Política, economia e fome abalam o Iêmen e obrigam cidadãos iemenitas a emigrar
O conflito já tem quase duas décadas e não há perspectiva para acabar. A chamada crise iemenita tem razões políticas e religiosas, data da virada do século e se intensificou na chamada Primavera Árabe de 2011. Na época, Ali Abdullah Saleh, então presidente do Iêmen, país localizado no Sul da Península da Arábia, foi deposto. Seu vice, Abd Rabbuh Mansour Hadi, assumiu o poder.
Logo no início de seu governo, Hadi enfrentou diversos problemas: ataques da Al Qaeda, movimentos separatistas no sul, onda de fome, corrupção – e o abalo pelo fato de grande parte do exército permanecer leal a Saleh. Nesse contexto, um movimento político-religioso radical, os Houthis, que defendia a minoria muçulmana xiita, se aproveita da debilidade do novo governo para conquistar a província de Saada e zonas próximas, com apoio de sunitas e iemenitas insatisfeitos com o governo, que já não dominava o território. Em meados de 2014, os Houthis tomam a capital Sanaã, forçando o exílio de Hadi.
Veja mais em ESQUINAS
“Nos sentimos abandonados”, diz casal de brasileiros repatriados da Namíbia
“Por aqui, é vida normal”: brasileira testemunha o sucesso da Nova Zelândia contra a covid-19
Essa história é pouco conhecida por aqui. “Tudo que não chama a atenção do Ocidente – entendido como Europa e Estados Unidos – ou de grandes potências como a China, acaba não virando matéria”, afirma Daniel Pereira, professor do canal História Online no Youtube. Segundo Daniel, fatores externos ajudam a explicar a extensão do conflito. O bloqueio imposto pela Arábia Saudita, por exemplo, impede que suprimentos cheguem à população. “Há temor de que os mantimentos parem nas mãos dos Houthis, fortalecendo-os”.
Internamente, a organização terrorista Al Qaeda se aproveita da fragilidade do povo para recrutar combatentes. A economia se encontra destroçada e um reerguimento seria apenas possível com apoio internacional ou de organizações como ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). Mais difícil, para Daniel, é fazer cessar a origem dos conflitos, baseados na instrumentalização política da fé. “Religião é política, eles utilizam religião como arma política”, afirma.
Para muitos iemenitas, a saída a um país em ruínas foi emigrar. Marwal Jameel al Wael, de 19 anos, mora em Toronto, no Canadá. Visitou o país ainda pequena, antes de o conflito se intensificar. Seus avós eram proprietários de uma pequena empresa na cidade de Sinah. “Se voltasse agora, a única coisa que veria seriam alguns tijolos no chão”, afirma. Para a adolescente, a comunidade internacional precisa olhar para o país e ajudar – doações são possíveis em organismos internacionais como a Cruz Vermelha. “As construções estão no chão, mas as pessoas ainda estão de pé”, finaliza.