Um feito inédito: como estudantes da Universidade Federal do ABC conseguiram ganhar o prêmio de melhor foguete na maior competição acadêmica do mundo?
O torneio Mundial do International Rocket Engineering Competition (IREC), organizado pela Experimental Sounding Rocket Association (ESRA), que ocorreu entre os dias 9 e 14 de junho de 2025, no estado do Texas, teve um marco diferenciado entre os ganhadores da modalidade de 10 mil pés: um time brasileiro. No calor de 40 graus do dia 11 de junho de 2025, parte do time da UFABC Rocket Design aguardava o lançamento do projeto, que logo seria conhecido pelo Brasil como o foguete Aracê – termo do tupi-guarani que traz o significado da beleza de um novo ciclo.
Como tudo começou
No Brasil, o restante da equipe aguardava ansiosamente o resultado dessa competição. Será que a decolagem e o pouso seriam dignos do pódio? O projeto Aracê, iniciado em 2024, contou com uma equipe de cerca de 120 integrantes que passou meses planejando, construindo e aguardando por esse importante momento. Os 25 integrantes que embarcaram na viagem para os Estados Unidos tinham uma grande missão pela frente: não falhar. O professor Cesar Freire, coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial da UFABC, afirma a preparação da equipe: o simulador que foi desenvolvido pela equipe já previa alterações climáticas e as diversas condições de voo para o lançamento do foguete. Como previsto pelo software, o desempenho do projeto brasileiro atingiu cerca de 99,5% de precisão, o foguete e à sua carga útil, o satélite Caipora-Amanã, - que carregou dez sementes de grão-de-bico OGM fornecidas pela Embrapa – aterrissaram sem danos. O professor relata:
Após o pouso do foguete, e a recuperação dos dois paraquedas, a equipe técnica avaliou as condições físicas do foguete e informaram que se quiséssemos, ele poderia ser lançado novamente
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Uma vitória inesperada
Dois dias após o lançamento do Aracê, chegava a hora mais esperada da viagem: descobrir os ganhadores da modalidade disputada pela equipe brasileira. O segundo e o terceiro lugar, respectivamente, foram preenchidos por universidades estrangeiras. Vinha então a primeira colocação na maior disputa acadêmica de foguetes do mundo. Foi anunciada a vitória: “the winner is Team 302, Federal University of ABC”. Lucas Alvares, estudante da UFABC e atual capitão da equipe, ouviu o anúncio e confessou que, nesse momento, eles não acreditavam “fomos à loucura!”.
Para o estudante Lucas, chegar nesse momento só foi possível graças ao trabalho em equipe.
A união do pessoal foi muito importante, todo mundo tinha a mesma missão.
O foguete Aracê, assim como o simulador de voo, foram totalmente desenvolvidos pelos alunos da universidade pública, abrangendo propulsão, aerodinâmica, estruturas, sistemas de recuperação e integração. Cesar confirma:
“os alunos aplicaram os conhecimentos das aulas que tiveram no desenvolvimento de todo o projeto, com muita autonomia.”
Além disso, o grupo conta com estudantes de diversos cursos da universidade que cooperam com múltiplos conhecimentos: “o maior diferencial desse time é ser um time sólido, sem tanta rotatividade de membros e com setores bem-organizados”, complementa o coordenador do curso.
15 anos de experiência e a sede por vitória
Apesar da competição internacional ter sido, em grande parte, contra universidades americanas, chinesas e até mesmo europeias — que recebem grandes subsídios para empreendimentos acadêmicos como foguetes e satélites —, a precisão alçada pelo foguete brasileiro foi um feito inédito: “eles competiram com foguetes que custaram mais de 100 mil dólares”, complementa o professor.
Engana-se quem pensa que essa vitória foi sorte do acaso. A equipe de foguete modelismo nasceu em janeiro de 2010. Hoje, com 15 anos, carrega a expertise de desenvolver projetos como o Aracê. Para tornar possível o desenvolvimento de projetos tecnológicos, a equipe conta com o apoio de empresas parceiras para adquirir as ferramentas adequadas para os grandes desenvolvimentos.
Palloma Antunes, estudante de Biologia e Neurociência da UFABC, participa do projeto de iniciação científica e extensão e, atualmente, integra a parte de mídias sociais. Para a estudante Palloma, tem sido importante esse reconhecimento do grupo para adquirir novas parcerias e patrocínio para o grupo, já que, hoje, os recursos recebidos para o desenvolvimento de projetos similares ao Aracê são inferiores aos gastos necessários. Já para o capitão do time, vencer a competição com o projeto Aracê traz grandes perspectivas para o futuro:
Agora a meta é trazer mais medalhas pra casa.