Superação, garra e vitória: trajetórias de medalhistas do Pan-Americano 2019 - Revista Esquinas

Superação, garra e vitória: trajetórias de medalhistas do Pan-Americano 2019

Por Lucas Saragiotto Marra, Lucas Souza Oliveira e Matheus Lorente Cabral Labourdette : outubro 30, 2023

Foto: Reprodução/Jonne Roriz (COB)

As medalhistas Pan-Americanas Milena Titoneli e Lena Guimarães contam suas experiências antes, durante e depois do Pan-Americano de 2019

A última edição do campeonato Pan-Americano aconteceu no ano de 2019 e teve como palco a cidade de Lima, Peru. Os Estados Unidos foram os campeões gerais da competição, conquistando 293 medalhas (120 de ouro, 88 de prata e 85 de bronze). O Brasil ficou em segundo lugar com um total de 171 medalhas sendo elas 55 de ouro, 45 de prata e 71 de bronze.

Com os Jogos Pan-Americanos de 2023, oficialmente denominados como XIX Jogos Pan-Americanos e coloquialmente Santiago 2023, sendo realizado entre 20 de outubro e 5 de novembro de 2023 na cidade de Santiago, capital do Chile, surge uma questão:

Por onde andam os medalhistas brasileiros dos últimos jogos Pan-Americanos?

Acompanhe a trajetória de duas medalhistas de ouro: Lena Ribeiro Guimarães, na modalidade stand-up paddle e Milena Titoneli, no Taekwondo. 

Lena Guimarães

Nascida em Niterói, hoje com 42 anos e dois filhos, Lena se divide entre o papel de mãe, atleta e professora universitária. Lena é formada em Educação Física e Nutrição.

A atleta sempre esteve envolvida com o esporte, curiosamente, entretanto, antes de se entregar ao oceano, seu terreno eram as quadras. Sua carreira esportiva começou no handebol, onde chegou à seleção brasileira sub-16 e fez parte do time do Vasco da Gama como profissional, conquistando o título de campeão brasileiro.

Após se afastar das quadras, Lena engravidou e parou de jogar. Decidiu morar em Arraial do Cabo, onde teve um maior contato com o surfe, já era um ambiente mais propício para sua prática. Lena, aos 30 anos, foi inspirada a praticar o SUP race (modalidade de Stand-up Paddle) por seu marido e treinador da seleção brasileira de Stand-up Paddle, Américo Pinheiro.

Começando como uma brincadeira, sua competitividade transformou sua empolgação com o novo esporte em títulos. Após participar de algumas provas,  sua primeira vitória chegou e a premiação foi de 700 reais, a partir daí Lena e seu marido passaram a investir em sua carreira.

Tal investimento foi bem recompensado, já que a brasileira acumula dois ouros no Pan-Americano de surf, conhecido como PASA (2017,2022) e um ouro nos Jogos Pan-Americanos (2019).

Além disso, a atleta é tricampeã brasileira de SUP, ganhou duas medalhas de ouro nos Jogos Sul-Americanos e ganhou 11 City Tours, prova de 220 km, com cinco dias de duração, onde os atletas passam navegando pelos canais fluviais de 11 cidades na Holanda. 

Superação e conquista no Pan-Americano

No período preparatório ao Pan, Lena teve todo seu equipamento roubado enquanto voltava de uma etapa do campeonato brasileiro de SUP race. Respondendo sobre o assalto, a atleta abriu o jogo dizendo que inevitavelmente foi uma situação de medo já que ela estava junto de seus filhos, mas que acabou não interferindo em sua preparação, pois tudo foi recuperado duas semanas depois do incidente.

Durante a competição, Lena trata o final da prova como o momento mais desafiador e comprova sua incrível capacidade de superação das adversidades:

“O mar estava muito complicado e nesse momento eu ultrapassei a americana que liderou a prova e fui campeã.”

Lena superou a americana Candice Appleby nas águas de Punta Rocas, no distrito de Punta Negra, em Lima, no Pan de 2019. A participação na competição já era um sonho realizado e com a medalha de ouro, se tornou ainda mais especial. Em suas palavras, foi o momento mais especial de sua carreira como atleta.

Futuro e visão sobre o esporte

“Estar no Pan 2019 era um sonho. E agora estou prestes a participar de mais uma edição dos Jogos Pan-Americanos com 42 anos”, Lena chega para esse Pan-Americano com uma bagagem muito grande, porém com uma idade mais avançada, o que pode impactar em seu rendimento.

“Também teremos atletas mais fortes nos Jogos Pan-Americanos 2023, creio que será uma competição ainda mais dura do que a de 2019”, completa.

A conquista da medalha de ouro leva o esporte para um novo patamar, “fora da nossa bolha, a imprensa, o público e potenciais patrocinadores passam a conhecer nossa modalidade” afirma a atleta. O incentivo que novos patrocínios trariam para a modalidade,  relativamente nova no cenário das grandes competições internacionais, seria essencial para a consolidação do esporte.

Além de maior reconhecimento para o esporte, a atleta espera que o SUP, assim como o surfe convencional, entre nos Jogos Olímpicos. 

