"É o lugar de encontro entre pessoas e pares": a noite paulistana para a comunidade LGBTQIA+ - Revista Esquinas

“É o lugar de encontro entre pessoas e pares”: a noite paulistana para a comunidade LGBTQIA+

Por Gabriel Coca, Isabella Souza, Letícia Galli, Luca Nieri e Manuela Massera  : junho 29, 2023

Mulher fantasiada com luzes de várias cores. Divulgação: merlinlightpainting / Pixabay

Desde os anos 70, festas e baladas têm servido como espaço de aceitação, flerte e liberdade para as pessoas da comunidade LGBTQIA+

A comunidade celebra da porta da boate para dentro. A noite vem toda ligada nos olhos dos meninos, como canta Liana Padilha, da dupla Noporn. Natan Anjos, pesquisador do Acervo Bajubá, projeto comunitário de registro da memória LGBTQIA+ no Brasil, coloca a noite como: “Um lugar de encontro entre pessoas e pares. Vamos para encontrar similares dentro da nossa comunidade, para flertar e ter a experiência de liberdade. É um lugar de aceitação também, não só de divertimento”.

Desfile de mãos em forma de coração com a bandeira LGBT.
Foto: Estrangeira / Divulgação

A Medieval: danging gay 

A Medieval, icônica boate da rua Augusta nos anos 70 e 80 foi a representação física da noitada LGBTQIA+. Anjos destaca o caráter pioneiro da balada na história da cidade: “A boate Medieval é considerada o primeiro Dancing Gay. É ela quem inicia o processo de boates abertamente gays e com shows de transformistas”.

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Inaugurada em 19 de agosto de 1971, a Medieval, na rua Augusta, foi a primeira boate abertamente gay de São Paulo.
Reprodução: Documentário São Paulo em Hi-Fi / Lufe Steffen

A entrada na boate era latente e irônica, ser transportado para o futuro utópico como dizem Kaká di Polly e Darby Daniel, figuras históricas da noite, no documentário São Paulo em Hi-Fié a pura subversão. Emblemática por esbarrar em barreiras da pessoa pública, o pensamento heteronormativo dominava o imaginário da família brasileira.

Na noite, o destaque eram apresentações transformistas, virando do avesso as noções tradicionais. Figuras como Miss Biá, Andrea de Mayo, e Dzi Croquettes foram as pioneiras, e hoje são homenageadas pelo Acervo Bajubá na exposição do Bananal, centro cultural na Barra Funda.

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Pista de dança da balada gay Medieval.
Reprodução: São Paulo / Hi-Fi

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‘Normativo LGBTQIA+’

Apesar de parecer um espaço de refúgio, as noitadas são pregadas pelo normativo. O espaço que está para a diversidade, não atende na prática: “Muitas festas se apresentam com a ideia de diversidade, mas quando você entra, só tem gay branco padrão querendo se amostrar, ser mais bonito que o outro”, comenta Gui Tintel, DJ e idealizador da Trophy, festa frequentada pela comunidade LGBTQIA+. A busca por espaços mais diversos, tanto musicalmente, quanto em termos de público, foi um dos motivos pelo qual Tintel fundou a Trophy.

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Festa na boate Zig Studio, onde já ocorreu a “Trophy”.
Foto: Gabriel Coca

Da pista pro after: os rumos da noite

Quais os rumos da noite? Pergunta que a exposição do Acervo Bajubá te propõe. Se depender de iniciativas como a Trophy, ela se tornará mais democrática, visto que a festa oferece gratuidade para pessoas trans e não binárias. Tintel destaca a importância da iniciativa, corroborando com a ideia do direito ao lazer: “oferecer o acesso gratuito é uma maneira de trazer tanto esse público para a nossa pista, quanto o grupo de marginalizados. Esse é o verdadeiro direito ao lazer”. A noite é refúgio, é lugar para se expressar, de maneira segura e se reconhecendo umas às outras.

Editado por Ronaldo Saez

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