, Foliões de Avenida e Não Foliões Também”, novamente com três clássicos e uma inédita parceria com Saulo Fernandes. O EP foi pensado de acordo com a Era de Ouro do rádio, quando artistas brasileiros gravavam álbuns dedicados especialmente para o Carnaval, cantando as marchinhas e sambas, hoje característicos da festa e muito bem representados pelas duas cantoras.

Outro projeto bem sucedido é a mini turnê em junho deste ano, voltada para o Dia dos Namorados. Caetano e Falcão cantam com Nando Reis canções de amor e exalam romantismo em cima dos palcos. Os três artistas passaram por Recife, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, levando shows intimistas que venderam todos os ingressos. A sacada foi combinar o pop folk típico de Anavitória com o som acústico solo de Reis.

Além disso, Anavitória já tem sua estreia no cinema marcada. A comédia romântica musical “Ana e Vitória”, dirigida pelo brasiliense Matheus Souza, estreará em agosto de 2018 nas telas brasileiras e contará com a inédita atuação das duas artistas, músicas novas e participações especiais. O longa narra, de maneira romanceada, a história das meninas do interior de Tocantins que conquistaram o Brasil com suas melodias de assuntos do coração.

Das origens ao exterior

As músicas da dupla só se tornaram realidade após um financiamento coletivo online para a produção do primeiro álbum. A iniciativa alcançou o valor de 50 mil reais, treze dias antes do prazo final. Após a conquista do público, a voz das duas garotas de 23 anos aparece em diversas trilhas sonoras de novelas globais – na edição de “Malhação: Pro dia nascer feliz” e em outras narrativas da Rede Globo como “O Outro Lado do Paraíso”, “Orgulho e Paixão” e “Segundo Sol”.

Nos shows, as artistas estão sempre de pés descalços, fora em ocasiões especiais, e as roupas já são marcas em cada uma: Ana Caetano veste branco, enquanto Vitória Falcão, preto, sempre se complementando. A ida para São Paulo veio com o sucesso do duo. Em diversas entrevistas, disseram que foi surpreendente a velocidade como tudo aconteceu e que são gratas por tudo isso. Em um período de tempo relativamente curto, deixaram de lado suas respectivas faculdades, seu estado e mergulharam de vez na música – o que deu certo, rendendo até indicações ao Grammy Latino nas categorias de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro e Melhor Canção Brasileira, que levaram o prêmio para casa por causa de “Trevo”.

No final do mês de junho deste ano, mais um capítulo da história do duo Anavitória se concretizou: as duas se apresentaram no primeiro final de semana do Rock in Rio Lisboa. Foi o primeiro grande show fora do continente americano. Além de cantarem sua música calma e cativante no palco Music Valley, foram convidadas para cantar ao lado do português Diogo Piçarra, cantor de pop, rock e hip hop que se consagrou na edição de 2012 do programa de talentos “Ídolos” da versão de Portugal. Mesmo fora do continente natal, as jovens tiveram suas músicas entoadas pela plateia do festival.

Com apenas três anos de carreira, o duo que saiu de Tocantins foi longe e alcançou patamares até então inimagináveis para quem achou que seria médica ou advogada. O sonho pela música fez com que o mundo enxergasse o estado mais jovem do País, nunca antes representado tão fortemente, e deixou no rosto dos brasileiros um sorriso bobo, típico do pop rural das duas meninas de Araguaína.