Muito mais que um bichinho: adoção é uma responsabilidade para a vida - Revista Esquinas

Muito mais que um bichinho: adoção é uma responsabilidade para a vida

Por Bianca Queiroz e Mariana Torezan : julho 29, 2022

Feira de adoção de animais no Shopping Galleria Campinas.

A pandemia causou um aumento no número de animais adotados, porém a “volta à vida normal” fez eles retornarem às ruas e ONGs reforçam atuação no resgate

No sábado, dia 11 de junho, de manhã o estacionamento do Shopping Galleria – em Campinas, interior de São Paulo – estava praticamente vazio. Ventava bastante, e naquela ampla área, geralmente preenchida ao máximo com carros, estava montada uma feira de adoção de animais. Quem organiza é o GAVAA: Grupo de Apoio Voluntário aos Animais Abandonados, entidade que nasceu em julho de 2008, com o objetivo de conseguir um lar para os animais que são resgatados em Campinas e regiões próximas.

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Feira impulsiona a adoção de animais resgatados em Campinas.
Mariana Torezan

Não são poucos os animais abandonados, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam 30 milhões de animais abandonados no Brasil, sendo 20 milhões de cachorros e 10 milhões de gatos. Os motivos para abandono são dos mais variados, desde falta de espaço até o fato do animal exigir atenção, e isso ocorre porque muitas pessoas que compram ou adotam animais não percebem o tamanho da responsabilidade que é ter que cuidar de um bichinho.

O GAVAA trabalha com cerca de 100 animais, e precisa que ocorram adoções para que mais possam ser resgatados, uma vez que o espaço e os recursos são limitados. Mas nem todos os animais são adotados rapidamente. Angela Silveira, coordenadora e diretora da entidade, traz detalhes.

“Temos os cães mais difíceis de [conseguir] doar: velhinhos, com problemas físicos, atropelados, de grande porte. Mas são as melhores adoções que a gente tem. Pessoas que adotam o animal assim – idoso, debilitado – sabem que eles têm menos chances de serem adotados. Sempre é uma pessoa de coração enorme que está fazendo uma adoção dessa. Disponibilizando o seu tempo e dinheiro, porque eles têm um custo maior.”

O processo de adoção não é simples. Para começar, apenas maiores de 21 anos podem adotar um animalzinho. Os grupos que organizam esses eventos têm páginas na web, nas quais é possível a adoção, e também têm sua própria forma de verificar quem está apto a adotar. A diretora do GAVAA, traz mais detalhes sobre o processo: “Precisa preencher um questionário, e nós analisamos para ver se a pessoa tem condição de adotar, verificamos se é uma adoção consciente. A gente não adota para qualquer um que chega, a gente não resgata para ficar na mão de quem não tem responsabilidade.” Depois, a entidade instrui e faz acompanhamento, além de ter a liberdade de fazer visitas esporádicas. “Inclusive, [temos o direito] de retirar o animal, se percebemos que ele não está em boas condições no lar ao qual ele foi levado.”

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Histórias de adoção

A jornalista Valentina Rosa, que adotou o Chico pelo site Amigo Não se Compra, contou como foi o processo. “Olhando o site apareceram dois cachorrinhos, uma fêmea e um macho que estavam sendo adotados separadamente. Eu na hora me apaixonei pelo macho, ele era todo pretinho, muito bonitinho, um amor. Mandei mensagem para o contato que estava no site, falando que queria adotar o macho. Ela me respondeu e falou que eu precisava responder um questionário. Perguntava várias coisas, como era a sua casa, se você ia sair pra passear, enfim, perguntas comuns de quando você vai adotar cachorro. Eu respondi e não passou nem uma hora ela falou que o cachorro era meu e que vinha na minha casa entregar no dia seguinte.”

Valentina também contou como foi o primeiro contato com seu cachorrinho: “O Chico tinha só trinta dias, eu estava à procura de um cachorro mais velho, porque eu tinha medo dele crescer muito e acabei adotando um cachorro de trinta dias. Foi uma loucura, ele era muito pequenininho, ele cabia na palma da nossa mão, a pata dele era pequenininha, ele era todo mini.”

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Chico filhote.
Valentina Rosa

Já Pedro Bridi, funcionário de um banco digital e dono da Pandora, uma vira-lata caramelo filhote, teve outra experiência. “Eu adotei dia 10 de abril, na feirinha de adoção em Atibaia, na Cobasi do centro. Eu moro em uma casa com o meu namorado. Nós já tínhamos vontade de adotar, mas morávamos em apartamento. Assim que mudamos para uma casa, uma das primeiras coisas que fizemos foi adotar. Eu não sou contra comprar, mas a gente tinha esse sonho de realmente resgatar [um animal].”

No caso de Pedro, ele não poderia estar mais feliz e orgulhoso de como Pandora se adaptou: “Ela chegou muito assustada, tremia muito, nos primeiros quatro, cinco dias ela não fazia cocô direito, não comia. Nós a levamos no veterinário, o exame de sangue dela estava todo alterado, nós cuidamos disso. Hoje, ela é muito agitada, corre, brinca, está na fase de morder tudo por causa dos dentes. Ela se transformou nesses últimos dois meses, está bem espoleta.”

Mas por mais que as ONGs tentem ao máximo permitir a adoção dos animais somente para pessoas conscientes e capazes de cuidar deles, nem sempre é possível. Segundo Rosangela Gebara, gerente de projetos da Ampara Animal, ONG parceira da Cobasi, o índice de abandono e de recolhimento de animais aumentou, em média, 61% de julho de 2020 até o terceiro trimestre de 2021. A coordenadora do GAVAA também percebe essa realidade. “No mês sempre tem um ou dois [animais] que são devolvidos. Tem gente que pega filhote e devolve [quando é] adulto. O animal sente muito, fica esperando o dono voltar e isso é sempre muito difícil. Causa um trauma no animal.”

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Téo, um dos animais que estava na feira de adoção e já tinha sido devolvido duas vezes
Mariana Torezan

Angela Silveira também falou sobre como é trabalhar com os voluntários – toda a equipe do GAVAA oferece seu tempo voluntariamente, alguns inclusive oferecem a própria casa como moradia temporária para alguns animais. “A gente compartilha esse feeling de ter esse amor pelos animais e disponibilizar o seu tempo também para a causa. É muito gratificante fazer essa atividade social, não é só visando os animais, mas o bem-estar do ser humano, também. Não é bom para esses animais ficarem na rua e serem maltratados.”

“O amor pelos animais não depende de muito”, afirmou Angela ao final da entrevista, e são para essas casas que as ONGs sempre vão buscar mandar os animais.

Editado por Anna Casiraghi

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