BBB 23: como especialistas explicam a baixa popularidade do reality? - Revista Esquinas

BBB 23: como especialistas explicam a baixa popularidade do reality?

Por André Ribeiro (1º ano), Bárbara Maiato (1º ano), Julia Tuma (2º ano) e Paola Costa (2º ano) : abril 25, 2023

Rôbos do BBB. Reprodução: Gshow

Mesmo diante de polêmicas e incontáveis brigas entre os participantes, o BBB 23 parece não ter conquistado o público de casa

O Big Brother Brasil 23 (BBB 23) entra na reta final e, pelo que indicam os números, mesmo em meio à polêmicas, personalidades fortes, novidades e brigas recorrentes entre os participantes, o público não foi conquistado por essa edição do programa.

É comum que as últimas semanas do reality sejam mais lentas, por conta inclusive da menor quantidade de participantes, mas não é o que acontece nessa edição. O BBB 23 continua movimentado por brigas fúteis, trocas de quarto e acusações mútuas. E não é exatamente isso que os telespectadores sempre esperam? Aparentemente não.

Ainda dentro do intervalo do primeiro mês da edição, o BBB 23 acumulou a pior média de audiência desde a estreia do programa. Quando a audiência é comparada com o primeiro mês do BBB 21, que foi um sucesso, o resultado é ainda pior, registrando uma queda de 32% na pontuação.

Diante desses resultados, a produção foi alimentando o programa com novidades, mas as pontuações continuaram baixas. Na primeira semana de abril, por exemplo, a saída da participante Marvvila foi marcada por um dos piores desempenhos de uma noite de eliminação no BBB 23. Mas, afinal, o que deu errado?

Esquinas conversou com dois especialistas para refletir sobre as possíveis circunstâncias que levaram a esse fracasso do programa: Helena Jacob, jornalista, professora e pesquisadora de comunicação e cultura; e Lucas Vivot, mais conhecido como ‘Lusca’, blogueiro que faz conteúdos sobre o programa em diferentes formatos, como os plantões diários sobre os acontecimentos do reality show e o podcast “Planta Faz Isso?”.

O programa prometeu muito com a lista de camarotes e “entregou” pouco?

Lucas Vivot analisa que a população tinha muitas expectativas em torno do reality show por conta das edições anteriores, com destaque para o BBB 20 e o BBB 21. Para ele, uma dessas expectativas era a lista de camarotes.

“A lista de famosos é muito esperada. Nada contra nenhum dos camarotes dessa edição, mas são nomes que não têm um peso muito forte para o público da internet. Tivemos nomes de pessoas que são famosas na Globo, como o Gabriel Santana e a Bruna Griphao, mas eles não têm um apelo na internet, diferente de outros camarotes das edições anteriores”, analisa Lucas.

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Lista dos participantes do BBB 23
Reprodução: Gshow

Além disso, ele ressalta que listas especulativas que foram lançadas antes da lista oficial apresentaram nomes com um peso maior para a internet, o que contribuiu com as expectativas do público.

Vivot acredita ainda que a liberação dos nomes foi feita com muita antecedência em relação ao início do programa e demorou um dia inteiro, havendo uma mescla com publicidade, até que todos os nomes fossem revelados. “Nós nos decepcionamos com a lista e tivemos que esperar mais quatro dias inteiros para ver como eles iam se comportar na casa”, acrescenta.

O BBB sofre por conta da audiência de Travessia?

De acordo com Helena Jacob, a audiência da novela Travessia pode estar afetando a pontuação do BBB 23. A jornalista lembra que a novela Pantanal foi lançada durante o BBB 22 e a pontuação da audiência obteve uma tendência de crescimento. No caso da novela atual, o efeito parece ter sido o contrário.

Lucas Vivot dialoga com esse ponto. Para ele, o reality show possui duas audiências distintas: o público “do sofá”, que são as pessoas que já costumam assistir a novela e emendar no programa, e o público da internet, que já foi desestimulado desde o início pela lista de famosos. O blogueiro observa que o público “do sofá” é uma audiência relativamente “fixa” para o Big Brother, pois é consequência da novela. Com a baixa audiência de Travessia, a pontuação advinda desse público também caiu.

Quanto a questão do horário, que costuma gerar questionamentos por ser relativamente tarde, Helena Jacob ressalta que “o formato do Big Brother sempre foi depois da novela. Começar depois de Travessia certamente foi péssimo, mas o que eu estou sentindo mais em relação ao BBB 23 é que ele não está engajando como pauta, nunca vi uma edição de Big Brother tão pouco comentada”.

Excesso de publicidade? Os produtores “perderam a mão”?

A professora Jacob destaca que, ainda que a audiência esteja mais baixa, o Big Brother continua sendo o melhor negócio da Rede Globo, uma vez que o merchandising sustenta esse produto. Contudo, a jornalista também entende que as ações de marketing que buscam gerar engajamento se esgotam e esse é um dos pontos que prejudica o funcionamento do programa: “é um game, as pessoas gostam de acompanhar, mas tem um limite, é manipulação demais, marketing demais”.

