A exposição excessiva nas redes sociais pode causar inseguranças e problemas de autoestima e confiança entre os jovens, afirma psicóloga
Jovens de 14 a 24 anos tem se tornado, cada vez mais, alvos de golpes nas redes sociais. Um dos exemplos desses golpes virtuais é o catfish, no qual uma pessoa utiliza de uma identidade falsa na internet. Patrícia Bertozzi, psicóloga especialista em saúde mental, explica que durante o período da adolescência, os jovens enfrentam crises de identidade e baixa autoestima, características que os tornam vulneráveis na busca por conexões significativas e pertencimento.
Em agosto de 2022, a última edição da pesquisa TIC Kids On-line Brasil, que tem como objetivo provocar evidências sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, aponta que o uso das redes sociais é a atividade que mais cresceu entre crianças e adolescentes em 2021.
De acordo com Bertozzi, esse crescimento se deu após o período da pandemia, já que adolescentes são, por natureza, indivíduos sociáveis e durante o período da quarentena precisaram ficar na internet praticamente o dia todo. A nova rotina virtual afetou a parte social dos jovens.
Após uma apuração realizada por ESQUINAS, das 56 pessoas entrevistadas, pelo menos 49% delas não se sentem seguras nas redes sociais. Os principais motivos para a insegurança são: medo de golpes, excesso de exposição e fácil acesso à informações pessoais.
Ainda na mesma pesquisa, mais de 30% das pessoas conhecem alguém que já foi vítima de golpe virtual.
Liz Rangel, 17, conta que nunca viu problemas em conversar com outras pessoas por meio das redes sociais e passou a entrar em contato com um garoto, que dizia ter amigos em comum com ela. “Como eu vi que tínhamos amigos em comum, não me preocupei tanto e logo começamos a conversar”, explica. Após algumas semanas de conversa a jovem concordou em sair com ele, mas, por precaução, resolveu contar aos seus amigos e, só assim, obteve a confirmação de que o garoto com quem trocava mensagens estava a enganando. “Na hora fiquei muito assustada. Fui tirar satisfação com o garoto e ele simplesmente me bloqueou”, relata. “Me senti totalmente enganada, eu estava realmente acreditando”, conclui.
Segundo a psicóloga, ao se envolverem com um perfil falso, os jovens desenvolvem uma ilusão de conexão e pertencimento. No momento em que a verdade vem à tona, eles se sentem enganados, inseguros e questionam sua capacidade de julgamento.
“Ser enganado por alguém que eles pensam ser genuíno pode abalar profundamente a confiança desses jovens e isso pode levar a sentimentos de desconfiança em relação aos outros, causando até mesmo problemas de autoestima”, comenta Patrícia.
Além disso, a psicóloga explica que os golpistas podem ter intenções perigosas, como explorar, abusar ou roubar esses adolescentes. “Eles podem usar a ilusão de um relacionamento romântico ou amizade para obter informações pessoais, fotos íntimas ou até mesmo dinheiro. Isso causa danos emocionais e também pode levar a situações perigosas no mundo offline”, explica.
Sandra Ferreira, 46, mãe de uma jovem de 13 anos, também tem suas preocupações em relação às redes sociais. Ela afirma que os jovens andam muito conectados no mundo virtual e que essa situação pode afetar as relações cotidianas. “Tenho medo da vulnerabilidade dos jovens nas redes sociais, principalmente com aquelas pessoas que se passam por outras”, comenta Sandra.
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O que os pais podem fazer nessas situações?
“Procure fornecer um ambiente seguro para seus filhos, certifique-se de que eles se sintam à vontade para compartilhar suas emoções, sem julgamento. Eles podem estar se sentindo confusos, envergonhados ou com medo. Fique atento a quaisquer mudanças no comportamento do seu filho e esteja disponível para ouvi-lo”, explica Patrícia Bertozzi.
Sandra Ferreira ainda aconselha os jovens em relação aos cuidados com as redes. “É importante sempre buscar a orientação dos pais, dos mais experientes, pois, o conselho daqueles que te querem bem é muito importante. Quando perceber que algo não está certo, procure orientação familiar”, comenta.
Quanto ao fato do que fazer para evitar que os jovens caiam nos golpes virtuais, a psicóloga afirma que é importante que os pais incentivem seus filhos a questionar a autenticidade das pessoas do mundo virtual, promovendo uma educação contínua sobre segurança online e a importância da cautela ao interagir com pessoas desconhecidas na internet, bem como ao marcar encontros presenciais com pessoas que conheceram virtualmente.
“Lidar com a solidão na adolescência pode ser desafiador, mas, existem estratégias que podem ajudar, como buscar apoio emocional de amigos, familiares e profissionais. É importante lembrar que a adolescência é uma fase transitória e que a formação da personalidade associada à superação da solidão, são processos que podem levar tempo. Com o apoio adequado, a busca pelo autoconhecimento e construção de relacionamentos saudáveis, os adolescentes podem desenvolver uma personalidade autêntica e encontrar conexões significativas com os outros”, conclui.