Com redução de 80% da clientela, depiladora com estúdio recém-inaugurado precisou voltar a trabalhar durante a pandemia e redobrou os cuidados de higiene.
2020 era um ano promissor para Aparecyda Santos da Silva, de 44 anos. Depiladora há 29 anos e micropigmentadora, planejava desde o ano passado abrir sua própria clínica, no bairro Jardim Oriental na Zona Sul de São Paulo, após trabalhar por 11 anos em um salão de beleza perto do local.
A festa de inauguração aconteceu dia 22 de fevereiro, sábado de carnaval. O novo começo na vida de Aparecyda foi recebido por um obstáculo antes desconhecido pelos brasileiros: o coronavírus. Coincidentemente, durante o feriado, foi confirmado o primeiro caso do vírus no Brasil. O infectado era um homem que vinha a São Paulo de um voo da Itália, onde era o novo epicentro da doença.
Seguindo as recomendações do Ministério da Saúde, a microempreendedora fechou a clínica. Porém, para conseguir pagar as contas de casa e o aluguel de seu estabelecimento, precisou reabrir após 1 mês. “Quem é autônomo volta a trabalhar porque sente falta do dinheiro que só entra através da nossa atividade. Se não trabalhar, começa a faltar coisas no armário e os boletos aglomeram”, lamenta.
Para voltar à clínica de maneira segura, ela buscou se informar por meio de orientações que o Sebrae forneceu a comércios abertos de outras cidades menos atingidas pela pandemia. Como trabalha em uma área de estética que requer higiene, já usava touca, luva, máscara de rosto e esterilizava os aparelhos. Por conta do novo cenário, redobrou os antigos cuidados e incluiu novos: oferece sapatilhas descartáveis a quem entra, troca a máscara a cada atendimento e usa um visor.
Nos primeiros dias da reabertura, houve queda de 80% de clientes. De acordo com a depiladora, muitos a contataram enquanto a clínica estava fechada. Ao longo das semanas, a queda diminuiu para 60%. Para oferecer segurança a sua clientela e a si mesma, Aparecyda mudou toda a sua agenda: reduziu os dias e horários de atendimento. Agora, atende apenas duas vezes na semana e em horários com intervalos longos entre um cliente e outro para poder higienizar o local de forma adequada e não permitir que se esbarrem na recepção. “Houve uma perda grande porque você não tem a rotatividade da clientela como era antes. Tem cliente que ainda não sabe como estamos nos protegendo durante o atendimento e acha que vai ser atendido sem as proteções necessárias. Tem medo com razão”, diz.
Mãe de filho asmático, que se enquadra no grupo de risco, também precisou mudar sua rotina dentro de casa. Quando chega do trabalho, lava as mãos, limpa a sola do sapato, toma banho e coloca as roupas que usou para lavar. Depois de toda a higienização, finalmente cumprimenta seu filho que a espera isolado em outro cômodo.
Aparecyda fez o cadastro do Auxílio Emergencial de R$ 600,00, que foi aprovado. Além de ter que pagar as contas, o gasto com produtos descartáveis também aumentou. “Economicamente está me afetando muito e o retorno não é o mesmo porque muita gente acaba não vindo”. Ela investiu todo o dinheiro que havia guardado em seu negócio: “Eu tenho que escolher o tempo todo o que é prioridade para eu gastar”.
“Já perdemos 2020”, desabafa a microempreendedora. Para ela, a situação só vai ser normalizada com uma vacina. Mesmo assim, deseja com otimismo que o comércio volte a funcionar com conscientização por meio do uso da máscara facial, distanciamento e higienização nos locais.