Professoras precisam driblar dificuldades tecnológicas e a necessidade de atenção individual. Especialistas recomendam parcerias com as famílias
Desde a suspensão de aulas presenciais no Estado de São Paulo, em 23 de março, educar se tornou uma tarefa ainda mais desafiante do que de costume. No caso das escolas estaduais, o governo oferece aulas a distância pelo aplicativo Centro de Mídias SP, pela TV Educação e TV Univesp. A previsão para a volta das aulas presenciais é apenas em agosto — ainda assim, com apenas 20% dos alunos a cada dia.
As barreiras se impõem ainda mais fortemente para alunos e alunas com algum tipo de deficiência. “Toda educação necessita de aulas presenciais. Com os alunos especiais, elas são mais que fundamentais”, opina Deise Cazarine, 44, professora especializada em Educação Especial da EE Professora Zenaide Vilalva de Araújo, no Jardim Mutinga, na zona norte paulistana. “A atenção do professor faz a diferença, assim como os materiais adaptados e as interações entre as crianças”.
Novos métodos na educação remota
Os profissionais do ramo se desdobram para suprir ao menos parte da carência com o ensino a distância. Marta Gomes,42, da EE Professora Sueli de Silveira Marin Batista, em Jales, no interior de São Paulo, conta como adaptou seu método de ensino: “O primeiro momento foi junto aos familiares, atendimento por Whatsapp, com conversas informais focadas nas condições emocionais dos alunos e dos responsáveis”, explica. “Foi um trabalho cuidadoso, principalmente com uma família com vários filhos e poucos recursos tecnológicos. Procurei escutá-los e tranquilizá-los, deixando claro a importância da parceria escola-família”.
Para especialistas, como Karina Soledad, docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, é um caminho acertado. “Quando se pensa em estudantes com deficiência que apresentam limitações cognitivas, físicas ou sensoriais, o grande desafio é manter o diálogo com as famílias, oferecendo-lhes orientações e sugestões de atividades nesta nova rotina”.
Na mesma linha, Regina Mercúrio, formadora do Instituto Rodrigo Mendes e especialista em Educação Inclusiva, comenta como o entendimento do contexto familiar pelos educadores humaniza o processo de aprendizado: “É importante acolher estas famílias, compreendendo suas singularidades. Deve-se entender que os responsáveis se encontram muitas vezes em situações complexas e que não são professores. O acolhimento evita o sentimento de impotência por parte delas”.
A parceria, porém, não significa que o professor deva transferir a responsabilidade de ensinar. “Sigo à risca as atribuições de professor especializado, que é orientar os professores do ensino regular na adaptação curricular, com abordagens refletivas e ações pontuais”, afirma Marta. Deise complementa: “Apoio e ajudo os professores do ensino comum a adaptarem o currículo”.
Apesar de todos os empecilhos, as profissionais acreditam que o conteúdo esteja ao alcance dos estudantes. “Vejo que de alguma forma a educação está chegando”, afirma Deise. Marta concorda. “Mesmo com limitações, hoje vejo que podemos ser mais e ir além dos muros da escola. A tecnologia também possibilita um atendimento pontual”. E finaliza: “Esse momento também me faz refletir sobre alegria, sobre o sorriso dos meus alunos com a felicidade estampada no rosto e aguardando a ligação da professora Marta”. Sentimento ambíguo ao de Deise: “Me sinto incapaz, sinto dor, sinto tristeza, sinto desespero”.