Lena encerra deixando um conselho para aqueles que sonham em se tornar atletas de alto rendimento:

“Meu conselho para os jovens que querem seguir como atletas de alto rendimento é que não existe atalho, caminho fácil e rápido. As vitórias são conquistadas através de muito trabalho, dedicação, disciplina e renúncia, de forma constante dia após dia, por anos.’’

Milena Titoneli

Paulistana de 25 anos, natural de São Caetano do Sul, Milena Titoneli Guimarães teve seu primeiro contato com o Taekwondo em 2012, aos treze anos. Sua paixão pelo esporte foi tanta que ficava até tarde assistindo as lutas da medalhista olímpica Natália Falavigna, uma de suas maiores inspirações na profissão.

Os maiores torcedores sempre foram seus pais, mas no começo a mãe queria que a filha fizesse vôlei ou basquete e o pai ficava preocupado quando Milena chegava em casa machucada, porém sempre investiram na paixão dela pela luta. 

Em 2014, competiu nos Jogos Olímpicos da Juventude e em 2018, conquistou a medalha de bronze no Campeonato Pan-Americano em Spokane, nos Estados Unidos. Mas foi em 2019 que a atleta passou a ser reconhecida com conquistas ainda mais importantes. Milena conquistou a medalha de bronze no Campeonato Mundial, realizado em Manchester, na Inglaterra, e a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2019, se tornando a primeira brasileira da história a ser campeã na competição.

Naquele ano, a lutadora ainda ganharia o Prêmio Brasil Olímpico, por ser a melhor atleta de sua modalidade em evento organizado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) e seria eleita a melhor atleta do ano pela Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD), extremamente importante por dar um norte e apoio e estrutura para as competições, segundo a própria atleta.

Milena disputou os Jogos Olímpicos de 2020, realizados em 2021 em Tóquio, no Japão, e chegou até a disputa pela medalha de bronze, mas acabou derrotada pela marfinense Ruth Gbagbi. Em 2022, obteve o bronze no Campeonato Mundial em Guadalajara.

Campanha histórica

O Brasil fechou a sua melhor campanha na história do taekwondo em Jogos Pan-Americanos com a medalha de ouro de Milena Titoneli na categoria até 67 kg. A melhor campanha do Brasil no taekwondo havia sido nos Jogos do Rio, em 2007, quando conquistou um ouro, duas pratas e um bronze. Em Lima, no Peru, o país conquistou duas medalhas de ouro, duas de prata e três de bronze.

“Isso fez com que o taekwondo fosse um pouco mais conhecido, apesar de ainda ser uma luta diária que temos”, afirma Milena.

Ao ser questionada sobre quais os momentos mais marcantes do Pan, Milena explica que “todo jogo é uma experiência diferenciada, e pra mim o Pan ficou ainda mais marcado pelo fato de eu conquistar a medalha de ouro numa final tão emocionante com uma atleta como a Paige, que tem uma história incrível dentro do esporte”, mostrando a dificuldade da competição e sua capacidade de superar situações adversas, com a conquista por 9×8 conseguindo reverter o placar contra a favorita no fim da luta para uma medalha inédita em sua galeria de troféus.

VEJA MAIS EM ESQUINAS

Marcas de luxo saem da bolha e se aproximam de atletas de esportes populares

Copa do Mundo dos Sem Teto: a transformação social por meio do futebol

F4 Brasil: em seu segundo ano, campeonato promete revelar novos talentos

Próximos passos e perspectivas 

Após a conquista nos jogos, a vida de Milena mudou significativamente:

“Acredito que após a minha medalha de ouro pude confirmar que eu realmente tinha chances reais de ter grandes resultados na categoria. Foi um ano que mudou minha história porque conquistei o bronze no mundial e o ouro nos jogos, após isso acredito que pude mostrar mais do meu potencial e abrir portas para maiores resultados.”

Além disso, a lutadora reforça a importância do Pan Americano para o taekwondo: “São competições importantes em que apenas os atletas mais fortes da América estão presentes, então acredito que tenha uma importância ainda maior, pois se vc se destaca na América, tem mais chances de se destacar mundialmente e é um dos passos para alcançar o topo.”

Comentando sobre como foi possível conquistar títulos tão importantes, a atleta destacou a importância da CBTKD e como a mudança no comando da entidade foi importante para nortear os lutadores. Milena, apesar de não participar dos jogos de 2023, diz vir com tudo para cima do bi-campeonato em 2027, que ocorrerá na Colômbia. 

Pan-Americano de 2023

No cenário atual, 24 de outubro, o Brasil se encontra na 4º colocação do quadro de medalhas dos Jogos Pan Americanos de 2023, com 35 medalhas no total (7 de ouro,13 de prata, 15 de bronze). Atrás de Canadá (12 de ouro,15 de prata,13 de bronze), México (18 de ouro,10 de prata,12 de bronze) e Estados Unidos (41 de ouro, 20 de prata e 24 de bronze).

Editado por Mariana Ribeiro

Encontrou algum erro? Avise-nos.