Você conhece a Cripta da Sé? - Revista Esquinas

Você conhece a Cripta da Sé?

Por Ana Beatriz Marchiori, Bruno Cominatto, Geórgia Ayrosa, Julia Alló, Pedro Trajano e Vinicius Marques : outubro 17, 2018

Abaixo da “Igreja-Mãe” de São Paulo, o lugar esconde parte da história da capital e recebe visitas todos os dias da semana

Em meio a tantos pontos históricos que existem na quilométrica São Paulo, as pessoas perdem a chance de conhecer lugares interessantes e pouco comentados. Inúmeros museus, galerias, reservas, espaços religiosos e prédios tombados se escondem nas sombras de gigantes como o Masp, o Banespa, o Edifício Itália, o Pátio do Colégio e as luzes noturnas da Avenida Paulista. É o caso da Cripta da Sé, localizada exatamente embaixo de uma das protagonistas do turismo paulistano, a Catedral da Sé.

Localizada no Centro da cidade, a Catedral recebe visitas todos os dias de curiosos pela arquitetura do início do século XX, pela devoção que emana ou pela história que carrega em suas paredes. Ao mesmo tempo, esconde a sete metros abaixo do nível da rua uma cripta, capela subterrânea em ótimo estado de conservação. Porém, poucos dos que visitam a grande Catedral têm conhecimento do que o subsolo traz.

A Catedral da Sé, localizada no centro de São Paulo, possui arquitetura gótica
Ana Beatriz Marchiori

Em 1913, começou a construção da atual igreja. Contando com problemas e falta de recursos, Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro arcebispo de São Paulo, contratou o arquiteto alemão Maximilian Emil Hehl para projetar a nova catedral. Inspirado nas catedrais medievais europeias, o estilo neogótico predomina nas estruturas da Catedral da Sé, sendo que todos os mosaicos, esculturas e mobiliários foram trazidos por navio da Itália. A inauguração da catedral, ainda inacabada, viria somente 41 anos depois, em 1954.

Para a construção da igreja, os materiais foram encomendados e trazidos da Europa
Ana Beatriz Marchiori

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Porém, a cripta surge durantes os anos iniciais da construção, 35 anos antes da própria abertura da Catedral da Sé. O espaço de 619 metros quadrados e sete metros de altura, piso de mármore mesclado entre preto e branco, altas colunas rígidas e teto repleto de arcos com tijolos encantam quem passa por ali. A arquitetura gótica, seguindo os padrões da Catedral acima, impressiona com os mínimos detalhes, com uma história surpreendente.

A grandiosidade serve para abrigar e repousar conhecidas personalidades paulistanas. Além dos restos mortais dos bispos de São Paulo, como Dom Paulo Arns, o último sepultado ali, em dezembro de 2016, encontram-se os túmulos do cacique Tibiriçá e do padre Antônio Feijó. Tibiriçá foi o primeiro indígena a ser catequizado pelo padre jesuíta José de Anchieta e a ser enterrado na cripta. Já Feijó foi um regente do Império de 1835 a 1837, assumindo o comando do país na ausência de um monarca. Num dos enterros mais ostentosos da cidade, foi sepultado na Catedral da Sé após uma parada cardiorrespiratória. Túmulos de personalidades “curiosas” também estão na cripta, como é o caso da sepultura do padre Bartolomeu de Gusmão, inventor dos balões de ar quente, o suficiente para ser conhecido por “o padre voador”.

Sé

A inauguração da Catedral Metropolitana de São Paulo aconteceu em 1954
Ana Beatriz Marchiori

O que muitos também não sabem é que a linha imaginária do Trópico de Capricórnio passa pela Cripta da Sé. O local está próximo ao marco zero da cidade de São Paulo, instalado na Praça da Sé, em frente à catedral. Mitos e lendas não faltaram para contar a história do local. Um deles é que existiria uma passagem secreta ligando a Catedral da Sé a outras duas igrejas paulistas: a de São Francisco e a de São Bento, todas na região central da capital.

Sé

O projeto arquitetônico da Catedral pertence a Maximilian Emil Hehl
Ana Beatriz Marchiori

Para visitar a cripta, é simples. Ela fica aberta de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 16h30. Aos finais de semana, os horários são diferentes. Fica aberta das 9h30 às 15h30 aos sábados, enquanto a visitação acontece das 12h30 às 15h30 nos domingos. O passeio é direcionado por um guia, disposto a ensinar o tanto de história que as câmaras subterrâneas ainda guardam.