Especialistas e professores apontam que os impactos nos jovens podem ser cognitivos e socioemocionais, e ressaltam que o apoio das família é essencial
A implementação do ensino remoto devido à pandemia de coronavírus tem gerado grandes debates sobre as consequências no ensino das crianças. Mas como crianças portadoras de Síndrome de Down então lidando com o aprendizado e tratamento nesse contexto de adaptação às novas tecnologias? Para Daniella Morgner, professora do Colégio Pio XII, o “impacto existe e é real, e talvez só possa ser visto futuramente”. Para a educadora, haverá também um prejuízo cognitivo e, acima de tudo, socioemocional.
Segundo Valéria Mondin, fonoaudióloga e psicopedagoga educacional que atente crianças com Síndrome de Down, é recomendado desde cedo que as crianças com essa condição iniciem seus tratamentos para estimular o desenvolvimento da cognição e da linguagem. Este estímulo não fez parte da vida de Miguel, de 4 anos, desde seu nascimento, como conta seu pai, Tiago Perboyre, “depois de seis meses de idade ele pegou um resfriado e o levamos para uma consulta, a pediatra avaliou o estado de saúde dele e passou para a gente que ela ia pedir um exame porque ele tinha Down. A partir de então, nós tivemos que dar uma atenção especial para a saúde dele”.
Tiago conta que, no início de 2020, quando as aulas presenciais começaram na escola de Miguel, toda a família estava empolgada com a nova fase. No entanto, em março, “veio a pandemia e acabou o nosso sonho, já que a gente estava com muita expectativa de ele conviver com outras crianças, no social”. Durante este período, tratamentos foram interrompidos e as crianças tiveram que se habituar ao online, perdendo parte do convívio essencial para seu desenvolvimento. Porém, de acordo com Valéria Mondin, mesmo os desafios sendo grandes, o trabalho com a fala se mostrou interessante e produtivo usando o vídeo, uma vez que “a criança pode prestar mais atenção enquanto são articulados os fonemas, palavras ou frases”. A psicopedagoga também afirma ter obtido relatos de famílias em que as crianças passaram a falar mais.
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Para a professora Daniella, é importante ressaltar o papel das famílias nesse processo, pois devem buscar incentivar as crianças e olhar mais para as suas capacidades do que para as suas limitações. Um exemplo disso é a realização de atividades ao ar livre, que Tiago realiza com frequência com Miguel, e instigar as crianças a continuar tendo um contato com o mundo além do seu lar. Tais ações são importantes pois o afeto e o toque são essenciais para o indivíduo, na sua infância, desenvolver um olhar mais solidário. Paralelamente, o distanciamento social, o fechamento das escolas, o excesso de atividades online, principalmente para as crianças maiores, podem ser um risco ao emocional, destacando ainda mais a importância dos pais, segundo Valéria Mondin.
O ensino remoto para turmas com crianças com Síndrome de Down necessita de atenção especial por parte dos professores, pois, como destaca Danielle, “crianças com Síndrome de Down possuem uma deficiência intelectual, ou seja, tem um tempo de concentração menor, o ensino remoto acaba por evidenciar e aumentar um pouco esse tempo”. Sobre os cuidados que os professores devem ter para que haja um melhor aproveitamento das aulas online, ela diz que o professor tem que garantir e valorizar os momentos com a turma, os momentos de socialização e de interação, e deixar muito claro, exaltando o diálogo, que “nós somos diferentes: cada um sente, tem um tempo e aprende diferente”, finaliza e educadora.
* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.