O grupo musical goianiense que conquistou uma legião de fãs brasileiros ao misturar música, comédia e bom humor
“A comédia exige um talento, um estudo que pouca gente leva. Ela muitas vezes dá a impressão errada de que basta que você seja engraçado para fazer comédia. Exige estudo, exige repetição.”, diz Fabiano Cambota, fundador da banda Pedra Letícia. Em 2025, o grupo completa 20 anos de um trabalho que une a dedicação ao humor e à música com um único objetivo: divertir o público.
No dia 14 de outubro, Fabiano Cambota (vocal, violão e guitarra), Pedro Torres (bateria) e Kuky Sanchez (baixo), realizaram o primeiro show da turnê de 20 anos, em São Paulo.
Segundo Cambota, a turnê de 20 anos traz o diferencial de ser a primeira composta apenas por músicas próprias, sem covers. A banda também conta com o auxílio de Dan Barreto, integrante da banda Bravaguarda, que recebeu o título de “funcionário do mês” da turnê. Dan passou a integrar o grupo após a saída de Xico Mendes, membro desde 2010, comunicada no perfil oficial do Pedra Letícia em fevereiro de 2025. “A gente passou por momentos muito difíceis no final do ano passado, com tudo que aconteceu, e sabe quando parece que vem alguém para tirar o peso do ambiente? O Dan, mesmo sem saber, naquele momento exerceu esse papel.’, completa o vocalista.
Esta não foi a única mudança que a banda sofreu ao longo de sua existência. Durante o show, Cambota comenta sobre algumas músicas que chegaram a sair do repertório ao longo dos anos, por terem “envelhecido mal”, mas que foram trazidas de volta ao setlist nesta turnê comemorativa. Quando questionados sobre os motivos de trazê-las de volta, ele conta:
“Quando eu escrevi uma música em 2007 que falava: “Vou namorar um traveco”, ela tinha um peso. A gente não pode ser anacrônico de tentar colocar o peso de hoje nessa música que eu escrevi há quase 20 anos. Não tem, é fato. Tanto é que essa música foi tema de uma associação LGBT, que se não me engano é de Uberlândia, que tinha a música como tema. Ou seja, não ofendia.”
Cambota afirma mais de uma vez ao longo do show que, em nenhum momento teve a intenção de ofender alguém enquanto escrevia as músicas que fazem parte do repertório do Pedra Letícia. “O filtro não está no microfone. O filtro está no fone. É em quem escuta. A pessoa não pode pegar a letra da música e pressupor que toda letra seja autobiográfica ou defenda uma tese. É uma bobagem. Não é difícil entender que existe um eu lírico”.
“É um idiota cantando. Se eu escrevo uma música pressupondo a voz de uma mulher, por que que eu não poderia escrever na voz de um idiota?”
A resposta sobre o humor ácido de suas letras gera o questionamento: qual é o espaço que a “voz do idiota” tem hoje no cenário musical brasileiro? Já sofreram preconceito no mercado musical? Há lugar para o humor na programação de festivais, rádios e prêmios?
“Normalmente não. Não é dizer, por exemplo, que nós tocaríamos no dia das bandas divertidas. Não. Normalmente em festivais nós fazíamos no dia do rock pesado. O que muitas vezes parecia antagônico. Mas a gente também tinha uma galera. Muitas vezes a galera do rock era uma galera que só queria se divertir também.”
“Acostumou-se o planeta a encarar a comédia como uma arte menor.”, diz Fabiano Cambota.
Pedra Letícia, que já se apresentou ao lado de nomes do rock como Glória, Matanza, Massacration e Raimundos, mostrou no Teatro Gazeta, na Avenida Paulista, que seu talento vai muito além das guitarras – o show contou com a presença de Leandro Valentin, violeiro, para a música “Crença”, trazendo uma lembrança das raízes goianas da banda.

Kuky Sanchez, Dan Barreto, Fabiano Cambota e Pedro Torres. Foto: Bruna Cravo.
Mesmo após 20 anos de estrada, o carinho do público ainda surpreende a banda — e é retribuído com a mesma intensidade. Após atenderem todos os fãs que os aguardavam para fotos e conversas, os músicos mostraram-se igualmente gentis e solícitos, apesar do cansaço da noite.
“Uma banda durar 20 anos é muita coisa. Você viver de fazer as pessoas sorrirem, é um privilégio. Olha o que acabou de acontecer. Tinham 700 pessoas aqui dentro hoje. Então, se a gente conseguiu impactar 100, já é muito. É muito maluco isso”, finalizou Fabiano Cambota.
A turnê de 20 anos da banda Pedra Letícia celebra o privilégio de fazer o público sorrir. Em data extra, eles retornam no dia 06/11/2025, ao Teatro Gazeta, em mais uma noite onde a comédia e a música se unirão para comemorar a resistência do grupo, com letras que, mesmo que você saiba de cor, sairá sentindo que as conhecia desde sempre.
“Quando quiserem se divertir, a gente vai estar aqui”.

Agradecimentos finais. Foto: Bruna Cravo.
Editado por Giulia Dardé
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