Em entrevista à Factual900, a atleta de wrestling Aline Silva e a jornalista Giovana Pinheiro, do Olimpíada Todo Dia, falam sobre as imprevisibilidades dos Jogos Olímpicos de 2021
No começo do ano, em Ottawa, no Canadá, Aline Silva, atleta de wrestling, conquistou sua vaga para Tóquio 2020. A lutadora carimbou o passaporte após chegar na final da Seletiva Olímpica Pan-Americana, derrotando grandes nomes do esporte, como a cubana Milaymis Marín, medalhista de ouro no Mundial Juvenil de Luta, e a colombiana Andrea Olaya, medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Lima de 2019.
Ao chegar de volta ao Brasil, Aline se deparou com uma situação de calamidade e caos promovida pelo novo coronavírus e o crescimento constante no número de casos no País. “Cheguei no fechamento total de São Paulo. Em um primeiro momento, fiquei sem fazer nada, sem ir à academia”, explicou a atleta, que também contou como deveriam ser os próximos meses antecedendo os jogos. “Eu tinha acabado de ser classificada e, normalmente, depois de se classificar, tem uma pequena baixa de treinos, porque as Olimpíadas já estavam ali, praticamente. Eu também já tinha outras competições planejadas antes”.
Treinamento adaptado
Com o adiamento dos jogos confirmado em 24 de março, Aline começou a se replanejar e teve que ficar um tempo sem treinar. “Eu fiquei mais de um mês parada e, quando voltei, já fui para a academia”, lembra. A atleta conta que não chegou a praticar em casa, pois não teria muito espaço em seu apartamento. E, apesar de estar se exercitando desde abril, ainda não voltou a lutar: “Desde quando eu retornei aos treinos, só voltei a fazer musculação. Desde março eu não faço luta”.
Ela explicou que essa foi uma opção pessoal, pois não se sentia segura em praticar um esporte de tanto contato como a luta olímpica, mesmo que muitas atletas do wrestling tenham voltado a treinar já há um tempo. “Eu não voltei por uma opção, porque eu não me sinto segura. Não só comigo, mas também em transmitir para as pessoas, então decidi, realmente, manter só a musculação até que eu me sentisse segura para voltar, porque o wrestling é muito contato, né?” Aline ainda não tem uma data oficial para retomar os treinos com luta, mas ela acredita que em novembro já deve retornar.
Apesar de todas as adversidades que o ciclo olímpico sofreu, a atleta diz que se mantém confiante para a sua segunda Olimpíada [a primeira foi a Rio 2016]: “A questão de confiança é um estado mental que atleta de nível olímpico acaba tendo, porque se você não tiver uma certa estabilidade na sua confiança é um pouco complicado”.
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Imprevisibilidade dos Jogos Olímpicos
Apesar de todo o treinamento adaptado que atletas como a Aline estão fazendo visando as Olimpíadas em 2021, ainda não é certo se a data será de fato mantida. Giovana Pinheiro, jornalista do Olimpíada Todo Dia, vem acompanhando os bastidores dos jogos e diz ter uma visão otimista quanto à realização do evento. Mas ainda há muitas dúvidas no ar: “Ainda existem algumas perguntas de como será, mas hoje a gente vê um cenário bem mais otimista do que já foi. São muitas incógnitas ainda”. Alguns dos pontos de interrogação são a respeito de presença de público, imprensa, como será a vida na Vila Olímpica e, é claro, se realmente o evento acontecerá como planejado.
Giovana também conta que, por conta de cada país se comportar de um jeito na pandemia e de cada atleta adaptar seus treinos da forma que melhor lhe convém, os desempenhos são ainda mais difíceis de prever. “Vai ser um pouco imprevisível o resultado, porque cada país voltou [aos treinos] de um jeito, lidou com a situação de um jeito. Aline, por exemplo, estava com a vaga, mas tem muito atleta que ainda não está com a vaga. Tem essa questão de voltar calendário para os atletas conseguirem buscar a vaga, mas eu acho que as coisas estão voltando”.
Aline quer que os jogos aconteçam independentemente da presença de público ou de qualquer medida que o Comitê Olímpico Internacional adote. “Já ouvi uma pessoa falando: ‘Não faz sentido algum fazer Olimpíada sem plateia porque o objetivo é o show do esporte, da capacidade humana’. E faz sentido. Mas pensando no meu lado atleta, eu posso estar em um dos meus últimos ciclos [olímpicos] e seria um desrespeito com os atletas que se prepararam por quatro anos da sua vida”, pontua. “Se der para participar sem plateia e transmitir via televisão e deixar a gente fazer o que a gente dedicou a vida por quatro anos para fazer, que seja assim”.
Ouça o podcast da Factual900 sobre o adiamento dos Jogos Paralímpicos.