Histórias de superação: a vida depois da violência doméstica 

Histórias de superação: A vida depois da violência doméstica 

Por Julia Delboni e Lavínia Vilas Bôas : agosto 28, 2025

Foto: Diana Cibotari/Pixabay

Conheça casos reais de mulheres que encontraram força para reconstruir suas vidas e inspirar outras, após enfrentarem a violência doméstica

A cada dois minutos, uma mulher é vítima de violência doméstica no Brasil. Por trás desse número, existem histórias de mulheres que, com muita coragem, conseguiram seguir em frente transformando suas dores em superação.

Esses relatos de resistência mostram que, mesmo diante da vulnerabilidade, mulheres são capazes de reescrever a própria história e encontrar novos começos.

Agosto Lilás

No dia 7 de agosto de 2025, a  Lei Maria da Penha completou 19 anos. Por isso, agosto foi o mês escolhido para a conscientização e combate à violência contra a mulher. Conhecida como “Agosto Lilás”, essa campanha tem como objetivo trazer mais visibilidade para o tema.

As altas taxas de feminicídio no Brasil evidenciam a importância de incentivar as denúncias, e de promover iniciativas para reduzir os índices de todo e qualquer tipo de agressão, seja ela física ou psicológica.

A mobilização da sociedade é essencial na luta por justiça. Desse modo, o Agosto Lilás, além da conscientização, reforça a necessidade de políticas públicas voltadas para a capacitação de profissionais e para o fortalecimento de canais de denúncia, como o 180.

Madalena Dantas, 36 anos

Quando ele começou a ser abusivo, a gente estava mais ou menos com 2 ou 3 anos de casados. Eu estava grávida do meu filho mais velho… Foi quando teve a primeira agressão.

Madalena sofreu com a violência doméstica em um relacionamento durante 10 anos: “Era muito abusivo. E sem falar na violência, além da física, havia a verbal também.” 

Hoje eu sei que o que custa para você ter uma vida de violência dentro de casa é o primeiro tapa.

Romper com esse ciclo de agressões nem sempre é uma situação simples. Ela conta que sua maior dificuldade para sair desse relacionamento abusivo foi a falta de uma rede de apoio. Sua família reproduzia muitos comportamentos e pensamentos tradicionalistas, normalizando os abusos.

Madalena é mãe de Samuel, um menino de 13 anos com paralisia cerebral. Ela relata como foi o processo de reconstruir a vida sendo mãe de uma criança com deficiência: “Foi muito difícil porque, até então, eu imaginava: será que eu vou conseguir seguir em frente? Eu tenho uma criança especial.” Ela enfrentou desafios não apenas pela falta de apoio, como também pelos julgamentos externos.

Entre as dificuldades, Madalena encontrou no próprio filho a força que precisava para seguir em frente:

Foi nele que eu achei apoio, foi ele o motivo.

Muitas vezes, os agressores agem de forma diferente na presença de outras pessoas, como acontecia com Madalena:

Ele me tratava super mal quando a gente estava sozinho. Se tivesse mais pessoas dentro de casa, ele me tratava super bem, como se nada tivesse acontecido, sabe? Como se nada acontecesse.

Passar por esse tipo de situação gera, muitas vezes, traumas difíceis de lidar. “A gente cria um trauma de confiar em alguém depois de passar por tanta coisa, tanta violência da forma que eu passei.” – conta Madalena, que conseguiu sair do relacionamento abusivo e se restabelecer:

Depois de cinco anos, eu conheci, graças a Deus, uma pessoa maravilhosa que hoje é o atual, né? Eu consegui, através dele, me reerguer e me encontrar de novo como uma mulher e refazer a minha vida. Hoje eu tenho uma família com ele.

Apesar dos desafios que enfrentou para sair do relacionamento abusivo em que vivia, Madalena consegue compartilhar, hoje, uma história de superação: “Antes, isso me machucava muito, até para falar, sabe? Eu começava a chorar. Hoje eu já consigo contar sobre o meu passado sem tanta mágoa.” 

Priscila Albuquerque, 32 anos

Você acredita fielmente que aquela pessoa te ama e, então, esse suposto amor te segura em um relacionamento assim.

Foi dessa forma que Priscila estava presa em um relacionamento abusivo de 6 anos. Depois de muitas brigas, xingamentos e discussões, ela se viu em uma situação de agressão física enquanto viajava em um cruzeiro.

A viagem, com seu ex-marido há cinco meses atrás, que seria para decidir que rumo levaria o relacionamento, acabou virando o pior cenário para Priscila. A primeira agressão física aconteceu dentro de uma das cabines do navio, foi naquele momento que se deu conta de que já havia sido agredida por muito tempo de sua vida, sem nem perceber.

Acho que eu fui cega por muito tempo. Às vezes achamos que a violência mora só na parte da agressão, e acabei ignorando todos os sinais possíveis e imagináveis.

Priscila é mãe de duas crianças, um menino de doze, de outro relacionamento, e uma menina de um ano e sete meses. Recorreu com uma medida protetiva para garantir que não voltaria a ficar próxima do homem, pensando sempre no bem-estar dos filhos.

Além da agressividade, ele tinha problemas com álcool. E isso além de afetar no nosso relacionamento, afetava na vida da minha filha.

Priscila conta que sua melhor escolha foi pedir a medida protetiva. É nesse tempo, afastada de seu agressor, que ela tem conseguido começar a digerir tudo o que viveu e iniciar seu processo de cura. O ponto de virada em sua vida aconteceu durante uma conversa com o filho.

Foi quando meu filho olhou pra mim e disse que eu não merecia isso. Meu filho de 12 anos. Quando ele falou isso, virou uma chavinha.

Além disso, ela afirma ter tido muita sorte em contar com o apoio de amigos e familiares, ressaltando que, sem essa rede, o caminho teria sido muito mais difícil.

Você não imagina a força que tem. É difícil, mas você é forte. Sempre se coloque em primeiro lugar, que as coisas andam e a vida evoluí. Tenha força pra sair.

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Projeto Justiceiras

Além da dificuldade de recorrer a ajuda, muitas mulheres não sabem como agir ou onde encontrar esse auxílio. Para isso, existem diversos meios de apoio às vítimas de violência, seja ela psicológica, física, moral ou sexual. Além de ligar para o 180 (Central de Atendimento à Mulher), existem projetos de pessoas voluntárias para ajudar e acolher meninas e mulheres de todo o Brasil.

O Projeto Justiceiras, desenvolvido por Gabriela Manssur em 2020, conta com uma equipe de mulheres voluntárias que realizam o acolhimento das vítimas violentadas com auxílio psicológico, jurídico, socioassistencial e médico. Os atendimentos são realizados pela internet, o que ajuda na acessibilidade e inclusão de mulheres de todas as regiões do país.

Durante a pandemia de Covid-19, os casos de violência doméstica aumentaram significativamente segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). A exposição das mulheres à violência durante o período de lockdown fez com que o número de casos aumentasse.

Clicie Carvalho, gestora do projeto, conta que em um mês chegam entre duzentas e trezentas vítimas de violência para atendimento, um número extremamente alto que cresce ainda mais nos meses de conscientização, e principalmente quando casos isolados têm um alcance maior na mídia. Isso faz com que o choque de realidade leve pessoas que não conseguiram denunciar antes a ganharem força e levarem a queixa até o projeto.

Você pode entrar em contato ou conhecer mais sobre o projeto aqui:  

Instagram: @Justiceirasoficial 

Sites: Justiceiras.org.br | Justicadesaia.com.br

Email: [email protected]

Editado por Giovanna Moretti

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