De carro de som a folder educativo: as estratégias do interior paulista contra o coronavírus - Revista Esquinas

De carro de som a folder educativo: as estratégias do interior paulista contra o coronavírus

Por Mariana Torezan : abril 7, 2021

No interior de São Paulo, São Sebastião da Grama, Santo Antônio de Posse, Conchal e Avaré vivem realidades pandêmicas diferentes daquela das cidades grandes

Mais de um ano depois do início da pandemia, o Brasil enfrenta seu pior momento na luta contra o coronavírus e, mesmo com avanços na vacinação, o país vem batendo recordes de novas contaminações e óbitos por Covid-19, superando 4.000 mortes na primeira semana de abril. Apesar de ser um problema de escala global, cidades pequenas no interior do estado de São Paulo passam por uma situação diferente daquela observada nas grandes cidades. Em muitas, os novos casos e óbitos dos três primeiros meses de 2021 superam os números totais de 2020.

São Sebastião da Grama

São Sebastião da Grama tem 12.159 habitantes, fica a cerca de 250 km da capital e não conta com leitos de UTI. No início da pandemia, a cidade realizava uma fiscalização na entrada para controlar o fluxo de pessoas. Com a queda dos casos, a verificação foi interrompida e os números passaram a subir, uma vez que a entrada na cidade foi facilitada.

Giovana Scarabelli, 17 anos, se mudou para São Sebastião da Grama no início da pandemia. Segundo ela, quanto às medidas restritivas, a cidade segue o Plano São Paulo, mas “a população, apesar de saber de todos os protocolos, muitas vezes não os segue, andando sem máscara pela rua e muitas vezes ignorando o isolamento social, dando festas e etc”. Na área urbana, ainda há fiscalização, já na área rural da cidade, não.

Santo Antônio de Posse

Outra cidade do interior que vive uma realidade diferente é Santo Antônio de Posse, a menos de 2 horas da capital e que, durante o primeiro ano da pandemia, seguiu as medidas determinadas pelo estado. Na última semana, contudo, o decreto de Bruno Covas que adiantou feriados na cidade de São Paulo (de 26 de março a 4 de abril) levou a cidade a implantar uma barreira sanitária na estrada de acesso para conter a entrada de visitantes da capital.

Com cerca de 25 mil habitantes, a cidade vive uma realidade curiosa em relação à vacinação. Edye Mauro Silingardi, 81 anos, morador da cidade, não precisou fazer o agendamento para a vacina, bastava estar na faixa etária determinada, ir até um dos dois pontos de vacinação e esperar na fila. “Fui até lá de manhã, a fila estava grande e resolvi voltar depois. Voltei depois de uma hora e não tinha ninguém, só eu. Entrei, tomei a vacina e saí”.

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Conchal

Localizada a 2 horas de São Paulo e com 28 mil habitantes, Conchal segue, desde 2020, as orientações do estado para combater o coronavírus e mantém sua população informada através de carros de som e distribuição de fôlderes educativos, dentre outras medidas. Jussara Guarnieri, funcionária da prefeitura, ajudou na formulação do plano municipal de combate ao coronavírus. Uma medida importante foi a criação de uma Unidade Sentinela, responsável pela triagem dos pacientes com sintomas respiratórios.

Avaré

A cerca de 270 km da capital do estado, os 91.232 habitantes de Avaré vivem um momento crítico da pandemia. A Santa Casa da cidade oferece, ao todo, 52 leitos destinados a pacientes com covid-19, 15 desses sendo de UTI. Em 2020, esses leitos nunca chegaram à capacidade máxima de ocupação. Já em 2021, a Santa Casa vem operando diariamente com todos os leitos ocupados.

Miguel Chibani Bakr, 65, provedor da Santa Casa, vai ao hospital todos os dias desde o início da pandemia. “Jamais teria coragem de pedir para os funcionários do hospital enfrentarem essa pandemia, para eles ajudarem as pessoas, se arriscando e eu ficar longe deles, longe do ambiente que eles estão”. Ele acredita que aqueles que estão na luta diária contra a Covid-19 nunca irão esquecer o que estão vivenciando.

Chibani diz que não só em Avaré ou no interior mas em todo o Brasil, “em um momento como esse, a ordem seria de união, de conscientização da importância de salvar a população, em oferecer condições mínimas para que todos possamos passar por essa fase tão triste. Quem foi o melhor, quem foi o descobridor da vacina, quem trouxe, deixa isso para a história. O importante é o consenso: temos que nos unir para nos salvar”.