A vida através das telas: adolescência marcada pela pandemia - Revista Esquinas

A vida através das telas: adolescência marcada pela pandemia

Por Giovanna Leite, aluna do projeto Redação Aberta #2* : outubro 1, 2021

Foto: Priscilla Du Preez/Unsplash

Ensino médio a distância, relacionamento por telas e boom nas redes sociais: o impacto da pandemia na adolescência dos brasileiros

Do dia para a noite, a pandemia interferiu na vida de todos os brasileiros. Do EAD ao Home Office, ficar em casa mudou completamente a rotina da maioria da população. Pensando na adolescência, com os jovens o resultado não foi diferente. A pandemia da covid-19 alterou a rotina de forma crucial:  o convívio social com amigos, com crushes e até familiares foi alterado. Em poucos dias, todo o convívio era realizado através do celular.  Nele, depositaram toda a sua vida: estudavam, iam a eventos virtuais, se informavam  e mantinha seus relacionamentos. Sem contar, é claro, as tentativas de driblar o tédio dos dias “quarentenados”.

Para passar o tempo, as redes sociais ganharam espaço entre os jovens. Em relação aos podcasts, por exemplo, o país se tornou o 5º em procura por conteúdos desse tipo. Plataformas de streaming também não ficaram de fora, já que o Brasil presenciou a chegada de mais de 5 novos serviços. Sem falar, é claro, no queridinho do momento, que já conta com mais de 1 bilhão de acessos diários: o TikTok.

Rayssa Maciel, jovem de 15 anos, natural de São José dos Pinhais, entrou para o time dos usuários que usam o aplicativo com o intuito de passar o tempo. Hoje, conta com mais de 100 mil seguidores. “Baixei o TikTok no início por diversão, para me distrair”, comenta a TikToker que, de pouco em pouco, conquistou milhares de fãs. Maciel ainda comenta que não esperava que seus vídeos tomassem essa proporção: “Quando meu primeiro vídeo viralizou eu passei mal, não esperava que isso pudesse de fato acontecer, embora eu sempre tenha sonhado em ter seguidores e pessoas que me acompanhassem”.

A advogada e influenciadora digital, Mariana Mattos, de 28 anos, começou nas redes sociais com o intuito de compartilhar seu dia a dia, mas com o tempo cresceu na rede: “foi algo orgânico e natural, me surpreendeu esse crescimento”. Para ela, seu crescimento no aplicativo está diretamente relacionado com a pandemia, pois além de ter se tornado mais ativa com suas postagens, acredita que as pessoas foram ainda mais induzidas a consumir esse tipo de conteúdo. A influenciadora ainda complementa que não é fácil ter quase 200 mil seguidores, já que atrás desses números existem pessoas que estão sendo diretamente influenciadas pelo que ela posta. “Se eu puder influenciar uma pessoa, sobre um tema com o qual consigo falar com segurança, então falo. Tem que existir um senso de responsabilidade”, afirma.

E nos relacionamentos?

Se no começo foi difícil acostumar com esse mundo digital, agora será complicado voltar ao antigo “normal”. Para a psicóloga Vivian Fonseca, existe uma preocupação com as dificuldades do convívio social pós pandemia. “Com certeza crianças e adolescentes serão os mais impactados no futuro, pois, ainda que em diferentes fases, ambos estão em período de desenvolvimento e suas relações estão sendo construídas de forma digital”, relata. A profissional de saúde mental ainda vai além: “podemos sim considerar o mundo digital como nosso aliado, mas, claro que estar 100% online não é saudável”. “Não é atoa que no último ano houve um aumento significativo de pessoas com depressão e ansiedade devido esse uso em excesso nas redes, já que o contato físico faz sim falta” afirma a psicóloga.

Usar apenas uma rede de Wi-Fi para criar laços afetivos proporcionou conhecer pessoas de qualquer canto do mundo, e a partir delas desenvolver grandes amizades. Para muitos, essas relações virtuais não podem dar certo. Em contrapartida, as influencers Mariana e Rayssa discordam: “acredito muito em relações virtuais, e tenho cada vez mais certeza disso quando recebo mensagens de seguidores que sabem tanto sobre mim através dessa telinha, e criam um carinho verdadeiro mesmo”, afirma Mattos. “Eu mesma fiz conexões e conheci pessoas através do Instagram, que são super importantes para mim, muitas vezes me sinto mais próxima de alguém que está longe fisicamente mas converso todos os dias do que aquela pessoa que vejo sempre” continua. Já a TikToker conseguiu encontrar até melhores amigos na rede: “essas amizades virtuais  são tão verdadeiras quanto as que vemos pessoalmente. Me sinto muito bem quando posso pegar meu celular e mandar uma mensagem para eles só com um clique, sem nem precisar sair de casa”.

Como dica para os pais que sentem desesperados em ver os filhos se virtualizando tanto e até aos adolescentes que sentem consumidos pelas redes sociais, a psicóloga aconselha mudar algumas coisas em sua rotina para ter uma vida mais leve e real: “se desconecte 2 horas antes de dormir, caso não conseguir, tente pelo menos 1 hora. Não ligue a televisão à toa só para ouvir o barulho e ter uma falsa sensação de que é uma companhia, também evite condicionar o momento de dormir com a TV ligada. Sempre que receber uma notificação não pare o que está fazendo para olhar, defina momentos estratégicos de pausa para se conectar”, relata. “Não é fácil, mas vale a pena tentar”, conclui.

*Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A segunda edição ocorreu entre 20 de setembro e 1 de outubro. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.

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