ONU, Y20, Mercosul e G20: como o Brasil pode ser protagonista no combate à crise climática? - Revista Esquinas

ONU, Y20, Mercosul e G20: como o Brasil pode ser protagonista no combate à crise climática?

Por Lara Asano, Letícia Maia e Lucas Sabença : novembro 22, 2023

Com a crescente preocupação global em relação à crise climática, o Brasil tem sido cada vez mais participativo em debates sobre o tema. Foto: Pexels/Pok Rie

O País tem uma agenda cheia de compromissos internacionais, com questões domésticas ainda pendentes

Com a crescente preocupação global em relação à crise climática, o Brasil tem sido cada vez mais participativo em debates sobre o tema. Talvez, nunca como antes, ele tenha a chance de ser o protagonista desta causa, podendo ser exemplo de postura ambiental e de contribuição para as ações de mitigação e adaptação.

Recentemente, o País assumiu a presidência do MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), do G20 e do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Além disso, voltou a ser convidado para a Cúpula do G7, realizada em maio deste ano, na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou fortemente os países ricos e suas responsabilidades na questão climática.

Em uma análise abrangente das perspectivas e desafios, e claro, críticas, Fábio Feldmann e Karina Bruno Lima compartilharam suas visões sobre o papel do País assim como as oportunidades que surgem nesse contexto.

Nova era para o Brasil?

Fabio Feldmann, um dos principais defensores ambientais do Brasil e um dos fundadores da Fundação S.O.S Mata Atlântica, explica a redução do protagonismo do país em questões ambientais, especialmente durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro: “o protagonismo brasileiro começou em 1992, quando o Brasil sediou a Conferência do Rio, também conhecida como Eco 92, que até hoje é a maior conferência das Nações Unidas. Não é exatamente uma novidade o Brasil exercer protagonismo. O que existe é um contraponto em relação ao governo Bolsonaro, que foi negacionista e acabou afastando o Brasil desse protagonismo”.

crise climática

“Não é exatamente uma novidade o Brasil exercer protagonismo”.
Foto: PSDB MG - Aécio Neves - reunião programa de governo

Mas, paremos para uma reflexão. Antes de sair tentando captar os holofotes mundiais para uma crise que é global e afeta todo mundo, não seria mais sensato o Brasil arrumar a própria casa e lidar com seus problemas internos também?

Em junho deste ano, o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD 2022), publicado pelo MapBiomas Alerta, revelou um aumento de 22,3% na área desmatada em relação a 2021, atingindo 2.057.251 hectares. A agropecuária foi identificada como a principal causa, contribuindo com 95,7% do total dessa destruição da nossa vegetação nativa. O relatório apontou também o crescimento do desmatamento em Unidades de Conservação e em áreas indígenas, assentamentos rurais e comunidades quilombolas. A sobreposição com o Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi significativa, particularmente no Pantanal e no Cerrado.

Ou seja, temos muito ainda o que fazer, e essa é só a ponta do iceberg. Como explica Feldmann, os problemas enfrentados pelo Brasil relacionados ao desmatamento estão fortemente relacionados ao crime organizado. Apontando a presença do poder público do estado na Amazônia como desafiada, o advogado afirma que o desmatamento atual é muito diferente do que aquele praticado há 30 anos.

“Para o Brasil assumir a liderança, é crucial adotar uma postura mais firme no cumprimento da Constituição de 1988. A discussão sobre o ‘estado de coisas inconstitucional’, mencionada pela ministra Cármen Lúcia no Supremo Tribunal Federal, tem origem na Colômbia e reflete questões semelhantes enfrentadas pelo sistema carcerário brasileiro. Para assumir uma posição de liderança, o Brasil deve agir com mais determinação e efetividade”.

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O desmatamento atual é muito diferente do que aquele praticado há 30 anos.
Foto: Pok Rie

El Niño e as fortes chuvas na Região Sul

A tragédia que a Região Sul do Brasil vem enfrentando nos últimos meses devido às chuvas e a sua relação com o El Niño serve de alerta para as mudanças climáticas.

O El Niño é caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, que afeta diretamente os padrões de chuva e temperatura. Isso pode levar a condições de seca ou chuvas intensas em diferentes partes do mundo, como aconteceu na Região Sul, e que atinge agora o estado do Amazonas, gerando efeitos em cadeia como na agricultura, nos ecossistemas e na vida cotidiana das pessoas. O fenômeno, que geralmente ocorre em intervalos de dois a sete anos, ainda corre o risco de se transformar no Super El Niño, o que não seria nada agradável para o ser humano.

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A especialista Karina Bruno Lima, climatologista e geóloga, alerta para o crescente impacto das mudanças climáticas no Brasil, com temperaturas médias em ascensão e o surgimento de eventos climáticos extremos como o que vimos no Rio Grande do Sul, que deixou 49 óbitos. Ela incentiva a importância da divulgação dos fenômenos como uma maneira de informar a população sobre a sua existência:

“Às vezes, quando nos deparamos com notícias sobre eventos extremos, como ondas de calor, é comum que não vejamos informações sobre outros eventos, como ciclones. Aqui, na Região Sul, e até um pouco no Sudeste, temos a incidência desses fenômenos tropicais na costa, os quais sempre existiram. No entanto, com as mudanças climáticas e o aquecimento global antropogênico, esses eventos estão tendo condições mais favoráveis para a intensificação. Assim, estão se tornando mais intensos e produzindo chuvas e ventos mais velozes, o que é mais perceptível para nós.”

 

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Ela relembra eventos extremos relacionados à chuva, como o desastre no litoral norte de São Paulo, e as explicações para esses fenômenos. Apesar de cada caso precisar ser analisado e estudado especificamente para avaliar se a probabilidade de ocorrência foi intensificada por mudanças climáticas, ela considera perigoso assumir que não há uma relação com novos problemas ambientais.

“Mesmo sem um estudo específico para cada caso, não podemos simplesmente descartar o impacto do aquecimento global, uma vez que já estamos vivenciando esse contexto. A grande maioria dos eventos extremos está sendo influenciada pelas mudanças climáticas. Portanto, é importante ter cuidado ao divulgar informações, e acredito que aos poucos isso está mudando na mídia, especialmente em relação a ondas de calor”.

Com a preocupação crescente com o impacto das mudanças climáticas, a especialista fala sobre a importância da população considerar a seriedade da crise climática e dela tomar medidas tanto a nível individual quanto coletivo: “acredito que é crucial despertar a consciência das pessoas sobre a gravidade da situação. Embora devamos evitar o desespero, é necessário destacar a urgência da crise climática e enfatizar que ainda há ações que podem ser tomadas para enfrentá-la”.

Existe um chamado para uma ação mais efetiva e sustentável, enquanto autoridades e pesquisadores continuam a explorar maneiras de conter o impacto das mudanças climáticas no Brasil e em todo o mundo.

Editado por Daniela Nabhan

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