Com visitas suspensas e dificuldade para conseguir equipamentos de proteção, asilos tentam reduzir os impactos da pandemia
ATUALIZAÇÃO: conteúdo adicionado às 23h57 do dia 18 de maio para informar que a psicóloga Isabella Chariglione, além de ser colaboradora no Programa de Pós-graduação em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia, também é professora na Universidade de Brasília.
Com saudade de momentos simples, dona Flávia, 72 anos, é uma das 49 pessoas que vivem no Lar São Vicente de Paula. O asilo fica na cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, e suspendeu as visitas com contato direto por conta da pandemia. “Sinto falta de rir, dar e receber carinho, até de xingar. Quero abraçar e beijar todos os meus parentes. Tenho respeito pelo vírus para que a gente possa voltar logo a ter uma vida normal”, conta Flávia.
Nervosa e atenta para se cuidar, dona Lourdes, com 75 anos, é outra moradora do lar e fala sobre o que acha necessário para superar esse momento. “Estou nervosa e com saudades dos meus filhos, mas é preciso respeitar as regras de higiene e isolamento para ninguém passar nada para ninguém. Nenhuma pessoa quer carregar essa culpa”, diz.
A assistente social, Rosemery Quemelli, que trabalha no Asilo dos Idosos de Vitória, Espírito Santo, comenta como eles lidam sem ter as visitas. “Para os idosos que não tem família e não recebem ligações, tentamos explicar o motivo de não estarem recebendo visita. Que não é por causa deles, mas porque a saúde é prioridade agora”, conta.
Nesse sentido, há um reforço de Isabelle Chariglione, professora da Universidade de Brasília, colaboradora no Programa de Pós-graduação em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia. “Esse momento é mais delicado para os idosos que não possuem o cuidado dos seus parentes e que são dependentes de setores da sociedade”, explica.
A psicóloga, também diz que os impactos do isolamento social não refletem somente na idade, mas na qualidade do ambiente, rede de suporte e condições de saúde. “É importante manter o apoio emocional familiar ou de agentes de saúde, e dar informações claras sobre o contexto”, destaca.
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Pâmela de Campos, presidente voluntária da diretoria executiva do Lar São Vicente de Paula, explica como faz para realizar o amparo psicológico aos idosos. “Essa situação requer muito cuidado para que não haja uma piora no estado mental de cada um deles. Por isso, foi preciso contratar uma psicóloga para atendê-los.”
O lar também procura outras formas de aproximar os idosos de suas famílias. Dona Lilia, de 84 anos, por exemplo, recebeu a visita de parentes com máscaras, que ficaram separados por um vidro dela, respeitando uma distância de dois metros. “Agora estou bem, meu parentes me visitaram pelo vidro no dias das mães e fizeram um show para mim. Foi lindo de ver!”, lembra.
Por outro lado, Pâmela conta que alguns familiares afastaram-se ainda mais após o isolamento. “Com a pandemia, os parentes que já eram ausentes aproveitam a oportunidade para se manter ainda mais distantes”, conta.
O asilo São João Bosco em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, cuida de pessoas entre 62 e 100 anos, e atualmente recebe apenas visitas de voluntários. “90% dos nossos idosos não tem nenhum contato familiar. A maioria dos homens, por causa, do álcool se perderam de suas famílias, e quase todas as mulheres foram empregadas domésticas que criaram os filhos dos patrões e não chegaram a construir famílias próprias”, relata Paula Castro, assistente social do local.
Outra questão em pauta nesse cenário é a compra dos equipamentos de proteção individual (EPI) e materiais de higienização. Instituições de amparo e assistência a idosos em todo o Brasil estão com dificuldades de conseguir EPIs, devido a alta procura e hiperinflação no preço desses materiais. Além disso, os asilos estão com receitas limitadas uma vez que as atividades foram restringidas devido à pandemia.
O Hotel Residencial Boa Vida é uma instituição particular de São Paulo e atualmente abriga 22 idosos. O asilo relata uma dificuldade para comprar materiais de proteção. “Quase não encontramos EPIs e, se achamos, estão custando quase o triplo”, diz Eduardo Nunes, gerente administrativo do asilo.
De acordo Pâmela, o Lar São Vicente de Paula também sente a falta de materiais hospitalares. “Doações de máscaras, álcool em gel, produtos de limpeza e luvas tornaram-se urgentes. Tivemos muita dificuldade de conseguir máscaras e as costureiras locais se ofereceram para fazê-las gratuitamente”, explica.
Segundo a sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, os idosos que vivem em ILPIs — Instituições de Longa Permanência para Idosos — estão mais vulneráveis. Isso decorre porque geralmente eles apresentam comorbidades e um contato próximo com os cuidadores e outros profissionais. Por isso, é recomendado um plano de vigilância e prevenção, qual inclui o uso de EPIs e materiais de higiene.