Estudantes da UFRJ comentam possível fim da instituição por conta do baixo orçamento, anunciado pela Reitora ao jornal O Globo no começo de maio
O sonho de Fabio Paiva, 21 anos, graduando em Relações Internacionais na UFRJ, sempre foi ser aprovado no vestibular da instituição. Seu terceiro ano do Ensino Médio foi inteiramente dedicado aos estudos para ingressar na faculdade. No entanto, agora ele corre o risco de ter seu sonho interrompido.
Em uma matéria do jornal O Globo do dia seis de maio, a Reitora, Denise Pires, e o Vice-reitor, Carlos Frederico Leão Rocha, anunciaram a possibilidade de fechamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro por falta de verba.
“O problema da UFRJ não é a gestão, sempre foi o subfinanciamento”, diz Fabio. Para ele, todo o corpo social da instituição deve denunciar a política de destruição da educação pública que está em curso.
Héderick Allan, 21, estudante de Defesa e Gestão Estratégica Internacional, um curso de graduação que existe apenas na UFRJ, mostrou, por meio de um tuíte, sua indignação com o possível fechamento e destacou a importância da universidade não apenas para o estado do Rio de Janeiro, mas também para o Brasil.
A UFRJ fechar significa fechar 9 hospitais universitários e unidades de saúde, 13 museus, mais de 1.450 laboratórios, 45 bibliotecas, um Parque Tecnológico com startups e empresas de protagonismo nacional e internacional…
ALÉM DE PARALISAR A PESQUISA DE DUAS VACINAS NACIONAIS— Héderick Allan 🇧🇷💉 (@HederickAllan) May 10, 2021
A instituição, que faz parte da linha de frente contra a covid-19, conta com pesquisas de ponta e hospitais universitários que se mostraram cruciais durante o período de pandemia. Duas vacinas estão em estágio pré-clínico e seriam produzidas nacionalmente pela universidade, sem uso de insumos do exterior. Isso significa que o Brasil poderia ter a chance de usar vacinas 100% próprias.
Mas essas não são as únicas perdas que viriam com o fim da UFRJ, já que a antiga “Universidade do Brasil” — como era chamada até o período da Ditadura Militar — detém e administra um grande patrimônio histórico, que conta com 12 museus.
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De acordo com Héderick, a entidade já enfrentava problemas devido a seu orçamento “estrangulado”, que interrompia diversos projetos que estavam sendo elaborados. Entre eles, um trem de levitação magnética, que começou a ser desenvolvido na década de 2010 e conta com um protótipo dentro do campus, mas nunca foi adiante.
“Os museus, bibliotecas e espaços culturais guardam e constroem a memória do nosso povo e são essenciais para a manutenção do patrimônio histórico-cultural brasileiro”, diz Maria Vitória Alentejano, 20, estudante de Relações Internacionais na UFRJ.
Sobre o possível fechamento da universidade, Maria Vitória destaca a importância da instituição para a sociedade como um todo, por ser múltipla, diversificada e uma grande produtora de conhecimento, que pode ser aplicado nas mais diversas áreas.
“A frase ‘A UFRJ vai fechar’ não é algo que a gente só escutou em 2021. Foi escutada corriqueiramente ao longo dos anos”, afirma Nahan Rios, 21, diretor de Assistência Estudantil do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e membro da Coordenação do RUA UFRJ. A fala do estudante confirma uma informação da carta da reitoria sobre os cortes radicais de orçamento que ocorrem desde 2013.
O aluno do curso de Psicologia relata como a redução de verba dificulta a continuidade da política de assistência estudantil e como isso afetaria os universitários periféricos. “A política de assistência estudantil já é insuficiente para o contingente de pessoas que precisam de alojamento, por exemplo.”
Protestos na UFRJ
Segundo Alexandre Borges, 22, estudante de Letras Português/Espanhol, Coordenador Geral do Centro Acadêmico de Letras e membro da diretoria do DCE, a solução não pode ser encontrada na privatização. A inviabilização das universidades públicas, para ele, é um projeto de desmonte que a UFRJ sempre conseguiu resistir, até o momento atual.
“Estamos vivendo um momento no País em que, talvez, se não lutarmos hoje, nossos filhos e netos nos perguntarão, daqui a 20, 30 anos: ‘Nossa, como que as pessoas deixaram chegar nesse ponto?’. Para que isso não aconteça, devemos combater agora.”
Alexandre frisa que as manifestações são urgentes, mesmo durante a pandemia: “Ninguém quer ir para a rua agora. Defendemos, desde o início, o nosso direito à quarentena e muitos outros, como maior circulação de transportes públicos e o auxílio emergencial. Mas chegou um momento em que ficou impossível assistir e ficar em casa.”
Um ato dos estudantes da UFRJ acontece hoje, 14 de maio, às cinco da tarde, no centro da capital fluminense. Serão distribuídas máscaras PFF2 e álcool gel, comprados com fundos arrecadados pelos alunos da universidade. De acordo com eles, serão tomadas todas as precauções necessárias para fazer com que o ato seja seguro, com distanciamento social.