Conheça a realidade dentro das áreas de produção, redes sociais, revista impressa e assessoria. Uma nova era para o novo jornalista
Em 7 de abril, é celebrado o Dia do Jornalista. A data, criada pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em 1931, foi instituída como uma forma de homenagear o médico e jornalista Líbero Badaró, profissional que defendia a liberdade de imprensa.
ESQUINAS conversou com quatro jornalistas que trabalham em diferentes áreas da comunicação a partir do jornalismo. Com base nas experiências, as profissionais falam sobre o futuro da profissão e ainda detalham suas rotinas.
Jornalista e assessoria de imprensa: casamento recente, mas de sucesso
Ainda que a rotina seja diferente da de rádio, televisão e revista, por exemplo, é muito comum vermos jornalistas inseridos no mercado de trabalho da assessoria de imprensa, muitas vezes voltada à comunicação corporativa.
É o caso de Daniela Gaia, jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em 2010, e pós-graduada em Marketing e Comunicação em Moda. No momento, atua como assessora de imprensa voltada para a relação de marcas com influenciadores na PROS – Menos Public Mais People Relations. Mas, até chegar na área, passou por redação e trabalhou em várias editorias: de política até entretenimento. Cultura, moda, beleza, decoração e comportamento estiveram presentes na sua rotina até 2017, quando migrou, de fato, para a assessoria de imprensa.
Apesar de englobar áreas diferentes, Daniela explica que a experiência com o jornalismo tradicional a ajudou no seu trabalho atual com assessoria. Segundo ela, durante a escolha de pautas enviadas à imprensa, ter atuado em uma redação tradicional fez com que seu trabalho em relação ao valor-notícia fosse mais apurado. “Quando você vai para a assessoria, nem tudo que seu cliente faz necessariamente é uma pauta para trabalhar com imprensa. Isso também faz com que você enxergue oportunidades para fazer sugestões que o cliente nem tinha se atentado”.
A profissional não esconde sua paixão pela redação, mas reconhece que, quando o assunto é assessoria, os trabalhos são totalmente diferentes. Área relativamente nova no jornalismo, já que, até há alguns anos, era relacionada a Relações Públicas, na assessoria de imprensa, segundo Daniela, é fundamental uma boa relação com o jornalista de redação.
“A gente tem muitas conquistas interessantes. Dá muito orgulho quando emplacamos clientes em veículos relevantes nacionalmente. Tudo isso é fruto de um trabalho bem feito, de um relacionamento que você cria com o jornalista e a forma como você trabalha aquela pauta do cliente”, acrescenta.
Daniela dá detalhes sobre a rotina dos assessores, mas adianta que não há nada fixo. Tudo depende dos projetos com os clientes e as estratégias para uma boa comunicação com o público e com a imprensa.
No caso do ramo que a jornalista atua, a relação com influenciadores ajuda na visibilidade da marca. Por isso, projetar aqueles que se identificam com os clientes e que podem render bons frutos é um passo importante. “Temos um departamento de criação para pensar como desenvolver as campanhas para o cliente, mas que não seja aquela assessoria de imprensa tradicional. Há uma estratégia fora da caixa e contratamos influenciadores para trabalharem com a marca para serem embaixadores”, acrescenta.
A dica de ouro que Daniela dá para os futuros jornalistas? Aproveitar todas as experiências que surgirem no caminho. “Trabalhando em uma agência, eu vejo o quanto foi importante passar por uma redação em jornal. Isso é um conselho que eu dou para todo mundo que está em jornalismo hoje: quanto mais experiência você tiver, seja na televisão, no rádio, ou em algum site, melhor. Tudo vai agregar, com certeza. Tanto para você decidir o que quer fazer quanto para o que você não quer”, finaliza.
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Jornalismo em vídeos curtos: realidade e o futuro da profissão
Marina Pastorelli há um ano, atua como gestora de vídeos curtos para plataformas como TikTok e Kwai de 11 marcas de revistas do Grupo Perfil Brasil. “Os vídeos curtos chegam em uma geração que não está acostumada a ler notícia. Eles já estão acostumados com rolar a tela em um aplicativo de vídeo e consumir um conteúdo rápido, sem fazer esforço. Então, sim, tem futuro”, diz.
Porém, para a jornalista, essa área também pode ser retrógrada. Assim como era com a mídia impressa, uma notícia postada em vídeo não pode ser atualizada, o que exige mais atenção na hora de publicar o conteúdo. “O vídeo já está ali, gravado, editado e postado. Se algo mudar em uma história, não tem como simplesmente alterar um dado. No site tem como fazer isso – e muito rápido. Essa é a maior desvantagem dos vídeos”.
