Outro lado: O Governo do Estado de São Paulo diz que o contrato está sendo cumprido com regularidade; empresa privada assumiu as Linhas 8 e 9 no ano passado
As Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda dos trens metropolitanos de São Paulo acumulam problemas e falhas desde sua concessão, em janeiro de 2022. A concessionária ViaMobilidade Linhas 8 e 9, controlada pelo grupo CCR que também opera as linhas 4-Amarela e 5-Lilás de metrô, teve uma operação polêmica com 132 falhas no 1º ano de concessão contra apenas 19 sob a estatal Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Problemas que tinham sido superados nas últimas décadas como descarrilamentos, superlotação, incêndios e falhas elétricas voltaram a ocorrer.
Os dois ramais tinham boa avaliação dos passageiros quando eram administrados pelo Estado. Em 2021, a Linha 9 tinha aprovação de 83% e a Linha 8 88%. Com a concessão, a taxa passou para 54% e 53%, respectivamente. A ViaMobilidade espera que a chegada de 36 novos trens resolva a maioria dos problemas da linha e consiga recuperar a imagem positiva que conquistou com a operação da Linha 4-Amarela, a mais nova do sistema e que possui operação sem condutor.
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Falhas no transporte sobre trilhos de São Paulo
Problemas como sujeira, composições andando com portas abertas e falhas que forçam os passageiros a andarem nos trilhos se tornaram rotina. Na última terça-feira, 3, a Linha 9-Esmeralda teve sua operação prejudicada durante mais de 24 horas devido a uma falha na rede de alimentação elétrica. A ViaMobilidade suspeita de sabotagem. Durante o festival de música The Town, no Autódromo de Interlagos, usuários do serviço parador entre Jurubatuba e Vila Natal tiveram seu percurso interrompido no sentido Osasco também devido a problemas na rede elétrica. Clientes que compraram uma passagem expressa para ir ao festival pela estação Autódromo não foram afetados. Ainda ontem, 4, o teto da estação Osasco desabou no pico da tarde.
O Ministério Público do Estado de São Paulo supervisiona a operação e sugeria pedir o rompimento do contrato na justiça. Os ânimos se acalmaram no dia 15 de agosto pois a empresa e o MP assinaram um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que prevê um aumento de R$150 milhões em investimentos além do previsto em contrato. Para a codeputada Estadual Sirlene Maciel (PSOL-SP), todavia, a lentidão prevista para acabar em meados de agosto continua:
“Os problemas não foram solucionados. Estamos vendo que continua a superlotação. Eles (a ViaMobilidade) pediram um prazo e começaram a entrar numa operação “tartaruga” para poder resolver e continua a lentidão. Disseram que já está tudo resolvido.”
A parlamentar ainda ressalta que ainda existe falta de investimento na manutenção do sistema:
“O trem anda de porta aberta e o pantógrafo pegou fogo. Isso mostra que não tem manutenção. Quando a gente fala do transporte metroferroviário, precisa ter investimento em manutenção, capacitação, técnicos, estudo, gente formada e a CCR vem tratando de qualquer maneira. Não tem manutenção permanente. Inclusive o próprio ministério público já multou a empresa e deu um prazo para resolverem os problemas, o que não foi feito até o momento.”
A reportagem contactou a Secretaria de Parcerias em Investimentos, supervisora das parcerias público-privadas e concessões no Estado de São Paulo, e obteve a seguinte resposta:
“A Comissão de Monitoramento das Concessões e Permissões (CMCP) monitora e acompanha a execução do contrato das Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, bem como os investimentos a serem realizados pela concessionária. O contrato está sendo cumprido com regularidade. Com vigência de 30 anos, o acordo prevê um investimento de mais de R$3 bilhões (investimentos mais outorga fixa) para requalificação, adequação e modernização da infraestrutura das duas linhas, incluindo elaboração de projetos, estudos, obras de construção, reconstrução, ampliação e reforma. Além de aquisição de trens mais modernos, estudos ambientais, implantação de sistemas, infraestrutura e equipamentos.”
ESQUINAS também tentou contato com a assessoria de imprensa da ViaMobilidade. Quando mencionamos os problemas como sujeira, descarrilamentos e falhas não obtivemos resposta.