Um ambiente transformado - Revista Esquinas

Um ambiente transformado

Por Gustavo Ramos, Mariana Barros e Samirah Fakhouri : maio 22, 2018

Atrações tomam conta e divertem público no Parque da Juventude, antigo Carandiru

No primeiro dia da Virada Cultural de 2018, sábado 19, o sol deixou o céu de forma despercebida, se pondo atrás das nuvens de chuva que tingiam o céu de cinza. Logo o escuro da noite tomou conta do Parque da Juventude, zona norte de São Paulo. Aos poucos, as pessoas foram chegando e entrando no espaço do parque, onde o evento chegou neste ano, graças aos projetos de descentralização. “Mulheres para a esquerda, homens a direita” diz uma segurança, indicando com a mão o portão, em que outros guardas realizavam a vistoria. Feixes de luz desenhavam círculos no céu, revelando onde estava o palco principal, batizado de Parque dos Encontros.

Balões com luzinhas de LED indicavam o caminho em meio a escuridão. O clima do parque parecia ser fruto de um sonho, já que projetores tingiam com diferentes formas e cores as paredes que restaram do antigo presídio que se encontrava no local. Palhaços faziam bolhas de sabão que se tornavam vultos no ar gelado. Longas sombras caminhavam sobre pernas de pau, eram artistas de circo que sorriam e faziam graça para as pessoas que passavam.

Crianças brincam com bolhas de sabão no Parque da Juventude na madrugada do sábado para domingo
Samirah Fakhouri

Vindo de uma das entradas, um grupo de jovens com roupas brancas e chapéus de palha caminhavam sincronizados, cantando cantigas de pescador. Era a Turma 68, um grupo de estudantes da escola de artes dramáticas da USP, realizando a intervenção chamada “Pescadores”. Para as pessoas que observam curiosas em volta, eles entregam um pequeno barquinho de papel e continuaram suas andanças, sempre cantando.

Mais à frente é possível notar uma tenda montada, repleta de luzes e flores penduradas. Ali ocorre o chamado Camarim, um local onde qualquer pessoa pode passar pela experiência de estar em um camarim real. Maquiadores profissionais pintam os rostos de quem se senta nas cadeiras postas pela tenda, os interessados recebem uma maquiagem cheia de glitter e quem quisesse poderia fazer uma trança enfeitada de flores.

Em meio as arvores do parque, era possível escutar clássicos nacionais, ali estava o Palco do Karaokê. Quem esteve por lá pode ter seu momento de fama. Conversamos com Kelly, de 46 anos, que estava se arrumando para ser mestre de cerimonias da atração. “É minha quarta vez participando da Virada, cada vez é uma experiência diferente”, conta entusiasmada para os dois dias de muita cultura que estavam começando.

A descentralização do evento possibilitou que pessoas fossem participar das festividades pela primeira vez. É o caso de Claudio, 46, morador da região, que levou suas duas filhas para conhecer o evento. “Estou achando demais! É perto de casa e é mais tranquilo, diferente do centro que é mais lotado” nos conta alegremente, enquanto observa com as filhas as pessoas cantando as mais diferentes músicas no karaokê.

Banda Glória com participação de Não Recomendados
Gustavo Ramos

No Tablado de Artes, ocorreram diversas apresentações, uma delas chamada “A Roxa”, realizado por um grupo do terceiro ano da Escola Técnica Estadual de Artes, a Companhia Aquarela de Corpos, que se apresentaram pela primeira vez em uma Virada Cultural após muita luta para conseguir o espaço. A apresentação de teatro é uma adoração a peça de Plinio Marcos, da década de 80, chamada de “A mancha roxa”, uma obra que critica a violência e a invisibilidade das pessoas na sociedade, principalmente no sistema carcerário brasileiro. “Estamos fazendo essa peça em um espaço que era um presídio, então eu sinto o quanto dessa peça é atual”, diz Flora, integrante da companhia.

No palco principal, durante a primeira noite, tiveram as apresentações de Gilmelândia, Banda Glória com Não Recomendados e Liniker e os Caramelows, com diversas participações extras como Silvetty Montilla, Candy Mel, Carla Visi e outros.

Entre as principais apresentações da noite, ocorreram diversa intervenções, uma delas foi uma apresentação vertical nas paredes dos edifícios originais do presídio. Suspendido por cordas, as bailarinas da Companhia K, se penduravam a cerca de 15 metros no chão. A dança sincronizada cativou todos os que testemunharam as acrobacias no ar.

Vocalista da banda Liniker e os Caramelows, Liniker canta músicas dos gêneros soul e black music
Gustavo Ramos

 

Domingo pesado de cultura

O domingo amanheceu coberto por uma frente fria. Mesmo com o céu limpo, o sol não foi o suficiente para aquecer o Parque da Juventude, na zona norte. Pessoas agasalhadas acompanhadas por família, amigos ou até mesmo por seus animais de estimação tomam conta do local.

As atrações começaram logo cedo, como o espetáculo da Banda que Voa, músicos foram pendurados por um guindaste. Logo a baixo diversas apresentações de circo aconteceram. O espetáculo cativou a atenção de todos que estavam presentes.

Uma banda se pendurou em um guindaste e tocou nas alturas, animando o dia no Parque da Juventude
Mariana Barros

“Sou veterano de virada, um ano fizemos o Aero Groove, fizemos várias travessias no centro da cidade” nos conta Quico Caldas, o diretor da Companhia K, que realizou diversas apresentações no Parque da Juventude.

“Esse ambiente mais controlado é melhor” diz Caldas, sobre a descentralização da Virada Cultural. O espaço do parque pode ser melhor fiscalizado e a menor concentração de pessoas aumentou a eficiência da segurança. Mas na visão de Quico Caldas, existem certos aspectos que poderiam mudar, “Acho que é muito focado em música, deveria expandir para outras áreas da arte. A performance ou o teatro tem mais poder de tomar conta do espaço urbano”, comenta sobre o posicionamento dos palcos e atrações.

Palhaços de perna de pau caminhavam pela entretendo o público no parque
Mariana Barros

No palco principal, Sandra de Sá contagiava a multidão com seu show. Ao mesmo tempo que palhaços, em todos os cantos do parque, brincavam com as crianças. No segundo dia, opções de entretenimento não faltaram, houve massagem corporal oferecida pelo parque, diversas oficinas de petecas e muito mais para os pequenos, na chamada Viradinha.

Às 16 horas da tarde começou o show mais aguardados do dia, Rael se apresentou com a participação da cantora Iza. Pouco antes de iniciar a apresentação, foi nítido que o parque ficou mais cheio, dificultando a passagem, centenas de pessoas vieram para curtir o show.

E assim esses cantores de peso, fecharam a virada cultural no Parque da Juventude, proporcionando boas lembranças a todos que participaram e deixando o público com um gostinho de quero mais para o próximo ano. Renata, moradora da região adorou os dois dias de muita cultura, “Me diverti bastante e acho muito importante a prefeitura promover esses eventos, trazendo arte para a população. Estou ansiosa para a próxima virada cultural”, conta com um brilho no olhar.

O público lotou o Parque da Juventude para assistir os shows do palco principal no final da tarde de domingo
Mariana Barros