Marina passou por revistas de editorias de moda, saúde, comportamento e entretenimento no digital desde 2018, quando começou sua trajetória no jornalismo. Presente na transição do on-line para o físico, a jornalista também fala sobre o polêmico SEO (Search Engine Optimization), conjunto de técnicas criadas para captar um bom posicionamento de páginas no Google, ou seja, o alcance do conteúdo.
No caso do jornalismo, o objetivo de usar o SEO é fazer com que matérias e reportagens cheguem ao maior número de pessoas possível. As críticas ao SEO na profissão envolvem, principalmente, aos títulos de matérias burocráticos e simplificados exigidos pelas regras, além, claro, do quase monopólio do Google neste mercado.
“Isso é polêmico, porque sim, acho que [as regras do SEO] mudam muito a essência do jornalismo. O SEO nos impõe regras que tiram a autenticidade do texto. A população e como ela consome a notícia muda muito rápido. De que adianta um título poético se, na verdade, o que vai ganhar audiência é algo rápido e fácil de entender, que faça o leitor clicar mais rápido por curiosidade? É complicado! Como jornalistas, precisamos nos adaptar constantemente”.
Trabalhando com 11 marcas diferentes, Marina precisa ajustar sua rotina para que todos os perfis das revistas sejam atualizados diariamente. A jornalista conta com uma equipe de mais duas pessoas, assim, em conjunto, eles criam o roteiro, gravam, escolhem as mídias que irão para os vídeos, editam e postam. Diferentemente de matérias escritas, os vídeos curtos exigem conteúdos rápidos, dinâmicos e divertidos – por isso, ela faz questão de assumir todas as partes de criação deles.
“Como editora da área, além de produzir, eu também aprovo as pautas, roteiros e edição dos estagiários – garantindo, sempre, que os vídeos sejam de caráter noticioso, mas que sejam divertidos e tenham um bom português”.
“Mas nem sempre a gente consegue começar onde sempre desejou, né? Meu início foi falando sobre famosos, um tema que eu nem era tão ligada na época. No entanto, vi como uma oportunidade de crescer em uma das maiores editoras do país e ganhar experiência de escrita – e valeu muito a pena!”, conclui.
Jornalismo impresso tem futuro?
Uma coisa é fato: cada vez menos se vê revistas e jornais sendo comercializados como antigamente. As bancas de jornal ainda existem, de fato, mas se reinventaram ao passar dos anos e passaram a vender artigos como brinquedos, bolsas, mochilas e até mesmo roupas para continuar sobrevivendo.
Para Yulia Serra, editora de Branded Content e da revista Pais&Filhos, o jornalismo impresso não tem futuro do jeito que era antes. “Para ter o mesmo peso de um site, de uma mídia, de rede social? Não. Mas acredito que ele possa se reinventar para não morrer”. A jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero conta qual pode ser o caminho para que revistas e jornais possam garantir um espaço no coração do leitor: “O jornalismo impresso tem que virar mais uma coletânea, uma coisa mais aprofundada, mais exclusiva, para quem realmente é muito fã da marca. Não acredito nele com o peso de uma rede social, de um site, mas realmente acho que ele tem público para continuar”.
Hoje em dia, na redação, aborda as editorias de parentalidade, comportamento e saúde, tanto na revista quanto em Branded Content. Com a experiência nos três espaços, ela conta como trata cada um dos temas: “Quando eu falo de saúde, eu tenho uma pegada mais de serviço para o meu leitor, então ou eu explico algum termo que acho importante que ele saiba, ou eu conto alguma novidade no meio da saúde de forma traduzida. Já na pegada comportamental, é muito mais abraçar o leitor e entender aquela angústia, dar um ‘carinho’. Não é tanto um serviço, e sim um ‘vai ficar tudo bem’, e com certeza me identifico mais com a pegada comportamental.Você precisa mesmo conversar com pessoas que vivem aquela realidade, ir a fundo, ler sobre isso”.
A rotina dela é dividida entre a área de Branded Content, que conta produção de conteúdos para o site, redes sociais e até mesmo da Pais&Filhos feitos pelo time. “Vai desde a produção de pautas”, diz ela sobre a participação na revista, “Hoje a gente não faz aquela reunião de pauta como se conhecia antes, mas tem sim todo um pensamento e um raciocínio para a gente planejar e montar a revista. Com as pautas fechadas, começamos a produção. Eu coordeno e faço muita edição hoje em dia, então às vezes você delega funções para outras pessoas. Tanto com Branded Content quanto com revista nós trabalhamos muito com prazos. Tudo pronto, mandamos para as revisoras e tudo sai de acordo no final do mês”.
