10 anos da libertação: relembre a trajetória do Corinthians na Libertadores de 2012 - Revista Esquinas

10 anos da libertação: relembre a trajetória do Corinthians na Libertadores de 2012

Por Sarah Campos Silva e Guilherme Agrella : julho 4, 2022

Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians

A famosa fiel torcida do Corinthians pôde comemorar no dia 4 de Julho o título de Campeão da Copa Libertadores da América pela primeira vez na história do clube e de forma invicta.

O ano de 2012 ficou marcado por diversos movimentos históricos, míticos e conquistas importantes. O denominado “ano do final do mundo”, segundo a interpretação da profecia Maia, entrou para sempre na memória de cerca de 30 milhões de apaixonados pelo Corinthians como o “ano da libertação” após o título da libertadores.

Retrospecto

Até aquele ano, o time havia disputado 11 vezes a competição e seus melhores resultados haviam sido as oitavas de finais, com únicas exceções aos anos de 1999, quando foi às quartas, e 2000, alcançando as semis. Em ambas o alvinegro acabou perdendo para seu arquirrival Palmeiras nos pênaltis.

A escalada de 2012 

Após queda para a Série B do Campeonato Brasileiro em 2007, o Corinthians passou por uma grande reestruturação em praticamente todos os departamentos do clube. Assim, obteve sucesso nos anos seguintes, nos quais conquistou importantes objetivos, como o acesso à Série A e os títulos do Paulista (2009) e Copa do Brasil (2009). Então, no ano de 2011, o Timão se sagrou campeão brasilero, o quinto título da competição de sua história até então, garantindo desta forma sua vaga na Libertadores do ano seguinte, 2012.

No torneio intercontinental, o time ficou no grupo 6, ao lado de Cruz Azul, do México, Nacional, do Paraguai e Deportivo Táchira, da Venezuela. Em sua estreia na temporada daquele ano, um gol ficou extremamente marcado. O volante Ralf marcou contra o Deportivo Táchira no último lance da partida, e os nossos entrevistados comentaram sobre a emoção daquele gol.

“O Ralf é um cara que sempre que vestiu a camisa do Corinthians, foi, para mim, o cara que representou o Corinthians. Eu acho que o gol dele de cabeça no final, lá contra o Táchira, me marcou muito, mesmo sendo só o início da caminhada. Tinha todo o estigma de que o Corinthians em Libertadores era complicado e tudo mais… e naquele final de jogo, Ralf vai lá e empata de cabeça, um cara improvável, que foi de poucos gols do Corinthians. Ali parece que, olhando agora depois da campanha, era meio que uma mensagem. Dessa vez não. Dessa vez não vai acontecer. Não vão acontecer coisas erradas. Vai ser tudo como tem que ser.”

Marcelo Becker, do portal Meu Timão.

 

“E eu lembro. meu filho falou ‘não, pai, o senhor não me falou que corintiano fica até o fim? Eu vou ficar até o fim!’. Falou ‘dá a mão aqui nesse último cruzamento que o Coringão vai empatar’. A gente assistiu de mão dada, na frente da TV, e saiu o gol do Ralf”.

Jornalista e professor Celso Unzelte sobre este jogo que assistiu com seu filho.

Então, o Coringão encerrou a fase de grupos em primeiro lugar, com 14 pontos. Timão classificado às oitavas: primeiro desafio concluído.

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As Oitavas e as quartas

Nas oitavas de final, a equipe enfrentou o Emelec e garantiu a classificação para às quartas ao superar o time equatoriano na segunda partida por 3×0 no estádio do Pacaembu. Já na fase seguinte, o alvinegro paulista superou o Vasco da Gama por 1×0, também no segundo jogo. Este confronto ficou marcado pela defesa do goleiro Cássio com a ponta dos dedos, em chute do atacante Diego Souza, e pelo gol antológico do camisa 8, Paulinho, que subiu mais que todo mundo na cobrança de escanteio e colocou o Timão entre os quatro melhores da competição depois de 12 anos.

As Semifinais

Na semifinal, outro brasileiro apareceu no caminho do Corinthians: o Santos de Neymar. Porém, a equipe santista foi derrotada pelo Coringão em plena Vila Belmiro no primeiro jogo e somente empatou a partida de volta. Corinthians classificado.

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Danilo empata o jogo contra o Santos no Pacaembu e classifica o Corinthians à final.
Reprodução / OneFootball

A grande final

“O Corinthians chega à final da Libertadores da América tendo sofrido apenas um gol no mata-mata. Um gol do Neymar embaixo da trave na semi contra o Santos. Então era uma apreensão por estar num lugar que nunca havia estado, por não querer que aquela chance fosse desperdiçada. Mas, ao mesmo tempo, uma confiança muito grande no que estava sendo feito. Eu, pelo menos, tinha convicção que o Corinthians era um time muito maduro, muito pronto para ganhar a Libertadores. Claro que do outro lado tinha um time muito cascudo. Mas eu confiava muito, viu? Vou falar a verdade para vocês. Eu não estava naquela de ‘não sei se vai dar’”.