Ainda, o blogueiro Lucas aponta que a emissora tem sido mais rígida esse ano com os direitos autorais do BBB, o que pode ter prejudicado para uma maior divulgação do programa. “São poucas marcas que podem usar o BBB nas redes e eu sinto que isso enfraquece o programa. Por exemplo, a Malu Borges faz conteúdos massivos sobre moda para o TikTok e os patrocinadores não puderam pagar ela para falar dos looks no BBB. Só pode usar imagem de dentro do programa quem pagar. Isso desestimula a criação de conteúdo sobre Big Brother.”, explica Lucas.

O formato do BBB seria incompatível com a geração TikTok?

Com a popularização do TikTok, existe um movimento que busca uma adaptação dos diferentes conteúdos para essa nova rede. Vivot acredita que o Big Brother ainda não soube fazer isso de forma expressiva.

“O Big Brother não é um formato que funciona no TikTok. Ele é um formato longo de uma novela com muitas camadas e tramas. Não é algo viral de TikTok, rápido e básico. Eu acho que o público da internet que está no TikTok sentiu falta disso”, explica ele.

Muito jogo, poucas narrativas?

O blogueiro critica também a dinâmica em duplas realizada na primeira semana do programa, a qual ele entende ser muito importante para o público criar o primeiro vínculo com os participantes: “com essa dinâmica, as particularidades de cada um ficaram muito em baixa, eu sinto que isso atrapalhou o desenvolvimento pessoal de cada participante”.

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Participantes do reality durante uma prova.
Reprodução: Globoplay

Ainda quanto a esse início, o blogueiro avalia que a produção, com medo de cometer os mesmos erros da edição passada, que foi marcada por poucas pessoas voltadas para o jogo em si, começou o BBB 23 com um foco muito grande na proposta de jogo e das dinâmicas que ele propõe.

Como resultado, “nós não tivemos tempo de criar conexão com as pessoas, vínculos afetivos com os participantes, essa ideia de ‘jogo, jogo, jogo’ prejudicou o desenvolvimento de personalidades e histórias lá, porque o legal do Big Brother é quando ele tem uma história, uma linearidade de acontecimentos, pequenas histórias na edição e criamos um apego às características de cada um, até agora nós não temos muito isso”.

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Fim do isolamento pela Covid-19 e a população “tem mais o que fazer”?

Por fim, Helena Jacob observa que as edições de maior audiência tiveram um grande peso do isolamento da população nessa equação. A pandemia de Covid-19 confinou uma enorme camada populacional e o BBB tomou uma proporção muito maior na vida dessas pessoas.

“Certamente, essa volta ao presencial, ao mundo dos shows e do entretenimento externo, impactou. As pessoas falam: ‘eu não vou ficar em casa assistindo Big Brother Brasil se eu posso ir a um show, teatro, principalmente pensando em espetáculos abertos”, avalia Helena.

Quais fatores influenciam na alta ou baixa popularidade de um reality show como o BBB?

Como fatores que influenciam a alta popularidade de um programa pode-se destacar: a interatividade, já que o BBB oferece ao público a oportunidade de interagir e votar nos participantes que eles querem manter na casa. Essa interatividade aumenta o interesse e a participação do público, fazendo com que eles se sintam mais conectados com o programa; o formato do reality incentiva a curiosidade do público em relação aos participantes, suas histórias, personalidades e interações na casa. Isso leva a discussões e debates sobre o comportamento dos participantes, o que pode aumentar ainda mais o interesse do público; a identificação, já que o telespectador pode se identificar com os participantes do programa, seja por causa de suas personalidades, histórias de vida ou lutas pessoais. Isso leva a um envolvimento emocional mais profundo com o programa e uma maior lealdade em relação aos participantes que o público apoia; e por fim a exposição que o programa  oferece. O BBB oferece uma plataforma para os participantes ganharem exposição e visibilidade, o que pode ser benéfico para suas carreiras pessoais. Isso gera interesse do público em relação às vidas dos participantes fora da casa, aumentando ainda mais o envolvimento com o programa.

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Noite de eliminação no BBB 23.
Reprodução: Gshow

Alguns outros fatores que influenciam a baixa popularidade de reality shows são: o elenco, já que o sucesso de um reality show como o BBB é em grande parte determinado pelos participantes. Se o elenco de participantes não for interessante o suficiente, pode ser difícil para o programa manter a audiência do telespectador. Se o público não se identificar ou se envolver com os participantes, pode haver uma queda no engajamento e interesse geral pelo programa; além disso o formato do BBB não mudou muito ao longo dos anos, o que pode levar à uma sensação de monotonia e desgaste para o público. Se o telespectador já está familiarizado com o formato e as reviravoltas do programa, pode haver uma falta de interesse ou entusiasmo em relação às temporadas subsequentes; quando um reality show enfrenta  polêmicas ou controvérsias que afetam negativamente sua popularidade o público acredita que o programa está promovendo comportamentos ou ideias prejudiciais, isso pode levar a um boicote e queda na popularidade.

Editado por Mariana Ribeiro

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