Redes sociais e merchandising: conteúdos pagos na área
Mariana Morena Alvin tem 29 anos e de uma coisa entende: o poder da mídia para a divulgação de produtos. A jornalista formada pela Faculdade Metropolitanas Unidas (FMU) tem uma boa passagem pela área de marketing e redes sociais de empresas. Aos 20 anos, viajou para os Estados Unidos para ser au pair de uma família nova-iorquina, e assim que voltou ao Brasil, ingressou no ramo pouco conhecido do jornalismo.
“Depois que retornei dos EUA, eu trabalhei na Race Comunicação, uma agência de assessoria de imprensa, onde fiquei por dois anos”, conta Mariana, “Depois disso, mudei de área e fui para o marketing, tendo passado pela Avianca e Votorantim”. Atualmente, Mariana está na Record, e é responsável pela produção de merchandising de conteúdo, onde se identifica mais: “Eu amei estudar jornalismo, amei a faculdade, mas o dia a dia não me brilhou os olhos. Por isso eu fiz uma leve mudança de percurso e fui para a produção, onde me encontro hoje. Só pude perceber que eu não me identificava com a área trabalhando nela”. Antes de tudo, o primeiro emprego de Mariana foi no jornal “O Liberal”, uma filial da Globo na região Norte do País.
É comum ouvir de pessoas de todos os cursos que existe uma diferença entre o teórico e o prático, ainda mais quando se tem uma nova área que cresce e muda rapidamente como as redes sociais. Para a jornalista, isso não é diferente: “Eu acho que o currículo precisa melhorar. A gente chega no fim da faculdade e não estamos prontos para o mercado de trabalho. Isso falta na grade curricular, principalmente nas redes sociais. A cada mês tem uma ferramenta nova, o Instagram se atualiza, o Facebook traz outras métricas, surge uma rede social nova, e como a faculdade se adapta a isso? É uma falha na formação. Os profissionais vão se moldando, começam a estagiar e trazem um pouco do trabalho para a faculdade e vice e versa, tirando o melhor dos dois mundos”.
Na Record, Mariana Morena tenta equilibrar o entretenimento e o jornalismo com os dois programas que trabalha, Hora do Faro e Cidade Alerta. Além disso, precisa sempre trazer o olhar do marketing para as telas: “A minha rotina é entender quais clientes temos na semana, fazer reuniões e entender como eles querem fazer essas ações de merchandising dentro dos programas. Em seguida, partimos para a elaboração e produção dessas ideias com os clientes e ir para o estúdio gravar, junto com os apresentadores e dentro do programa”.
O resto depende de como é a ação, explica a produtora: “Se é uma ação simples, comercial, nós passamos o texto para o apresentador por meio do TP [Teleprompter, que funciona como um espelho do texto a ser lido para o apresentador poder ler e olhar para a câmera ao mesmo tempo], pegamos todos os materiais do cliente, como telão, QR Code e GC [Gerador de Caracteres, que faz as legendas vistas na tela] e faz isso ao vivo tranquilamente”.
Contudo, as coisas podem mudar: “Se é uma ação integrada ao conteúdo do programa, o que acontece muitas vezes no programa Hora do Faro, isso leva um pouco mais de tempo, já que temos que encaixar a ação do cliente dentro do conteúdo do programa. Um exemplo é uma ação do Bradesco dentro do Hora do Faro, que ia ajudar os candidatos do “Vai dar Namoro” a fazer cantadas melhores para as meninas com os benefícios do cartão, como: ‘Vou te levar para jantar com o cartãozão do Bradesco que eu tenho aqui’”.
A produtora da Record viveu “o melhor dos dois mundos”. Consegue cuidar de ações que podem ser um trabalho feito mais por trás das câmeras e que também conta com a emoção do “ao vivo”, que é um grande motivador dela: “Trabalhar com o ‘ao vivo’ é muito legal e eu acho que é isso que dá mais prazer em trabalhar. É nervosismo mesmo só que te dá um gás de você querer botar aquilo no ar todos os dias. É uma das partes que mais gosto, porque nas redes sociais, quando postamos algo, perdemos a dimensão da televisão. 1, 2 pontos de audiência atinge muita gente. O programa do Faro dá 10, 15 pontos de audiência. O Cidade Alerta também atinge um Brasil muito grande, maior que o nicho das redes. Isso me encanta muito!”.