Segundo economista, a tendência é que investidores procurem empresas sustentáveis e cobrem boas práticas ambientais
É praticamente impossível estar inserido no mercado financeiro atualmente sem se preocupar com ESG – Enviromental, Social and Corporate Governance (Governança Ambiental, Social e Corporativa). Esses três pilares representam um olhar específico referente aos fatores ambiental, social e de governança dos investimentos, e essa linha tem ganhado cada vez mais espaço no âmbito econômico.
Para melhor compreender esse cenário, ESQUINAS conversou com o economista Rafael Wertzner Borges. Graduado na Universidade de Erasmus, em Roterdã, ele trabalha atualmente no ING Group, banco holandês avançado na área de sustentabilidade. Rafael atua na área de desenvolvimento sustentável, e é responsável por estruturar debêntures (títulos de crédito público) a projetos sociais e ambientais e fornecer consultorias a empresas.
Ele explica que os fundos de investimento são aplicações financeiras formadas pela união de vários investidores, não possuindo personalidade jurídica. O fundo funciona como um condomínio em que cada investidor adquire uma cota (que equivale ao apartamento), paga uma quantia para a administração (gerida por especialistas) e segue algumas regras preestabelecidas, visando a um determinado objetivo ou retorno esperado, dividindo as receitas geradas e as despesas necessárias para o empreendimento.
Fundos ESG: como funcionam
“Os fundos ESG levam em consideração os três fatores abreviados pela sigla. Os investidores institucionais têm vários jeitos de levar isso em consideração, havendo seis métodos adotados mais frequentemente”, diz Rafael. São eles:
- Fundos temáticos: todo instrumento financeiro investido pertence a determinado tema, como saúde, emissão de carbono, etc;
- Fundos de impacto: os investidores buscam causar algum impacto socioambiental positivo com seu dinheiro;
- Fundo integrado: os investidores levam em consideração o ESG para a avaliação das empresas, por exemplo, sujeitando-as a possíveis taxações caso prejudiquem o meio ambiente ou dando subsídios caso contrário;
- Critérios de exclusão: eles não investem em determinados setores, por exemplo, em pornografia, tabaco, álcool, entre outros;
- Investimentos em empresas líderes em ESG: os investidores buscam empresas com níveis avançados de ESG por meio de consultorias;
- Investidor ativo: o investidor busca fazer mudança com sua própria influência.
Sobre esses métodos, Rafael entende que o fundo integrado é o que mais aborda o aspecto financeiro do ESG, ao contrário do temático e do de impacto. “Eu acredito que estamos caminhando para tornar o fundo integrado um padrão, em que são considerados os fatores ESG, mas o lucro é priorizado. Entretanto, há teorias em Finanças Sustentáveis de que se deve priorizar o impacto socioambiental, mesmo que isso implique um lucro menor”.
Sua perspectiva para o futuro é de que haja “mais espaço para a parte de active ownership, isto é, os investidores terem um papel maior dentro das próprias empresas para fazer mudanças por meio de voto”.
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Tendência entre investidores
Rafael comenta que o selo ESG é uma tendência crescente entre os investidores institucionais, mas pondera: “Um problema do ESG é que há muitos ruídos nas métricas e metodologias utilizadas em cada empresa. Por exemplo, as agências de consultoria que avaliam cada empresa por seu comprometimento ao modelo possuem critérios distintos e desalinhados uns com os outros. Isso causa uma confusão entre os investidores”.
O economista acredita que a partir de 2022 esse cenário começará a mudar em virtude da EU Taxonomy, a regulamentação “verde” da União Europeia. O bloco começou a pedir aos investidores que reportem a porcentagem de sua base de ativos e de receita verde ou social. “Isso vai fazer com que as empresas em que eles investem tenham que se preocupar mais com isso”, explica.
Quanto ao retorno financeiro proporcionado pelo ESG, o especialista enfatiza que o modelo afeta o movimento do valor da empresa. “Se uma empresa passar a tomar medidas mais eficientes, suas margens de lucro vão ser alteradas. Uma empresa inconsequente na área de ESG certamente vai perder clientes, porque a parte de relações públicas é essencial para elas”.
No entanto, ele ressalta que o Brasil está atrasado nesse modelo. “Aqui na Europa, é visível que há um grande espaço para legislação trabalhista e intervenção do governo na constituição das empresas. O Brasil até tem casos de debêntures verdes, mas ainda muito pontuais”, finaliza o economista.
De acordo com essa tendência de investimento sustentável, alguns governos, principalmente da União Europeia, pressionam países e grandes empresas para a adoção de medidas no sentido do ESG. Um exemplo disso é o NFRD (Non-Financial Reporting Directive), que reúne métricas não financeiras que devem ser reportadas pelas empresas. Há também o TCFD (Task Force for Climate-related Financial Disclosures), que observa de que forma o meio ambiente afeta as empresas, e vice-versa.
O assunto está em pauta, e, segundo Rafael, há “muitas pessoas falando de ESG no mercado, mas ainda há muito o que desenvolver e esclarecer dentro desse modelo”.