Quarentena dos Idosos: “Sinto falta do afeto, do abraço e do carinho”, afirma casal isolado desde março - Revista Esquinas

Quarentena dos Idosos: “Sinto falta do afeto, do abraço e do carinho”, afirma casal isolado desde março

Por Maria Antonia Bachiega : agosto 29, 2020

Durante o mês de agosto, ESQUINAS traz relatos sobre idosos em isolamento social. O depoimento do casal Bachiega é a nona reportagem da série

Este é mais um episódio da série Quarentena dos Idosos, produção de ESQUINAS sobre o isolamento social entre a terceira idade. Trabalhar, conversar com amigos, idas ao supermercado e casa cheia de filhos e netos sempre fizeram parte da vida de Valdete e Orivaldo Bachiega, de 70 e 77 anos, respectivamente. Nascidos e residentes na cidade de Jaú, no interior do estado de São Paulo, o casal se vê há quase seis meses numa situação inédita: longe de tudo e de todos.

“Estamos presos, sem poder fazer nada”, conta Valdete, suspirando ao final da frase. Determinado como uma das medidas principais para se evitar a rápida contaminação da população pelo Covid-19, o isolamento social foi regulamentado pelo Ministério da Saúde e entrou em vigor no dia 12 de março. 

Sem segurança para sair às ruas, o casal segue confinado desde então. Ambos fazem parte do grupo de risco – Orivaldo possui agravantes, como hipertensão e diabetes. As compras são feitas virtualmente. Os exercícios físicos, na varanda do apartamento, e as conversas com a família, via redes sociais. “Já tinha em mente que passaria por uma temporada longe de tudo, das pessoas, do trabalho, dos amigos e conhecidos”, diz Orivaldo. 

Viver em isolamento social é feito de altos e baixos, segundo os jauenses. Casados há 50 anos, afirmaram nunca ter tido muito tempo para conversar, devido à rotina acelerada de trabalho e outros compromissos. Com a pandemia, a rotina mudou. “Assistimos filmes e conversamos muito, coisas que antes não fazíamos”, diz Valdete. 

Mesmo concordando com a medida de isolamento social, a carência e a saudade muitas vezes falam mais alto. “Sinto falta do afeto, do abraço e do carinho”, relata Orivaldo, com um olhar cabisbaixo. O dia-a-dia se torna, de certa forma, repetitivo, monótono e solitário. “Acabamos enfrentando tudo, mas tem momentos que são muito difíceis de lidar”, contou Valdete.

A revolta e o medo também fazem parte. “O que mais me apavora é ver as pessoas que ainda não entenderam a situação. Ninguém se importa com ninguém”, expressa Orivaldo, se referindo àqueles que não estão respeitando as medidas de distanciamento social. Para deixar mais lenta a dispersão do vírus pelo país, o isolamento social é recomendado para todos aqueles que podem ficar em casa. “Temos que obedecer, para o bem de todos. Não adianta ir contra”.

Apesar de tudo, o casal sempre tenta se manter positivo. “Sou muito otimista, creio que a vida vai melhorar. O planeta precisava passar por isso”, conta Valdete. Já para Orivaldo, “o futuro vai acontecer logo”. Olhando para a janela, os dois se entreolham e trocam sorrisos.

Confira no site outros depoimentos da série Quarentena dos idosos.