A ideia do manifesto lançado pela Revista “Rozzeira” é que o Estádio do Pacaembu se torne a casa do futebol feminino da cidade de São Paulo
A revista Rozzeira, reconhecida por ser a primeira revista de futebol feminino do Brasil, lançou um manifesto na tarde do dia 10 de março chamado “O Pacaembu Delas”. O objetivo é que o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho seja a casa do futebol feminino de São Paulo. A ideia surgiu a partir da candidatura da capital paulista para sediar a próxima Copa do Mundo Feminina, que acontecerá em 2027.
A revista alega que essa ação seria uma reparação histórica, pois “foi em uma partida entre mulheres na inauguração do Estádio do Pacaembu que aconteceu uma revolta machista e conservadora contra a presença da mulher no futebol, que culminou na criação de uma lei que as impediu de praticar o esporte”. Essa lei citada é na verdade o decreto-lei número 3199 , assinado pelo então presidente Getúlio Vargas em 14 de abril de 1941. Segundo o decreto, “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.
A exigência ficou válida até 1983 e atrasou em quarenta anos o desenvolvimento da prática do futebol feminino, que sofre consequências até os dias de hoje, como a falta de patrocinadores e pouco incentivo. Ainda de acordo com a revista, esse é um desafio às forças-tarefa e aos novos administradores do Estádio para provarem seu compromisso com a história e, principalmente, com a modalidade.
Além disso, o Pacaembu já foi sede de alguns jogos do futebol feminino, como a partida Corinthians X Flamengo em 2019, válido pelo Campeonato Brasileirão Feminino, e São Paulo X Palmeiras, também pelo Brasileirão, na série A-2. O Estádio já serviu de casa para a Seleção Brasileira Feminina, que enfrentou a Argentina em 2019.
Ter o icônico Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho como o epicentro do Futebol Feminino auxilia, por exemplo, na integração das pessoas da capital com o futebol feminino, uma vez que muitas equipes profissionais são obrigadas a jogar em outras cidades. O manifesto também entende que o Pacaembu pode servir como espaço para projetos sociais que acolhem jovens periféricas.
Jay Oliveira, diretora de conteúdo da Rozzeira e Cláudio Campos, diretor executivo da revista, contam que o manifesto partiu de três motivações: pela questão histórica em relação à proibição; o fato de muitos clubes que são potências da categoria necessitam jogar fora do estádio dos seus times pois estão “abaixo” de outras categorias; e por conta de um legado que será construído. “Não pode surgir um esforço para sediar um mundial sem ter um planejamento de legado que ficará para a cidade”. Os diretores ainda revelaram que a nova administração do estádio respondeu positivamente ao manifesto. Eles explicam também que a revista considera positiva a Copa do Mundo Feminina acontecer no Brasil, mas alertam, “temos estrutura e as grandes cidades já se manifestaram que querem sediar, mas o que realmente preocupa é o que faremos pela modalidade além da Copa do Mundo.”
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Para Taylor Vaz, estudante de letras e assinante do manifesto, a petição pode gerar bons frutos para a modalidade, pois muitas pessoas irão acompanhar mais o futebol feminino, o que ajuda na quebra do preconceito em relação às atletas. O estudante também vê com bons olhos a Copa do Mundo Feminina em solo brasileiro:
“A Copa do Mundo Feminina no Brasil iria movimentar o turismo e a economia. Também iria tornar o futebol feminino mais conhecido, pois ainda existem muitas pessoas que não conhecem e possuem preconceito”.
Ainda de acordo com ele, o Brasil tem estrutura para receber o torneio por conta da crescente ascensão do futebol feminino e da recente quebra de recordes de público, “se já recebemos uma Olimpíada, por que não uma Copa do Mundo Feminina?”
O Brasil se candidatou para sediar a Copa do Mundo Feminina de 2027 e concorre com o trio formado por Canadá, México e Estados Unidos; com África do Sul, que recebeu a Copa do Mundo Masculina em 2010; e com o também trio Alemanha, Bélgica e Holanda. A FIFA definirá o país sede no dia 17 de maio de 2024.
Editado por Mariana Ribeiro
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