Para adocicar o momento amargo, vendedores de chocolate reinventam seus negócios na pandemia - Revista Esquinas

Para adocicar o momento amargo, vendedores de chocolate reinventam seus negócios na pandemia

Por Lucas Cavallini e Maria Clara Vaiano : junho 16, 2021

As consequeências financeiras no mundo dos chocolates afetaram de forma diferente Nicolas Arruga, que tem um empreendimento de brownies no Instagram, e Mônica Barbosa, dona de uma loja Cacau Brasil

Diante de tantas dificuldades trazidas pela pandemia, que conta com mais de 3 milhões de mortos ao redor do mundo, a busca por algo para adocicar a vida cresceu. Segundo a ConVid, pesquisa de comportamento conduzida por uma parceria entre Fiocruz, Unicamp e UFMG, o consumo de chocolates cresceu, em 2020, 63% entre jovens de 18 a 24 anos em comparação com o ano anterior.

Tendência no ramo, o número de confeitarias virtuais no Instagram vem crescendo e se popularizando com tamanha demanda. Assim, a arte de fazer doces e chocolates como hobby passou a ser vista como uma oportunidade de empreender.

Brownie Rocks

Foi o caso de Nicolas Arruga, de 18 anos. Criado como fonte de renda pessoal para pagar estudos no exterior, o Brownie Rocks tem sido um aprendizado. “Como uma pessoa que nunca fez curso de administração, economia e tudo mais, também nem sabia mexer em Excel, eu acabei tendo um começo complicado por não conseguir me organizar direito. Às vezes, ia no mercado e comprava mais manteiga do que devia, por exemplo”. Encontrar um nicho também foi um desafio.

Como o próprio nome sugere, Nicolas se concentrou nos brownies e conta que recebeu uma resposta muito rápida dos consumidores, vendendo uma quantidade muito maior do que esperava nos primeiros meses. “De março a agosto do ano passado, eu vendi muito, porque ninguém saia de casa e muita gente queria doce. Muitos clientes disseram que sentiam algo como uma ansiedade alimentar, uma demanda maior por açúcar.”

Nicolas afirma que quando as medidas de isolamento social foram relaxadas, o fluxo caiu, porque as pessoas sentiam-se mais seguras para irem às suas confeitarias favoritas e comprarem seus doces em primeira mão. Mesmo com ganhos menores, a iniciativa deu certo, o que exigiu um pouco mais de organização. “Eu também não anotava muito bem meus lucros e dividendos, então o Brownie Rocks só começou a render algum lucro de verdade lá pelo terceiro, quarto mês”.

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Chocolates Brasil Cacau

A história foi bem diferente para quem vende chocolate em lojas físicas. Mônica Barbosa Rocha, 46, dona de umas das unidades da franquia Chocolates Brasil Cacau, em Perdizes, relembra a preocupação com o início da fase vermelha, a de maiores restrições: “Foi surreal para mim, eu fiquei duas noites sem dormir quando tudo começou”

Mesmo com a sensação de que o fechamento de sua loja poderia romper laços com a clientela, Mônica acredita que não sofreu tantos prejuízos financeiros por dois motivos. Um deles foi o aumento do “ticket médio”, ou seja, pessoas que passavam na loja para comprar uma trufa ou um bombom antes da pandemia começaram a comprar em maior número para passar o mês. O outro foi ter conseguido um quiosque no Hospital Israelita Albert Einstein: “A melhor coisa que fizemos”. Os funcionários do hospital, que são quase 10 mil, formam a clientela do quiosque.

Mesmo que não tenha sofrido tanto quanto ela imaginava, Mônica cortou custos para contornar a crise. Houve mudança de salão, uma vez que o custo do aluguel aumentou, “mas não precisei demitir nenhuma empregada”, afirma.

Ainda assim, foi difícil lucrar em 2020, muito por conta do baixo volume de compras individuais e empresariais, como ovos de Páscoa e bombons comemorativos. Além disso, houve o desconto oferecido ao consumidor final pelo Grupo CRM (detentor das marcas Kopenhagen e Chocolates Brasil Cacau) durante a temporada de Páscoa. “Foi uma promoção de pague 2 e leve 3, ou seja, não tivemos lucro algum porque nosso lucro é 40 % e teve um desconto de 33 % pro cliente”, explica Mônica.

Delivery

O delivery foi um capítulo à parte para ambos os empreendedores do ramo de chocolates. Mônica optou por uma solução própria. “Eu passei em cada prédio aqui em Perdizes entregando panfletos nas portarias com contatos do WhatsApp”. Já Nicolas enfrentou dificuldades pela ausência de regularização da produção. “Sem CNPJ, fica impossível de os aplicativos de delivery prestarem serviços. Por causa desse problema, eu ainda tenho que usar métodos de entrega como o Uber Flash, que me custa uma viagem inteira, coisa de 20 ou 30 reais dependendo de onde o comprador mora”, relata.

Mesmo com suas dificuldades individuais, os dois empreendedores encontraram saídas nas datas de 2021 para continuar vendendo, como a Páscoa, um feriado conhecido por ter uma importância quase tão grande como o Natal para o setor.

Do lado de Mônica, por mais que tenha se arriscado bastante ao encomendar uma quantidade de ovos parecida com a do ano passado, o resultado foi ótimo: em dois dias, ela vendeu todo seu estoque precisando recorrer a mais produtos da distribuidora. “Foi um ano que, ao contrário do ano passado, as empresas aderiram muito a compras corporativas, o que agrega bastante nas vendas”.

O desfecho foi o mesmo para Nicolas, que investiu em ovos recheados com os sabores de seus próprios brownies. “Deu super certo”, comemora, “acabei superando o meu faturamento daqueles primeiros meses de 2020 e ainda dobrei meu alcance, vendi mais de setenta ovos e tive um retorno muito positivo da maioria dos meus clientes”.

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