Jovem de Criciúma descreve a madrugada de terça-feira que teve assalto, incêndio e chuva de dinheiro
Na madrugada desta terça-feira, o estudante de jornalismo Leonardo Ferreira Barbosa, 22 anos, estava quase indo dormir quando recebeu mensagens sobre um crime em sua cidade, Criciúma (SC), a quase 200 km da capital, Florianópolis. Acreditando ser fake news, o jovem checou a veracidade dos fatos nas redes sociais. “O negócio foi se concretizando numa velocidade que em 10 minutos todo mundo em casa estava acordado, espantado, olhando para o celular, procurando qualquer informação que pudesse vir”, relata.
O delito organizado por uma quadrilha começou no final da noite do último dia de novembro e se alastrou até a madrugada de 1º de dezembro. As informações mais recentes dizem que cerca de 30 assaltantes encapuzados arremessaram um caminhão em chamas em frente ao 9º Batalhão da PM, sitiaram a cidade do sul de Santa Catarina e assaltaram uma agência do Banco do Brasil, onde fizeram trabalhadores da Prefeitura de reféns.
Nas redes sociais, moradores da cidade veicularam vídeos que mostravam troca de tiros com a polícia e pessoas recolhendo dinheiro no chão, resultado de uma explosão durante a fuga. Quatro pessoas foram presas por pegar R$ 810 mil jogados na rua. “A gente tem um policial baleado que já passou por três cirurgias, não sabemos se ele faleceu ou não”, diz. Segundo a PM, ele segue na UTI, em estado de saúde grave, mas estável.
Leonardo ficou acordado durante a madrugada e, em seu Twitter, compartilhou informações sobre o crime e publicou vídeos gravados da janela de seu apartamento. Um deles mostra pessoas recolhendo o dinheiro do chão.
É REAL! PESSOAS NA RUA CATANDO DINHEIRO EM CRICIÚMA PÓS CERCO NA CIDADE! pic.twitter.com/Z7OTCsAeMD
— Leonardo Ferreira (@O_LeoFerreira) December 1, 2020
“O clima de tensão foi ficando cada vez maior porque a primeira informação que chegou foi que eles atacaram o Batalhão de Polícia de Criciúma. Minutos depois, veio a informação de que eles incendiaram a chegada entre Tubarão e Criciúma, impedindo que reforços chegassem até aqui”, expõe o estudante. A polícia confirmou, por volta das 00h30, que um caminhão havia sido incendiado no túnel do Morro do Formigão, em Tubarão.
Segundo Leonardo, só havia uma rádio, a Eldorado, transmitindo ao vivo todos os acontecimentos em Criciúma, o que propiciou, em sua opinião, a divulgação de notícias falsas em grupos de WhatsApp. “Além do sentimento de estar vulnerável, tinha o medo de não saber o que eles iam fazer”. A Rádio, inclusive, teve de interromper a programação depois de receber ameaças dos assaltantes. “O pânico aumentou ainda mais porque pior do que ter medo e acompanhar o crime é ter medo e não receber informação nenhuma”, diz.
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De acordo com o jovem, o crime durou até o início da manhã de terça-feira e foi apenas por volta das três horas que seus familiares ficaram sabendo que a polícia estava agindo. Alguns criminosos já foram detidos, porém o acontecimento que inaugurou dezembro ainda não possui desfecho. “Acho que mais da metade da cidade não dormiu e nem vai dormir ainda porque a sensação é de que não acabou”, desabafa Leonardo.
Começam a chegar vídeos com o relato que estão indo para o presídio de Criciúma. pic.twitter.com/QIm6jWugTz
— Leonardo Ferreira (@O_LeoFerreira) December 1, 2020
A Polícia Civil ainda está apreendendo suspeitos do assalto. Nesta quarta-feira (2), foram presos três homens na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e outros dois foram localizados na região metropolitana de Porto Alegre. Uma mulher foi apreendida no sul da cidade de São Paulo portando malotes de dinheiro do Banco do Brasil e outros três suspeitos foram presos em Gramado e Três Cachoeiras (RS) nesta quinta-feira (3).