“Uma das poucas figuras históricas que realmente é um ídolo na minha vida”: o legado de Hendrix para a música - Revista Esquinas

“Uma das poucas figuras históricas que realmente é um ídolo na minha vida”: o legado de Hendrix para a música

Por Gabriel Serpa, João Victor Oliveira, Marcos Ramos, Matias Patrone Camilo, Miguel Teles e Ricardo Sparvoli : janeiro 6, 2022

Foto: Acervo Pessoal

Mesmo após mais de 50 anos de sua morte, Jimi Hendrix continua influenciando artistas e estudiosos, tanto musicalmente quanto politicamente

Nascido em 27 de novembro de 1942, na cidade de Seattle, nos Estados Unidos, Jimi Hendrixfoi um guitarrista, cantor e compositor que marcou profundamente a história da música, sendo um dos mais influentes e marcantes da sua época. O guitarrista cresceu em uma família negra de classe média e seu sucesso teve início marcante no Festival de Música Pop de Monterey de 1967. No evento, Hendrix chegou até a disputar com a banda The Who para definir quem seria a atração inicial do festival (Hendrix perdeu em uma mitológica batalha entre ele e Pete Townsend — guitarrista da banda).

Apesar de uma carreira meteórica na reta final dos anos 60, Hendrix influenciou as próximas gerações da música dentre os mais diversos estilos e bandas, como Black Sabbath, Metallica, Pearl Jam e Red Hot Chilli Peppers. Pedro Bara, guitarrista e vocalista da banda Orchestra of Dawn, é um dos artistas influenciados atualmente pelo estilo da lenda, mesmo após tanto tempo.

“Ele é uma das poucas figuras históricas que eu posso dizer que realmente é um ídolo na minha vida, ele é uma figura que eu gostaria de seguir apesar de todas as polêmicas que envolvem o nome dele. Ele me inspira desde a forma revolucionária com que ele lidava com o mercado da música, com os aspectos negativos que a música era visto na época, até incentivando a gente a quebrar os limites. Eu acho que ele é um artista que, na minha opinião, melhor exemplifica a liberdade artística, a liberdade para tudo na vida, ele é uma das maiores figuras que remetem a esse espírito de viver esse modo de vida.” – Pedro Bara, guitarrista

O jovem artista de 20 anos, juntamente com sua banda, vê em Hendrix uma referência para os lançamentos mais recentes. Seu primeiro álbum solo, ‘Heading to the Moon’, e seu EP com a Orchestra of Dawn, ‘Carnival’, refletem essa fonte de inspiração.

“O jeito que a gente gravou as músicas teve muita influência dele e a forma como reproduzir também. Acho que a influência dele nos meus dois trabalhos também tá na parte da composição por ser um artista que admiro muito e praticamente o que eu aprendi de guitarra, metade veio dele. Acaba influenciando na minha carreira consciente ou inconscientemente.” – Pedro Bara, guitarrista

Bara ainda explica que a música Tilt O’ Whirl, do seu álbum solo Heading to the Moon, bebe muito do rock psicodélico dos anos 60 e em estilos próximos ao de Hendrix. Ao longo dessa década, Jimi Hendrix trouxe para sua música influências do blues, R&B, jazz e funk juntamente com a própria música contemporânea. O som que ele fazia trazia inspirações de gêneros musicais mais antigos com uma roupagem elétrica que, então, era novidade.

Hoje é possível encontrar no set de qualquer baixista ou guitarrista acessórios como os pedais de wah wah, fuzz e oitavador, no entanto, Jimi Hendrix foi pioneiro na adoção e no uso destes recursos. Segundo Dan Mazzocato, graduado em música, ator e guitarrista, 30, o artista norte-americano sentia a necessidade de regular sua guitarra, logo ele integrou os pedais de wah wah, afim de suprir essa necessidade. Ele regulava e dava microfonia.

“A parte do dedão é influência do blues. Ele tinha uma mão muito grande, e dessa forma conseguia fazer a base e o solo ao mesmo tempo, trazendo aquela ideia dos ‘bluesmen’, violonistas antigos. É uma maneira ‘guitarrística’ que ele achou e que funciona muito bem para tocar sozinho e criar tudo o que ele criou.” – Dan Mazzocato, músico

De acordo com o músico e musicista, Hendrix reinventou o uso da guitarra e passou a usá-la para fazer tudo. Ele controlava os graves e os agudos. Conseguia realizar tudo com um “equipamento ruim” e provou que era possível fazer independente da qualidade do instrumento. “Ele tentava tocar um piano com a guitarra”, completou Dan.

Bara também cita a inovação do guitarrista na música, e que ao longo de sua carreira sempre buscou revolucionar aquilo que fazia. Elementos que foram implementados pelo artista passaram a ser tratadas como padrão e pilares do timbre de guitarra hoje em dia. Bara conta também que busca esse caráter para si, para suas canções, a maneira de vestir e de pensar, “é uma influência o tempo todo”, conclui.

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Com a sua famosa performance do hino nacional dos Estados Unidos, na qual simulou barulhos de bombas e pessoas gritando utilizando seu pedal wah wah como crítica à incoerente Guerra do Vietnã, Jimi Hendrix nunca visualizou sua grandiosidade para a música em vida. Em entrevista ao programa The Dick Cavett Show, era modesto em relação ao seu talento e considerava sua forma de tocar guitarra algo a se tornar obsoleto.

“O Woodstock foi a despedida do Hendrix. Eu percebo que ele estava fora e fez esse show de uma forma ‘improvisada’. Foi uma despedida mesmo. Foi um grande momento no qual ele mostrou que não estava alienado. Sempre se posicionou contra a guerra e a favor do amor. Deu o máximo dele naquele show.” – Dan Mazzocato, músico

2021 marcou os 51 anos da morte de Jimi Hendrix. O guitarrista contribuiu com as gerações seguintes enormemente. Não apenas por sua capacidade técnica altíssima no manejo de seus instrumentos, como demonstrava ao tocar guitarra com os dentes ou detrás de sua cabeça, mas também por fundir elementos de gêneros musicais diversos. Isso, sem deixar de relacionar sua obra com os acontecimentos do período em que esteve ativo, condição sine qua non para que buscasse inovações nos seus arranjos e composições.

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