Paulo Lins, autor do livro que deu origem ao filme, fala sobre sua trajetória, racismo no Brasil e critica ações do governo
“Hoje eu vivo de escrever e não é fácil”, diz Paulo Lins, autor da obra Cidade de Deus, em entrevista ao Centro Acadêmico Vladimir Herzog (CAVH) da Faculdade Cásper Líbero. Durante a live, que ocorreu na última quinta-feira, 13 de maio, o autor contou sobre sua carreira, além de expressar sua indignação com questões sociais, como o sucateamento das universidades públicas e a ação policial no Jacarezinho.
O escritor descreve sua trajetória na faculdade de letras, que cursou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com destaque para a poesia independente, gênero com o qual ele sempre teve maior proximidade. Foi por meio de uma pesquisa de doutorado que surgiu o livro Cidade de Deus. Um poema de Lins chegou até o crítico literário Roberto Schwarz, que tinha o objetivo de incentivar a escrita de um romance com o olhar íntimo e sensível do autor sobre o cenário da criminalidade.
Racismo no País
O autor cita a importância da luta contra o racismo no Brasil. Como a população que vive na favela é majoritariamente negra, essa parcela da sociedade alcançou as vagas na universidade por meio do ensino público dessas instituições. Foi através delas que Lins conseguiu mudar de classe social. O escritor se posiciona à esquerda e diz que busca uma sociedade igualitária com acesso a direitos básico. Reforça o surgimento e a popularização dos movimentos sociais que deram voz a grupos que sofrem com o descaso governamental.
“O macho adulto branco sempre no comando”, critica o autor, parafraseando Caetano Veloso. Lins acredita que é necessária a militância das vozes que são ouvidas pela sociedade, de forma não protagonista, para que o movimento social alcance os mais variados públicos.
Chacina no Jacarezinho
Ele critica a violência policial contra a população periférica, em especial a operação policial na favela do Jacarezinho, em 6 de maio, que oficialmente tinha o intuito de conter o tráfico de drogas, mas acabou sendo a mais letal da história do Rio de Janeiro. “A polícia no Brasil é assassina, a polícia no Brasil não presta e eu não sei quando isso vai mudar”. Comparando a chacina com o conflito entre Israel e Palestina, ele afirma: “Lá é uma guerra declarada e morreram 80 pessoas. Aqui no Brasil, que não tem uma guerra declarada, morreram 27 semana passada”.
Para o escritor, o cerne da questão é a escravidão: “Países que têm desigualdade social, pelo menos no ocidente, tiveram escravidão e extermínio de indígenas. Os países continuam pagando por isso”. Segundo ele, as economias modernas de países imperialistas tiveram como base o tráfico de escravos. Com o início da revolução industrial surge outro tipo de economia, mas a base dessa riqueza foi formada pelo sofrimento da escravidão em países colonizados, como o Brasil.
Autor critica governo
Lins contesta a propaganda negacionista realizada pelo governo em meio a uma pandemia e a falta de investimentos à cultura e à ciência: “Eu nunca pensei que isso fosse acontecer no Brasil”. Um ano após a posse do atual presidente, o ministério da cultura foi extinto, sendo anexado, juntamente com suas atribuições, ao ministério da cidadania. Em 2020, foram cortados 3,6 milhões de reais do orçamento da Secretaria da Cultura.
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Cinemas de rua: um retrato da resistência
“Quando você enfraquece a cultura de um povo, você enfraquece esse povo”, diz Paulo Lins. Ele está escrevendo uma série sobre a anulação da cultura dos povos escravizados ao chegar ao Brasil, desde a proibição do uso da sua própria língua e religião à guerra.
Para Paulo Lins, “o governo tem como ideal a precarização da educação com o intuito de manter a população alienada”. As universidades públicas são um dos maiores focos de pesquisa do País, além de possuírem acervos, museus, hospitais escola e outras entidades que fazem parte das instituições.
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