Nas areias de Madagascar: conheça a história de Edy Lemond, o “Ícone do Eletrofunk” - Revista Esquinas

Nas areias de Madagascar: conheça a história de Edy Lemond, o “Ícone do Eletrofunk”

Por Juliano Galisi : março 1, 2021

Após fazer sucessos com várias músicas, Edy Lemond se reinventa cantando suas composições como funk no beat mandela

No início da década de 2010, um estilo musical contagiante e descontraído tomou conta das ruas e festas no Sul do país. Não demorou muito para que, por meio da internet, as letras do eletrofunk se espalhassem pelo Brasil. Mesclando elementos do funk carioca com outros da música eletrônica, o ritmo se tornou uma febre na voz de vários artistas, entre eles, Edy Lemond.

Autodenominado “Ícone do Eletrofunk”, Edy resgatou letras antigas numa parceria com o DJ Lucas Beat em 2020. Cantadas agora no beat mandela, o pot-pourri Tuts Tuts Quero Ver/ Pensando Em Você teve seu videoclipe produzido pelo KondZilla, maior produtor musical de funk do país. A fusão de ritmos deu super certo e as músicas estão viralizando novamente.

O começo

Ednaldo Silva nasceu no dia 14 de julho de 1989 em Parauapebas, localizada no interior do Pará, e a 700 km de Belém, capital do estado. Entretanto, Edy passou parte da infância em Canaã dos Carajás, município vizinho ao local de nascimento e, aos 12 anos, partiu com a família para Brasília (DF).

Desde criança ele já vendia sacolé nas ruas e não foi diferente quando era adolescente, trabalhando seis dias por semana numa loja de brinquedos na Feira dos Importados de Brasília, grande centro comercial da região.

Após essas vivências, ele começou sua carreira musical no rap, mas logo migrou para a modalidade do funk automotivo, caracterizado pelos paredões de som hidráulicos instalados em automóveis.

Como MC, Edy percorreu o Brasil todo participando de campeonatos de rima, compondo músicas especializadas para a reprodução nos carros de som. Foi justamente uma dessas letras que chamou a atenção de Jeovane, DJ de Chapecó, Santa Catarina.

Foi através de Jeovane que Edy conheceu o eletrofunk. “Ele me ligou perguntando se eu não queria ir para o Sul conhecer um pouco do eletrofunk. Também falou que o ritmo fazia sucesso por lá e era conhecido pelos produtores, que já tinham o ‘feeling’ de como gravar nesse estilo”, lembra o cantor.

Nas paradas de sucesso

Pela sorte de Edy, o eletrofunk possui raízes no som automotivo e, até hoje, os paredões de som são comuns em festas universitárias que têm o estilo como carro-chefe. Essa proximidade abriu portas para que, a partir do convite do DJ Jeovane, Edy chegasse com tudo no Sul do país.

A primeira música dele que bombou foi Taca Cachaça, a mesma que chamou a atenção de Jeovane. A partir daí, firmou-se uma parceria entre o cantor e o DJ, e o movimento eletrofunk se fortaleceu. “Tínhamos de 10 a 15 músicas estouradas no interior dos estados do Sul. Até então, aquilo só tinha acontecido com sertanejo, contando ainda com muita injeção de dinheiro”.

Edy Lemond foi compositor de muitas letras que viralizaram nos anos seguintes, inclusive daquela que inaugurou o alcance nacional do estilo: Ai Como Eu Tô Bandida, performada por MC Mayara.

Durante esse boom do eletrofunk, Edy escreveu para outros artistas e emplacou sucessos com interpretações próprias, como Ui, Adoro e Pensando em Você. Muito da visibilidade nacional que as músicas ganharam se deve à internet, que permitiu a viralização dos videoclipes como memes – vale lembrar que, naquela época, os virais ficavam mais tempo em alta do que hoje.

A euforia de todo meme, porém, tem validade. Quando o prazo expirou, o eletrofunk não conseguiu se sustentar. Segundo Ednaldo, isso ocorreu pois o estilo “caiu muito no plágio”.

Ele também relata que as músicas utilizavam elementos copiados de músicas estrangeiras e, por conta disso, as rádios não podiam inseri-las na programação. A polêmica ganhou contornos jurídicos com os artistas que se sentiram lesados, o  que levou a uma estagnação do eletrofunk.

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Nova fase na carreira de Edy Lemond

Para fugir dessa situação do eletrofunk, Edy procurou parcerias que dessem uma identidade própria para as suas músicas, mudança que inaugurou um novo estágio de sua carreira. Seu maior sucesso, Madagascar, consagrou-se em festas e rádios justamente por não depender de trechos plagiados.

Impulsionadas por streamers de Free Fire e pelo Tik Tok, canções de quase uma década de existência estão em alta novamente. Esta é apenas uma nova fase de uma carreira marcada pela metamorfose.

Ednaldo já cantou em espanhol, fez show na Tailândia, profissionalizou seus videoclipes e, agora, experimenta sua voz no beat mandela,  tendência do funk atual que surgiu nos bailes da Baixada Santista. “O público abraçou demais essa junção. [O funk] é um ambiente muito acolhedor.” Perguntado se esse novo estilo será definitivo, Edy responde: “Eu só estou onde me abraçam. Se o público um dia me abraçar no forró, é para lá que eu vou.”

Apesar da proximidade com o funk, as músicas de Edy ressaltam o diferencial de suas letras: ausência de conteúdo explícito. “É uma parte boa do movimento eletrofunk. Nunca fiz nada explícito, o máximo que tem é um duplo sentido – mas isso tem no pagode, no forró, tem em tudo. Quando eu finalizo uma letra, mostro primeiro para meus amigos e familiares, tenho que pensar nisso”, diz o cantor.

A popularidade repentina dessas músicas é boa para todos, mas denota como o eletrofunk tinha potencial para ter crescido muito mais ao longo dos anos e não o fez. Seja pelo plágio ou pelo estigma do ridículo, o movimento acabou perdendo força para outras modalidades ao longo da década, como o próprio funk carioca. Edy Lemond seguiu uma carreira sólida durante esses anos, acumulando mais de 50 milhões de reproduções só no YouTube.

Ouça a playlist de Edy Lemond junto com o DJ Lucas Beat:

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