No Belenzinho, novo projeto de Lancelloti em colaboração com Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra integra trabalho do campo e cidade.
O Sacolão Popular Irmão Pedro Betancur, localizado no bairro do Belenzinho, atua desde fevereiro de 2024 e é fruto da parceria entre o Movimento Sem Terra (MST) e o Padre Júlio Lancellotti, responsável pela Pastoral do Povo de Rua. Além da sua função enquanto feira de alimentos orgânicos, o espaço promove também ações sociais e educacionais.
São diversos os projetos organizados pelo MST na tentativa de integrar o trabalho do campo com as cidades brasileiras. A base de tudo isso é o ideal de popularizar a alimentação orgânica e de qualidade, com alimentos vindos dos assentamentos do movimento. Atualmente, existem mais de 30 lojas da rede dos Armazéns de Campo, espalhadas por todas as regiões do Brasil, em São Paulo, Curitiba, Belém e Salvador, além de outras capitais e cidades interioranas. Desta rede, uma das mais recentes é também única pela parceria com a Pastoral do Povo de Rua.
Prática social sacolão
No número 297 da rua Doutor Siqueira Cardoso foi fundado o sacolão que homenageia, por sugestão de Lancellotti, Pedro Betancur: Missionário católico que atuou, no Século XVII, cuidando da saúde e educação da população mais pobre da Guatemala, ainda colônia espanhola.
Um destaque do local são suas múltiplas funções, ele serve como feira de orgânicos para o público geral, ao mesmo tempo que há um espaço com balcão e mesas onde são servidos almoços e cafés. Junto aos alimentos, ficam dispostos livros e acessórios relacionados ao Padre e ao MST, esses vêm da parceria com a instituição Feira Vermelha, que reúne artistas que criam e vendem peças temáticas de movimentos sociais.
No segundo andar do edifício há um espaço formativo com biblioteca e mesas que recebem cursos e oficinas aos finais de semana sobre temáticas diversas como produção de artesanatos, uso de alimentos não convencionais e autocuidado. Estes cursos vêm da Associação Conviver, conjunto formado pelos artistas da Feira Vermelha, o Padre Lancellotti e a ONG A Nossa Jornada, que coleta e distribui doações para população carente e de rua.
Fátima Menezes, moradora do Belenzinho, na zona Leste de São Paulo, é frequentadora do sacolão. “Há tempos venho tentando consumir principalmente alimentos orgânicos e ter o sacolão aqui por perto ajuda muito”. Ela diz ainda já ter participado de algumas das oficinas, como as de cosméticos e repelentes naturais, realizadas pelas instituições associadas ao Padre.
Joaquim Modesto é o coordenador do espaço e explica como foi a aproximação com o pároco, que hoje frequenta diariamente o espaço para seu café da manhã: “Durante a pandemia, a gente tinha ações de doações de alimentos, assim como o Padre Júlio Lancelotti, então a gente se encontrava. Esse foi o momento em que mais nos aproximamos”.
As ações beneficentes são integrais ao projeto, que desde sua abertura realiza almoços mensais voltados aos moradores de rua, além de integrá-los nas ações formativas e em discussões políticas.
“Aqui, para a gente, o forte é a formação. Estamos fazendo um curso de fabricação de sorvetes com frutas de verdade, que depois vamos abrir para a comunidade. A ideia é vender aqui e colocar ex-pacientes dos CAPS com carrinhos na rua, para que eles voltem a trabalhar e tenham uma renda”, diz Modesto.
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O movimento já procurava abrir um novo estabelecimento na cidade de São Paulo, quando surgiu a oportunidade de parceria com o Padre, com o pedido de que o espaço fosse próximo à região da paróquia São Miguel Arcanjo, entre os bairros do Belenzinho e Mooca, centros de atuação de Lancellotti.
A aquisição do terreno foi uma ação conjunta pelas instituições da Pastoral e doado para o funcionamento do sacolão, gerenciado pelo MST, responsável pelo direcionamento dos alimentos vindos de seus assentamentos e até por parcerias internacionais. “A azeitona e o azeite daqui vêm da Argentina, de uma cooperativa de campesinos populares”, comenta Modesto.
O Sacolão Irmão Pedro Betancur representa mais um projeto de ação social organizado pelo Padre Júlio Lancelotti em colaboração com movimentos populares, como as casas comunitárias, dispostas no entorno da paróquia São Miguel Arcanjo. Estas apresentam diferentes propostas entre si, tal como distribuição de refeições; acolhimento e avaliação médica de imigrantes; uma oficina de costura, onde se ensina a profissão, além de realizar a doação das roupas, entre outras.