Marcelo Becker

 

“Eu tenho uma amiga que não acompanha normalmente futebol, que é jornalista. Cristiane Segatto, uma jornalista muito importante da área de saúde. E eu lembro que a Cris perguntou para o marido dela: ‘mas é a primeira vez que um time brasileiro chega em final de Libertadores?’,  porque ela viu uma comoção geral do país. E o marido falou: ‘não, tem muito brasileiro que chegou em final, até muitas vezes… é que é a primeira vez que o Corinthians chega’. Durante o dia só se falava disso. Tanto no jogo da Bombonera quanto no jogo daqui, mas principalmente no jogo daqui.”.

Celso Unzelte

O time do Corinthians possui uma torcida extremamente numerosa e a movimentação dos alvinegros foi vista em todo o globo. “A noite mágica em que o Corinthians foi campeão fez tremer Jacareí, o centro foi tomado pela torcida eufórica por uma conquista inédita, assim como ocorreu por todo Brasil, onde tem um bando de loucos”, revelou Matheus Falchione, estudante de Educação Física.

Becker, que morava no sul do país na época, revelou que grande parte das pessoas estava torcendo contra a conquista alvinegra: “Estava todo mundo torcendo contra, uma cidade absolutamente dominada por gremistas e colorados. Eu e mais alguns poucos corintianos lá e, de resto, todo mundo torcendo contra. E a lógica é sempre essa. Quem gosta do Corinthians são os corintianos, o resto todo mundo odeia. Então era aquele discurso absolutamente contrário, dizendo que não ia dar. “

Quando o título de fato se concretizou, o clima se assemelhava à alguma vitória importante do Brasil na Copa do Mundo, como nos contou Celso: “Se você entrar no YouTube, você vai ver que teve uma pessoa que, na hora que o Corinthians é campeão da Libertadores, ela vai com o celular e filma da janela do prédio dela, no centro da cidade, e dá uma panorâmica dos fogos. Foi uma Copa do Mundo mesmo nas ruas, as pessoas saíram com bandeiras”.

Mas o que a conquista representou para o clube? Nas palavras de Marcelo, foi a libertação. “O Corinthians ali se libertou de todas as travas que pudessem existir”. Já para Matheus, “era um título inédito, foram quase 102 anos até que a América fosse alvinegra paulista, e da forma que foi, após uma tremenda reconstrução, o título trazia para a torcida Corinthiana a ideia de que o clube havia saído do fundo do poço e agora caminhava em direção ao topo do mundo”.

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Celso Unzelte revelou que, na noite da conquista, cobriu seu filho com o pôster da equipe campeã.
Arquivo Pessoal / Celso Unzelte

O Corinthians pós libertadores

No fim do mesmo ano, em Dezembro, o Timão viajou ao Japão para a disputa do Mundial de Clubes após conquista da América. Sagrou-se campeão contra o Chelsea e o Time do Povo fez história ao ser um dos únicos campeões do mundo fora da Europa e pela invasão da Fiel torcida corintiana ao país do outro lado do mundo.

Torcida corinthiana enchendo o estádio de Yokohama, no Mundial de Clubes do Japão.
Reprodução / Meu Timão

Apesar dos títulos de 2012, o Corinthians nunca avançou além das oitavas na competição. Foram cinco participações, com quatro eliminações na primeira fase do mata-mata e uma no estágio pré-grupos. Mas por que será que o clube não alcançou uma final novamente?

Na opinião de Falchione, “faltou uma continuidade de gestão obviamente sólida. O clube sofreu algumas más gestões, perdeu peças importantes… mas ouso dizer que antes de tudo, faltou a COMENMBOL escalar outro árbitro a não ser Carlos Amarilla em 2013, ou ao menos eliminar o Boca e classificar o Corinthians por respeito ao clube alvinegro naquela lambança promovida pela arbitragem na volta das oitavas da libertadores. Se o clube avançasse, ouso dizer que seria bicampeão”.

Agora, em 2022, o Corinthians busca reencontrar o caminho do sucesso. Com o técnico português, Vitor Pereira, e elenco montado pelo presidente, Duílio Monteiro Alves, o clube alvinegro une forças para conquistar o bicampeonato da Libertadores e, se assim o fizer, o tri do Mundial de Clubes.

Editado por Pedro Moreira

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