O “sem nome” de Liverpool - Revista Esquinas

O “sem nome” de Liverpool

Por Larissa Basilio : novembro 22, 2018

Foto por: NIck Fewings / Unsplash

Álbum Branco comemora 50 anos na história da música

Em 22 de novembro de 1968, os reis do “iê, iê, iê” lançavam um álbum sem nome, apelidado pelos fãs de White Album. O álbum duplo, com duração de mais de uma hora e meia, marcava o abandono lisérgico, já visto nos álbuns anteriores Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band e Magical Mystery Tour, retornando a base do grupo.

White Album foi gravado entre maio e outubro do mesmo ano no Abbey Road Studios e teve na produção o “quinto Beatle”, George Martin, além de Chris Thomas. A maioria das composições do disco foi feita durante a meditação transcendental em Rishikesh, cidade na Índia, enquanto os fab four aproveitavam o momento zen com o guru Maharishi Mahesh Yogi.

Yogi é responsável pela criação da técnica de meditação transcendental, uma forma de meditação que envolve o uso mental de mantras, permitindo que a mente atingia um estado de “vigilância tranquila”. Se, na teoria, os garotos ingleses deveriam atingir um estado de plenitude, a dupla Lennon & McCartney fugia, às escondidas, segundo se sabe, para conceber as ideias iniciais do futuro álbum.

Os Beatles não ficaram até o fim do tempo planejado na meditação. Voltaram antes para a Inglaterra, insatisfeitos com os métodos e comportamentos do guru. O primeiro a partir foi o baterista Ringo Starr. McCartney voltou em seguida, e Harrison e Lennon foram os últimos.

A capa do álbum é assinada pelo artista pop Richard Hamilton, responsável pela criação da arte dos dois discos anteriores. Na arte, há apenas uma capa branca, com o nome da banda em relevo, contrastando com o que foi feito antes.

Minimalista, White Album, na verdade, é um apelido do disco sem nome
Divulgação

Diversos biógrafos dizem que no Abbey Road Studio, a indisciplina regia o quarteto enquanto a tensão entre eles crescia. O período foi produtivo tanto em termos musicais quanto nas discussões entre os membros da banda. Estava claro que eles não eram mais uma unidade coesa. Os integrantes estavam seguiam seus próprios rumos musicais e individuais. Os garotos de Liverpool não eram mais os mesmos.

Ao todo, 30 músicas entram no álbum, um flerte com diversas vertentes musicais. Nada soava como o que já havia sido feito. Em um percurso conjunto que chegava ao fim — o último show foi feito no telhado da Apple Records, em Londres, em janeiro de 1969, e o Let It Be, o último álbum, lançado em maio do ano seguinte. O som feito era primoroso, profundo e complexo.

A abertura é feita pela música Back in the USSR, uma espécie de “piada” à la Beach Boys cantada por Paul com seu forte sotaque inglês. Na conta de Macca, podemos colocar também baladas acústicas como a icônica Blackbird, além de I Will e Mother’s Nature Son. O destaque, é claro, foge das baladas. Helter Skelter é considerada a progenitora do heavy metal e foi concebida para ser  uma música suja, barulhenta e gritada com toda a força. O serial killer americano Charles Manson alegou se inspirar na música para realizar seus crimes, fato que gerou controvérsia em relação à canção.

Lennon, em suas canções, não obteve o mesmo apelo comercial que seu parceiro. Sua sonoridade indicava um caminho diferente, mais expansivo. Dear Prudence, dedicada a Prudence Farrow, irmã da atriz americana Mia Farrow, explora de maneira delicada a transição e junção dos instrumentos, convidando o ouvinte a abrir os olhos e olhar o céu azul lá fora. I’m So Tired, décima faixa, é um relato sobre uma rotina enfadonha. Happiness Is a Warm Gun mostra o lado de experimentalismo lírico de Lennon.

Das mãos de George Harrison saíram Piggies, Long, Long, Long, Savoy Truffle e While My Guitar Gently Weeps — que teve a participação do talentoso guitarrista e amigo pessoal de George, Eric Clapton. A música, considerada um sucesso imediato, contém um dos solos mais emocionantes do mundo da música. O baterista Ringo Starr cantou a animada Don’t Pass Me By, além de encerrar o Álbum Branco com Goodnight, composta pela dupla Lennon e McCartney.

Internacionalmente, para marcar o aniversário de 50 anos do White Album, a obra está sendo relançado em vinil, além de uma caixa de seis CDs com um livro e uma edição especial com outros três. O álbum é considerado um dos 200 álbuns definitivos do Rock and Roll Hall of Fame.